A escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 deu em carnaval. Agora é o carnaval na imprensa brasileira com o desfile diário de violência na cidade. O bloco internacional também pede passagem e existe uma fuzilaria incessante na cobertura, com questões se o Rio estará capacitado para garantir a segurança olímpica em 2016 na medida em que é um campeão de violência urbana.
O New York Times chegou atrasado na cobertura da espiral de violência, só nesta última quarta-feira (21/10). Apesar do atraso, uma reportagem fulminante de alto de página com fotos de impacto e uma frase lapidar no texto, lembrando que o helicóptero da polícia foi derrubado no sábado (17) a cerca de um quilômetro e meio do Maracanã, onde vão ocorrer as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos em 2016, além, é claro, da final da Copa do Mundo em 2014. Ao final da reportagem, insinuações de que se as coisas não melhorarem, acaba este carnaval ufanista e o Brasil dança como sede tanto da Copa, como das Olimpíadas.
O Brasil não pode reclamar desta onda jornalística. Quem quer alta visibilidade paga um preço alto. Não se trata de um enfoque negativista ou sensacionalista. É o mero registro da barbárie, como também acontece no caso positivo do vigor econômico. Uma boa medida do impacto desta espiral da violência foi na terça-feira quando o Wall Street Journal, que supostamente mete muito mais bala na cobertura econômica, colocou a história na capa com o título ‘Violência nas Favelas do Brasil Encobre a Vitória Olímpica do Rio’.
Imagens da violência
É verdade que vários jornais europeus e americanos, a destacar o New York Times registraram a observação de um integrante do Comitê Olímpico Internacional de que o Rio não foi a única cidade a amargar violência depois de ganhar o voto olímpico. Aconteceu no day after ao triunfo de Londres em 2005 (será sede em 2012), com os atentados terroristas que deixaram 56 mortos na capital britânica.
Mas que comparação é esta? Que consolo é este? O terror é terrível, mas violência em larga escala não faz parte do cotidiano de uma cidade como Londres. Desde 2003, o número de homicídios na área metropolitana de Londres ronda os 170 por ano. No ano passado foram 4.631 homicídios registrados no Rio. Ë verdade que isto representa um declínio em relação aos 4.143 de 2006. De novo: que consolo é este?
Aliás, na TV BBC de Londres, o padrão de comparação para o Rio esta semana não tem sido a própria capital britânica. As imagens da violência carioca às vezes estão no bloco do noticiário sobre Afeganistão, Paquistão ou algum Waziristão da vida. Não há Taleban ou Al Qaeda no Morro do Macaco, mas é o Brasil que precisa fazer sua jihad contra a violência urbana.
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Jornalista