O dia 21 de abril ganhou este ano mais um significado. Além de lembrar a execução de Tiradentes, mártir da nossa independência, a morte de Tancredo Neves, mártir da legalidade, e além de festejar os 50 anos da criação de Brasília, a data tem um significado secreto: acabou o embargo ao nome de Hipólito da Costa no venerando Estado de S.Paulo.
É verdade: o jornalão paulistano, paladino da luta contra a censura, não gostava da figura do patriarca da imprensa brasileira e, por isso, o mantinha numa espécie de quarentena. Hipólito da Costa não existia, não podia ser citado.
Na quarta-feira (21/4), o nome de Hipólito de Costa foi resgatado galantemente pela historiadora Isabel Lustosa na página 2 do Estadão porque foi um dos primeiros a vocalizar no seu Correio Braziliense, ainda em 1813, a necessidade de transferir a capital da então colônia portuguesa do Rio para o interior do país [ver ‘Da Brasília de Hipólito e Bonifácio à de nossos dias‘].
E por que razão estava Hipólito da Costa – o pai do jornalismo livre – na ‘lista negra’ de um intransigente defensor das liberdades como o Estado de S. Paulo?
Obscurantismo clerical
É evidente que não se tratava de uma antipatia pessoal: Hipólito da Costa jamais escreveu uma linha contra o jornalão, aliás fundado 83 anos depois do seu mensário. O Estadão não gostava de Hipólito da Costa simplesmente porque foi maçom e na condição de maçom foi preso pela Inquisição lisboeta.
Assim, lembrar Hipólito da Costa significava lembrar a penosa censura eclesiástica que tanto atrasou a nossa entrada na Era de Gutenberg e nosso desenvolvimento cultural e intelectual.
É possível que, vivo, Hipólito fosse hoje um fiel leitor do Estadão, mas como representa a luta contra o obscurantismo clerical pagou retrospectivamente pelo pecado de acreditar no livre arbítrio e na liberdade individual.
Nossa imprensa finalmente recupera a sua história e seus personagens. A Opus Dei deve estar muito preocupada.