No Brasil, é impossível pensar em divulgação de ciência sem lembrar o nome de José Reis. O jornalista, pesquisador, escritor e administrador teria completado 100 anos na terça-feira (12/6).
Formado em medicina em 1930, especializado em microbiologia e patologia, Reis era pesquisador de renome internacional. Foi um dos idealizadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ajudou a fundar em 1948. Participou também da criação da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), da qual foi professor e diretor, e teve papel fundamental na idealização da FAPESP.
‘Ele era ao mesmo tempo um idealista e um homem de ação. O papel dele na criação da FAPESP é emblemático. Desde 1945 ele combateu publicamente pela criação da fundação, que foi inaugurada em 1962. A realidade da FAPESP hoje coincide com os princípios fundamentais defendidos por ele naquela época’, disse à Agência FAPESP o professor Osmir Nunes, que é secretário-geral do Núcleo José Reis da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Nunes, que defendeu dissertação de mestrado sobre José Reis, destaca a variedade e o brilhantismo da atuação do cientista em múltiplas vertentes. ‘Além da atuação na administração do Instituto Biológico de São Paulo e na criação de entidades importantes para a ciência nacional, ele escreveu obras de divulgação científica para jornais, folhetos dirigidos a criadores de animais, livros infanto-juvenis e até poemas’, declarou.
Para o geneticista Crodowaldo Pavan, um dos coordenadores da Cátedra Unesco José Reis de Divulgação Científica da ECA-USP e amigo pessoal de Reis, a importância do cientista transcendeu a divulgação científica.
‘Ele teve um papel crucial no próprio desenvolvimento da ciência brasileira. Não só por estimular a apresentação da ciência ao grande público, mas por influenciar a comunidade científica com um espírito que vê a educação como investimento’, disse Pavan à Agência FAPESP.
Linguagem acessível
Pavan lembra ainda que Reis foi o responsável pela implementação do tempo integral para os docentes da USP, dando uma demonstração clara de que o desenvolvimento científico é extremamente importante e precisaria ter abordagem profissional.
‘Isso também deu um impulso extraordinário à ciência brasileira. Devemos muito a ele em relação à educação e à ciência. A educação, aliás, era uma das principais dimensões da concepção de divulgação científica que ele defendia’, declarou. Para o pai da divulgação científica, a tarefa de trocar em miúdos para o grande público a informação científica envolvia ‘dois dos maiores prazeres desta vida: aprender e repartir’.
Em 1947, Reis passou a colaborar com as Folhas, que se transformariam mais tarde no diário Folha de S.Paulo. Entre 1962 e 1967, em plena ditadura militar, ele ocupou o cargo de diretor de redação do jornal, para o qual escreveria até os últimos dias de vida, em 2002.
‘A ciência é bonita e profundamente estética; portanto, devemos exibi-la à sociedade.’ A frase de Reis define um trabalho de divulgador de ciências que ele começou a fazer de fato no Instituto Biológico de São Paulo, onde foi contratado como bacteriologista em 1929. Encarregado de pesquisar uma doença que atingia as galinhas da região, o biólogo passou a ser procurado por sitiantes que queriam saber como resolver o problema. Reis começou a preparar panfletos com linguagem acessível e a escrever artigos para a revista agrícola Chácaras e Quintais.
Reis foi o primeiro secretário-geral da SBPC, em 1948. No ano seguinte, fundou e se tornou o primeiro editor da revista Ciência e Cultura. Ganhou diversos prêmios, como o Kalinga (de divulgação científica), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Em 1979, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) instituiu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica. A FAPESP, em 1999, criou o Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia-Ciência).
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Editor da Agência Fapesp