A grega Arianna Huffington tem no sobrenome um sinônimo para jornalismo na internet. O Huffington Post, que reúne o trabalho de 6.000 blogueiros voluntários e tem uma equipe de 195 pessoas, diz receber 24 milhões de visitas únicas por mês, mais do que sites de jornais como Washington Post e Los Angeles Times. E, pela primeira vez desde seu lançamento em 2005, tornou-se lucrativo no segundo trimestre deste ano, calando os críticos que a perseguem desde que ela chegou aos EUA e passou a dar pitacos na política nacional.
Arianna, 60, lançou recentemente seu 13º livro, Third World America [algo como EUA do Terceiro Mundo]. Ela estará no Brasil neste mês. Em quatro dias, ela deve visitar Rio, São Paulo e Brasília para ‘encontrar com políticos eleitos, líderes empresariais e membros da mídia’, disse a co-fundadora e chefe de Redação do Huffington Post em entrevista à Folha por e-mail.
Formada em Economia em Cambridge, Arianna se mudou para os EUA nos anos 80 e ficou conhecida nas rodas sociais pelos livros de sucesso que publicou – uma biografia sobre Pablo Picasso e outra sobre Maria Callas. Ao se casar com o magnata americano do petróleo Michael Huffington, eleito para o Congresso anos depois, Arianna entrou para o mundo da política como uma comentarista conservadora, embora tenha mudado de partido após um divórcio escandaloso em 1997 (Michael afirmou ser bissexual).
Assinatura de sete jornais
Blogueira, ativista política e ambiental nos anos 2000, Arianna afirma que quis criar o Huffington Post como uma resposta liberal a sites de notícia conservadores, como o Drudge Report. Lançou o projeto em 2005 e conseguiu reunir contribuições de personalidades como Norman Mailer e David Mamet, ganhadores do Pulitzer, além de celebridades, como Gwyneth Paltrow. Hoje, tem entre seus colaboradores o cineasta Tim Burton.
Na época, a iniciativa foi recebida com um balde de água fria dos críticos, talvez por inveja ou talvez por posts esquisitos, como um sobre orgasmo feminino assinado pela própria Arianna. Mas, com o tempo, o site construiu sua reputação, como na cobertura do desastre do furacão Katrina. Ela é co-fundadora ao lado de Kenneth Lerer, ex-executivo da Time Warner/AOL. Segundo a revista Forbes, cada um levantou US$ 2 milhões para lançar o site, que neste ano deve gerar receita de US$ 30 milhões.
Arianna Huffington, co-fundadora do Huffington Post, diz estar animada com sua primeira visita ao Brasil. Aos 60 anos, ela afirma que assina sete jornais, que gosta de ler pela manhã, enquanto toma café. A seguir, trechos da entrevista feita por e-mail.
***
‘A promessa [do sonho] morreu’
Folha – Por que o Brasil?
Arianna Huffington – Nunca fui à América do Sul, o que me deixa muita animada com essa viagem. Quero ver de perto a vibrante economia brasileira e o jeito como os partidos políticos, apesar de terem ideologias diferentes, conseguiram se unir para reduzir a desigualdade. Estou interessada em me encontrar com aqueles que tiveram um papel em transformar energia alternativa em parte da política nacional.
Em seu novo livro, a senhora afirma que os EUA correm o risco de se transformar num Brasil ou num México, com mais pessoas vivendo em condomínios fechados. Por quê?
A.H. – Os EUA estão caminhando para se tornarem um país de Terceiro Mundo. Neste momento, 100 milhões de americanos estão em pior situação do que seus pais quando tinham idade parecida. Há algo de destrutivo acontecendo ao sonho americano.
Acabou o sonho americano?
A.H. – A mobilidade social foi sempre o centro do sonho, uma promessa de que, se você trabalhar duro e jogar as regras do jogo, vai se dar bem e seus filhos terão a chance de fazer ainda melhor. Essa promessa morreu. Resgatar a classe média não vai ser fácil. Serão necessárias iniciativas ousadas.
‘Inovação sempre esteve no DNA do HuffPost‘
O presidente Barack Obama tem ainda como retomar suas promessas?
A.H. – Ele precisa trabalhar agressivamente para corrigir o seu maior erro, que foi não colocar a criação de postos de trabalho no centro das prioridades. Ele não deu a mesma urgência para salvar a classe média e reconstruir nossas comunidades que deu para resgatar Wall Street e os grandes bancos.
A senhora ainda lê jornal de papel?
A.H. – Sim, absolutamente. Adoro ler o jornal pela manhã, tomando café. Assino sete.
Desde que o Huffington Post foi lançado, muitas novas tecnologias ganharam força. Qual foi a mais complicada para abraçar?
A.H. – Inovação sempre esteve no DNA do HuffPost. Então nunca olhamos para essas novas tecnologias como problemas a resolver. Ao contrário, vemos como oportunidades para serem abraçadas.
‘A estratégia é focar no nosso aplicativo’
Como a qualidade do jornalismo foi afetada por essa revolução midiática e consequente declínio financeiro de empresas tradicionais?
A.H. – Estamos vivendo uma era de ouro para os consumidores de notícias, que podem navegar na internet, usar ferramentas de busca, acessar as melhores histórias ao redor do mundo. A internet nos deu controle sobre as notícias que consumimos. E o crescimento explosivo de mídia social está também mudando nossa relação com a notícia. Não é algo que tomamos mais de forma passiva. Somos todos parte da evolução da história, expandindo com comentários e links para informações relevantes, adicionando fatos e pontos de vista diferentes.
O jornal já deu lucro? Qual a expectativa para 2011?
A.H. – Sim, o HuffPost se tornou lucrativo neste ano. Queremos continuar expandindo o site, contratar mais repórteres para focar em produção de material original.
Rupert Murdoch está investindo US$ 30 milhões para criar um jornal só para iPad. Qual será a resposta do Huffington Post?
A.H. – A estratégia do HuffPost é focar no nosso aplicativo. Queremos algo poderoso, atraente e nativo ao iPad.