Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

História mal contada nos jornais

O noticiário da internet de domingo (22/5) à noite registrou a vitória da oposição direitista nas eleições espanholas. Embora apenas no âmbito municipal, foram eleições complicadas porque há uma semana estão acampados no marco zero de Madri, a famosa Puerta del Sol, milhares de jovens protestando contra o desemprego e a falta de perspectivas.

A autoridade eleitoral proibiu as manifestações, o governo socialista não as reprimiu porque reconhece a validade do protesto.

Mesmo sabendo que o vitorioso PP defende cortes ainda mais drásticos na área social, a sociedade espanhola quis registrar a sua frustração. Isto está nos jornais de segunda-feira, mas não nos de sábado, véspera do pleito.

Os jornalões faturaram muito bem o último domingo do mês, os dois paulistanos chegaram a lotear as suas capas para o mesmo anunciante (a operadora Claro), mas os porteiros das nossas redações não tinham tempo para prestar atenção no pré-fato, a gigantesca concentração batizada como 15-M (de 15 de maio), dia em que começou.

Diapasão político

Seria apenas uma “jornada de reflexão” e acabou reunindo uma formidável massa de jovens, altamente conscientizados, pacíficos, empenhados numa reedição de Maio de 68 de Paris que deixará os partidos espanhóis, inclusive os de esquerda, irremediavelmente envelhecidos. Um dos cartazes, entre centenas de outros, parodiava a famosa frase de Descartes: “Pienso, luego insisto”.

A Europa está em clima de mudança, o populismo de direita, xenófobo, está crescendo, o estado do bem-estar social assumiu o seu fracasso.

Apesar do crescimento econômico da China, quem continua dando o tom do diapasão político no Ocidente é a Europa. Os leitores dos jornais brasileiros mereciam conhecer esses lances. A história que lhes chega todos os dias pelos jornais é descontínua, cheia de lapsos, incompleta.