‘O senador Hélio Costa (PMDB-MG) tem se pautado, no exercício do cargo de ministro de Estado para as Comunicações, como um indisfarçável representante da chamada grande mídia, em especial da empresa onde trabalhou por tantos anos, a Rede Globo.
Aliás, fosse o Brasil um país sério, um dono de uma emissora de rádio (na cidade de Barbacena) não poderia ter a responsabilidade legal de fiscalizar a radiodifusão brasileira. Ou seja, é perfeitamente lícito questionar a isenção que o atual ministro pode ter em seus julgamentos.
Mas, os últimos acontecimentos estão demonstrando que Helio Costa perdeu totalmente a compostura necessária para exercer o cargo de ministro das Comunicações. Em nome da seriedade do cargo e para tentar provar sua inocência, deveria renunciar e voltar ao Senado.
No dia 09 de novembro, em reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, o ministro Hélio Costa afirmou que os representantes do padrão japonês de modulação para a TV digital (ISDB) tinham sido os únicos a procurar o governo para oferecer vantagens comerciais. O ministro se referia a um documento enviado em 2002. A adoção do ISDB é defendida publicamente pela Rede Globo.
Mas, Helio Costa omitiu o fato de que o chefe da Delegação da Comissão Européia no Brasil, João Pacheco, enviara para o governo, no dia 03 de novembro, um documento onde sugere um programa de cooperação tecnológica com a América Latina em torno do tema da TV digital. No dia 31 de outubro, Helio Costa já havia faltado a uma reunião com os europeus, realizada no Ministério da Ciência e Tecnologia.
No dia 1 de dezembro, as comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realizaram audiência conjunta sobre ‘o futuro da radiodifusão comunitária’, a partir de requerimento da deputada Fátima Bezerra (PT-RN). Apenas depois de muita insistência, o Ministério das Comunicações aceitou enviar uma funcionária de terceiro escalão. Mas, o ministro Hélio Costa se recusou a receber uma delegação conjunta de deputados e representantes de entidades ligadas às rádios comunitárias. Somente poderiam entrar os parlamentares, que, em solidariedade às rádios, recusaram a oferta do ministro.
Mais de uma vez, contudo, a imprensa já relatou encontros do ministro Hélio Costa com representantes das emissoras comerciais.
Ao se reunir com uns e recusar a reunião com outros, o ministro feriu o artigo 37 da Constituição Federal que obriga a administração pública, direta e indireta, a agir com ‘impessoalidade’.
Por fim, na revista Carta Capital que circula nas bancas nesta semana, a jornalista Ana Paula Sousa pergunta ao ministro: ‘Algumas pessoas vêem este momento, com a TV digital e a possível entrada das teles no jogo, como uma oportunidade histórica de se mudar a estrutura concentrada da mídia no Brasil. Ilusão?’
E Helio Costa responde, depois de uma risada: ‘Midnight Summer Dream, para fazer a coisa mais bonita. Sonho de uma noite de verão. Isso está longe.’
Novamente o ministro desrespeita a Constituição Federal, que, em seu artigo 220, veda a formação de monopólios e oligopólios. Um ministro de Estado não poderia considerar uma chance de realizar um dispositivo da Carta Maior um sonho de uma noite de verão. Nem deveria rir de assunto tão importante.
Ao agir dessa forma, o ministro Hélio Costa mostra não apenas seu despreparo para o cargo como permite que sociedade civil conclua que chegou a hora de gritar bem alto, até o Planalto nos ouvir: ‘fora Helio Costa!’.
Gustavo Gindre é jornalista (UFF), mestre em comunicação (UFRJ), coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (INDECS) e membro eleito do Comitê Gestor da Internet do Brasil.’
Daniel Castro
‘Redes pedem financiamento para TV digital’, copyright Folha de S. Paulo, 9/12/05
‘Representantes das principais redes do país se reuniram anteontem com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, para apresentar suas posições sobre o sistema de TV digital a ser adotado pelo Brasil, decisão que será anunciada até fevereiro. Os radiodifusores também tiveram um breve encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto.
A principal novidade é a reivindicação, por parte das redes, da abertura de uma linha de financiamento no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a compra, a juros menores que os de mercado, de transmissores digitais. As TVs também pediram benefício fiscal para importarem câmeras e equipamentos de estúdios adequados à nova tecnologia.
As emissoras argumentam que, sem o apoio do BNDES, não têm como implantar a TV digital no país. Estima-se que todas as emissoras, juntas, terão que investir, em até 15 anos, cerca de US$ 10 bilhões para migrarem da tecnologia analógica para a digital.
Segundo a assessoria de Costa, o ministro se comprometeu a defender a abertura de linha de crédito no BNDES tanto para emissoras quanto para fabricantes de televisores, mas exige como contrapartida canais para educação à distância. Costa, de acordo com sua assessoria, defende também crédito barato para o telespectador comprar caixas decodificadoras e televisores digitais.
OUTRO CANAL
Dissimulado 1 André, personagem de Marcello Antony em ‘Belíssima’, já começou a mostrar que não é o mocinho que fingia ser no início. Agora rico, esqueceu o pai em um cortiço e, em breve, vai se aliar à vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro) em plano de comprar o casarão de Murat (Lima Duarte) para lá construir a nova sede da indústria de lingeries da história.
Dissimulado 2 Sílvio de Abreu, autor de ‘Belíssima’, desconversa sobre o aspecto vilanesco de André. Mas a sinopse original prevê que André irá dar um golpe em Júlia (Glória Pires), deixando-a pobre.
Dissimulado 3 Abreu se diverte com a ambigüidade de André. ‘O fato de manter o público encantado com ele, mas com um pé atrás, é muito estimulante para o romance [com Júlia] e dá chances reais para o Nikos [Tony Ramos]’, afirma.
Rebatismo Vai se chamar ‘Filhos do Carnaval’, e não mais ‘Carnaval’, a série de seis episódios que a O2 produziu para o canal pago HBO, com Jece Valadão no papel de um bicheiro carioca. A série, que custou R$ 6 milhões, deve ir ao ar a partir de fevereiro.
Agora vai O SBT já começou a sondar profissionais de teledramaturgia da concorrência. Deve contratar até cem pessoas, sem contar elenco, para produzir seu segundo horário de novelas, previsto para estrear em abril de 2006.’
HOMMER vs. BONER
Marcelo Salles
‘Bonner X Laurindo’, copyright Fazendo Média (www.fazendomedida.com), 9/12/05
‘Analisar com atenção o artigo publicado pelo professor Laurindo Leal Filho na revista CartaCapital e a resposta de William Bonner veiculada pela página do Observatório da Imprensa não é apenas importante, mas fundamental para a compreender como se dá a manipulação da informação no Jornal Nacional.
O professor da Escola de Comunicações e Artes da USP relata sua visita, juntamente com outros nove colegas, aos estúdios da Rede Globo, onde acompanharam a reunião de pauta do telejornal. Entre os elementos presentes no artigo de Laurindo Leal Filho, destacam-se três: o poder incontestável de Bonner sobre os demais funcionários, a comparação do telespectador médio brasileiro com Homer Simpson e o critério de seleção de notícias usado pelo Jornal Nacional.
Em sua resposta, William Bonner concentra-se apenas na comparação com o personagem do seriado. Para tanto, desvirtua a impressão do professor e se faz de vítima ao apelar para a definição que a página dos Simpsons confere a Homer, oferecendo um rumo reducionista e passional ao debate. Com relação à autoridade do apresentador sobre sua equipe, é compreensível que ele não queira se manifestar. Até porque, em princípio, isso não é de interesse público. No entanto, salta aos olhos a omissão diante do questionamento acerca dos critérios de seleção da notícia utilizados pelo editor-chefe do telejornal que mais influencia os brasileiros.
Na tréplica, publicada no Blue Bus, o professor Laurindo explica: ‘Fui editor de diferentes telejornais e por onde passei nunca vi uma seleção de matérias feita de forma tão rasteira e superficial, tendo como referência apenas as opiniões e idiossincrasias do editor-chefe, como a que presenciei no Jornal Nacional’.
O professor Laurindo foi claro ao narrar o momento em que Bonner descarta a pauta sobre a venda de óleo para calefação a baixo custo por uma empresa da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. Para o professor, ‘uma notícia de impacto social e político’. O fato é que pautas importantes têm sido sistematicamente abandonadas pelo Jornal Nacional, sempre com o argumento de que o telespectador médio não as entenderia, mesmo que preencham todos os critérios necessários de relevância jornalística (proximidade, ineditismo, etc.). Sobre a Venezuela, quem acompanha o telejornal observa que apenas notícias negativas são veiculadas sobre o país. Fatos como a presença de médicos cubanos nos bairros pobres de Caracas melhorando a qualidade de vida da população local ou a recente erradicação do analfabetismo na Venezuela são apenas dois exemplos de notícias positivas omitidas pelo Jornal Nacional.
Esse olhar sobre o país vizinho, no entanto, não chega a surpreender. Bonner já havia manifestado sua preocupação com a Venezuela a uma turma de estudantes de jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), em meados deste ano. ‘Acompanhamos com apreensão a compra de armas e a aproximação de Chávez com Fidel’, disse na ocasião. Na mesma visita, a turma pôde ouvir quando Bonner comunicou a sua equipe uma notícia que acabara de receber de Brasília: ‘Estão tentando manobrar para impedir a cassação do deputado André Luiz. Não podemos deixar que isso aconteça’.
O poder. Pelo discurso é possível aprender muito. Bonner sabe que tem nas mãos poder suficiente para determinar a cassação de um ou outro parlamentar. Ele conhece o peso da opinião pública e sabe como usá-lo. Um dos estudantes questionou, após a reunião de pauta: ‘Você falou em impedir a cassação de um deputado. Como é isso?’. A resposta veio respaldada por nobreza: ‘Nós também temos a função de denunciar quando algo está ilegal’, numa demonstração da função de juiz exercida pelo telejornal, uma vez que o caso ainda não havia sido julgado pela instância competente.
Mas William Bonner não pode responder por tudo. Como ele mesmo explicou à turma da UFF, sempre que alguma dúvida lhe ocorre, Ali Kamel, seu superior imediato, é consultado. Se este continuar hesitante, Carlos Henrique Schroder entra em cena. E, por último, caso este ainda não saiba como proceder diante de uma pauta, o presidente da empresa, João Roberto Marinho, é quem decidirá. Bonner só não explicou a razoabilidade de um empresário – que por definição se interessa pelo lucro antes da informação – decidir sobre aquilo que vai ao ar numa emissora que opera uma concessão pública.’
TV PAGA
Aguinaldo Novo
‘TV por assinatura vai crescer 7% em 2005’, copyright O Globo, 9/12/05
‘As operadoras de TV por assinatura devem registrar em 2005 seu melhor desempenho desde o início da década. Dados divulgados ontem pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) mostram que o setor fechará o ano com 4,03 milhões de assinantes, o que representará um aumento de 7% em relação a dezembro do ano passado. Até o terceiro trimestre, o número de assinantes já era de 3,956 milhões, 2,5% a mais do que no fechamento do segundo trimestre.
Houve também crescimento expressivo da base de assinantes de internet em banda larga e do faturamento bruto. Pelos dados da ABTA, a base na banda larga avançou 17% só no terceiro trimestre e passou a somar 528 mil clientes. A estimativa é que o serviço feche o ano com 600 mil assinantes, uma variação de 65% em relação a 2004.
Isso fez engordar o caixa das operadores, que devem fechar o ano com um faturamento bruto de R$ 4,5 bilhões – equivalente a um crescimento de 12,5% nos últimos 12 meses. Otimista, o setor faz planos para 2006.
– Vamos continuar crescendo acima do PIB – disse o presidente do Conselho Diretor da ABTA, Christopher Torto.
Veículo reconhecido no mercado publicitário
Torto estima que o setor possa expandir a base de assinantes de 7% a 8% em 2006. O investimento publicitário na TV por assinatura deve crescer 32% em 2005, chegando a R$ 400 milhões.
– O veículo está sendo reconhecido pelo mercado, dada sua grande participação junto às classes A e B – disse o vice-presidente de programação da ABTA e diretor-executivo da Fox no Brasil, Gustavo Leme.
Estudo da Ipsos mostra que, da base de assinantes, 80% pertencem às classes A e B.’