‘Recebi nota da diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará cuja íntegra publico a seguir, em dois tópicos: ‘Em seus cinqüenta anos de existência, completados em maio último, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará pautou toda sua história pela dignidade, ética e honradez. E não seria agora que iria fugir a essas postulações. O Jornal O Povo, nos dias 16 e 19 últimos, publicou em seus editoriais afirmações acerca da utilização do auditório deste sindicato para a apresentação de Verônica Maria, membro da Crítica Radical. Os editoriais resolveram investir contra a entidade que, através de um ato legítimo, abriu suas portas para a elucidação do fato. Será o Jornal O Povo contra a realização de coletivas de imprensa? Teria, o citado jornal, tido outra interpretação caso a coletiva fosse convocada para sua redação ou algum outro local de suas dependências? Qual não foi nosso sobressalto quando no dia 22 deste, mais uma vez, o jornal, agora via ombudsman, utilizou a coluna que, hipoteticamente pertence ao leitor, para servir, de forma enviesada, como porta-voz dos interesses da empresa. O jornalista Guálter George tece ilações sobre o editorial e a nota de resposta do Sindicato, mas, contraditoriamente, não responde a nenhuma das afirmações feitas na nota oficial desta entidade. Seria para confundir o leitor? Seria para omitir verdades incontestáveis? Ou o jornalista, tão somente neste dia e nesta coluna, resolveu esquecer que era ombudsman e assumiu o papel de porta-voz da direção do jornal? Ao contrário do que alguns colegas pensam, os cargos são efêmeros, como a vida, logo passam e logo são esquecidos. A pessoa, no entanto, fica e, com ela, todo o seu passado e todas as suas ações’.
Ainda a ofensiva nota
Continua o texto que recebi e publico por uma decisão pessoal: ‘o jornalista Guálter George, em uma de suas muitas infelicidades, cita, coincidentemente com o mesmo tom e a mesma ênfase do editorial do dia 19, a falta de nível da argumentação da nota do Sindicato. Qual seria o nível desejado por este e aqueles senhores? Um nível oxfordiano? O nível da corte francesa do século XVIII? Ou seria o nível praticado pelo Jornal O Povo em que se referiu aos manifestantes com o pejorativo e acintoso termo ‘desmiolados’? Ao dizer que o Sindicato dos Jornalistas mudou o eixo da discussão ao citar o descumprimento de direitos trabalhistas, o ‘senhor’ entra em contradição. Como o ‘jornalista’ pôde citar, com tanta veemência o Estado de Direito, e, ao mesmo tempo, desconhecer este foro jurídico em sua plenitude? Já que Estado de Direito pressupõe direitos e deveres e, principalmente, respeito aos ditames da Carta Magna de 1988. Para nós, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará, o eixo da discussão foi deslocado quando tivemos a coragem de contrariar o pensamento único e reacionário de algumas cabeças e, mais ainda, nos contrapormos às injúrias e mentiras assacadas contra toda uma categoria profissional. Voltamos a reafirmar os princípios que sempre balizaram a história desta entidade, uma história que, ao contrário do que quer o Jornal O Povo, não será pautada pela intolerância, pelo discricionismo e, mais ainda, pelos interesses não confessáveis desta ou de qualquer outra empresa de comunicação’. Nos tópicos seguintes trago minha argumentação, após extrair desta nota o que não representa ataque pessoal. Fiz opção por utilizar outro canal para responder às ofensas contra mim desferidas, poupando o leitor do que não lhe é essencial no debate instalado desde fevereiro último. Restou pouco para analisar na coluna, devo adiantar.
Um direito que lhes nego
Há uma série de estranhezas possíveis de se destacar no conteúdo da nota que me foi encaminhada pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará. É preciso ressaltar, de início, que considero natural que meu posicionamento não haja atendido à expectativa dos que fazem o comando da entidade, porque, afinal, não é por ser ombudsman que minhas avaliações devam merecer unanimidade. Ao contrário, sei que é mais comum provocarem inconformismos, críticas e outras manifestações que, em geral, considero normais e tento tornar úteis à função e ao leitor. Uma análise do pouco que considero aproveitável, para abordagem nesta coluna, do conteúdo da manifestação oficial da entidade a partir do que aqui escrevi na edição de 22 de fevereiro último, deixa claro existirem divergências conceituais entre o que penso do papel do ombudsman e aquilo que defendem os signatários do documento, os jornalistas que dirigem atualmente o sindicato. É equivocada, por exemplo, a idéia de que tenho como obrigação defender o leitor de uma maneira acrítica, dando-lhe razão em qualquer atitude de confronto com a empresa, pelo simples fato de ser uma ação de confronto com a empresa. Estou obrigado, sim, a acolher e dar conseqüência a toda queixa aqui chegada de leitor, de fonte, da sociedade, enfim, iniciando uma investigação que possibilite saber com quem está a razão e, concluindo que há erro do jornal, cobrá-lo com o máximo de rigor possível. Algo que não dou direito a ninguém duvidar que farei, esteja do outro lado o dono, a dona, o editor, o diretor, quem quer que seja.
O que escrevi, assino embaixo
Vamos ao episódio, em si. O jornal critica o sindicado em editorial do dia 16 de fevereiro e a entidade responde com uma nota oficial, publicada no dia 18 do mesmo mês. Depois disso, ainda há outro editorial sobre o assunto, na edição do dia 19. Os colegas jornalistas que apoiaram o texto a mim endereçado e que ocupa os tópicos iniciais desta coluna acusam-me de, na abordagem do problema, colocar o espaço a serviço da empresa, meu texto à disposição da defesa de uma versão oficial, atingem-me no campo pessoal e, no frigir dos ovos, apenas oferecem elementos para eu reafirmar uma certeza: escrevi o que a minha compreensão do episódio determinava e tenho o direito de fazê-lo. A nota deixa caracterizada a deliberada intenção de tirar o foco do que é essencial, optando-se por uma linha prioritariamente raivosa, com ataques e inconseqüências. Se não agi influenciado pelo interesse da empresa O Povo, também não o fiz deixando que prevalecesse a visão de quem comanda o sindicato ao qual sou filiado. Critiquei o editorial do jornal em tudo que ele merecia crítica e a nota nos pontos em que ela apresentou-se equivocada. Defender o leitor, ao contrário do que entende e manifesta a nova nota do sindicato, é mais do que simplesmente estar ao seu lado nos embates internos ou externos que tenham a sua participação. Pensar assim é mediocrizar uma relação que vai muito além e, não raro, determina que se tenha coragem para relevar interesses corporativos, de classe ou de empresa, colocando no foco a defesa de teses resultantes de convicções. O que está posto na coluna do dia 22, que a nota da diretoria do sindicato equivocadamente define como defesa do jornal, é o resultado do meu convencimento após análise do que passou pelas páginas do O Povo no processo relacionado à agressão contra o ministro Ricardo Berzoini, no dia 11 de fevereiro, e seus desdobramentos. Caso a conclusão tivesse sido no sentido contrário, lá estaria da mesma forma e no mesmo tom.
A desobrigação que tenho de defender o jornal é a mesma que me garante autonomia para criticar uma atitude dos que dirigem o sindicato ao qual pertenço. Desde que o faça, como o fiz, a partir de minhas convicções, das quais não abro mão pelos mesmos motivos que o comando da entidade sentiu-se justamente incomodado diante da cobrança indevida que o jornal lhe fez, em editorial, pela cessão do auditório para apresentação de Verônica Souza, a jovem que lançou a torta contra o rosto do Ministro, fato gerador de toda a celeuma. É a partir deste ponto que voltamos a trilhar o mesmo caminho.’