Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

iG rompe contrato com Paulo Henrique Amorim

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Comunique-se


Terça-feira, 18 de março de 2008


SAÍDA
Carla Soares Martin e Miriam Abreu


iG rompe contrato com Paulo Henrique Amorim


‘Não é possível mais acessar a página que Paulo Henrique Amorim mantinha no iG. O Portal rescindiu contrato com o jornalista, afirmando que vai respeitar todas as cláusulas contratuais, o que significa que ele será indenizado. A medida, segundo a direção do iG, faz parte de um processo de reestruturação de contratos que já começou há algum tempo. Amorim disse que ‘eles desrespeitaram a cláusula básica que é a duração do contrato.’ A negociação seria mantida até 31/12.


O Portal disse ainda que a manutenção do Conversa Fiada era altamente desvantajosa para o modelo de negócios da empresa. A informação que chegou ao Comunique-se é a de que havia um alto custo para manter a página, porque a baixa audiência e receita não compensariam os gastos.


Amorim não quis dizer ao Comunique-se se pretende ter outra página na internet. Limitou-se a dizer: ‘todo o resto será tratado com os meus advogados’.’


 



VEJA vs NASSIF
Carla Soares Martin


‘Série de Nassif é campanha criminosa’, diz defesa de jornalistas da Veja


‘Pela primeira vez desde que o jornalista Luis Nassif começou, em janeiro deste ano, a publicar a série O Caso Veja, com o objetivo de apontar supostos deslizes no jornalismo da revista com maior circulação do Brasil, pôde-se ouvir o outro lado: o Comunique-se teve acesso às ações do diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, do redator-chefe, Mario Sabino, e do colunista do Radar, Lauro Jardim, contra Luis Nassif, movidas no Fórum João Mendes, em São Paulo. O jornalista é autor de uma ‘campanha criminosa’, alega a defesa dos profissionais da Veja.


‘O jornalista, no seu sacerdócio, deve ser sereno como um juiz, honesto como um confessor, verdadeiro como um justo.’ Com uma citação do advogado formado em Letras e Filosofia, Darcy Arruda Miranda Júnior, iniciam-se os processos movidos em varas diferentes no Fórum Central de São Paulo.


Na seqüência, os advogados Lourival José dos Santos e Alexandre Fidalgo apresentam o currículo dos jornalistas da Veja e um breve comentário sobre Nassif e o portal iG.


A defesa de Alcântara, Sabino e Jardim acusam Nassif de exercer ‘abuso no exercício da liberdade de informar.’ Dizem ainda que todas as denúncias feitas pelo jornalista são falsas. Afirmam que não procedem, contudo, sem demonstrar provas do contrário.


Alcântara


A defesa do diretor Alcântara refere-se à acusação de Nassif na suposta relação da revista Veja com o dono do Banco Opportunity e da Brasil Telecom, Daniel Dantas. Nassif diz que Veja defende Dantas.


‘Os artigos referidos acusam o autor de estar mancomunado com Daniel Dantas, ou seja, de empregar o jornalismo a serviço do referido empresário, acusação gravíssima, sobretudo para quem conquistou merecido destaque na profissão de jornalista e hoje dirige uma das maiores revistas do mundo (a revista Veja)’, diz o advogado Lourival Santos.


Sabino


Sobre o chefe de redação da Veja, a principal acusação é sobre a colocação de ‘cacos’ nos textos jornalísticos. ‘Cacos’, na definição de Nassif, seriam as alterações nas matérias dos repórteres, que influenciariam negativamente o trabalho.


‘Trata de campanha dirigida, acusatória, com a finalidade de prejudicar e ofender, gratuitamente, o autor, jornalista de destaque e que ocupa alto cargo na revista Veja’, diz o advogado Santos. E acrescenta: ‘Trata-se de uma ofensa gravíssima, sem qualquer prova a justificar tamanha acusação.’


Jardim


Lauro Jardim é acusado por Nassif de favorecer o empresário Eduardo Fisher em sua coluna Radar. O publicitário da ex-Schincariol e da Kaiser teria tido destaque por interesses comerciais da revista. A defesa nega e também alega que Nassif faz uma campanha para ofender a imagem do jornalista.


Indenização


Os três processos pedem uma indenização sem valor estipulado por danos morais ao jornalista Luis Nassif e ao portal iG, pela divulgação da série. Também pedem que, caso vençam as ações, o portal publique o resultado das sentenças no blog e no portal, sob multa diária de R$ 10 mil.


A resposta Nassif


Nassif pergunta: ‘Onde está o crime?’, a respeito da acusação de que promove uma ‘campanha criminosa’ contra os jornalistas. E acrescenta: ‘Há um conjunto de evidência que mostro ou longo da série. É assim que vou apresentar minha defesa.’


Estranha a Nassif que as acusações que acredita serem as mais graves contra os jornalistas como, por exemplo, a de que Sabino teria manipulado a lista dos mais vendidos para favorecer um título seu, não constar no processo.’


 


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 18 de março de 2008


TIBETE
Folha de S. Paulo


Genocídio cultural


‘A CHINA, apesar dos ares de modernidade propiciados por seus invejáveis índices de industrialização e crescimento econômico, permanece uma ditadura brutal.


Como o governo de Pequim controla todas as informações e tornou o Tibete território proibido para jornalistas, é difícil avaliar o que lá ocorre. Tibetanos no exílio afirmam que a repressão aos protestos antichineses deixou mais de cem mortos neste fim de semana, enquanto Pequim admite pouco mais de uma dezena -a maioria de chineses da etnia han, que foram violentamente atacados por tibetanos.


O retrospecto das autoridades chineses recomenda ceticismo com declarações oficiais. Ainda assim, pelas informações disponíveis, parece que Pequim está evitando um banho de sangue às vésperas dos Jogos Olímpicos, que ocorrerão em agosto na capital chinesa.


A moderação interessada de hoje não torna menos condenável a política de Pequim para o Tibete, que vem sendo governado com mão-de-ferro desde 1959, após o fracasso da revolta anticomunista que levou o dalai-lama a exilar-se. Além da violação sistemática dos direitos humanos, as tradições do país vêm sendo desrespeitadas -numa espécie de ‘genocídio cultural’, como diz o líder espiritual.


O ideal seria encontrar solução acordada, pela qual os tibetanos gozassem de autonomia de fato. O dalai-lama já declarou aceitar essa solução, abrindo mão do pleito por independência. A soberania sobre o Tibete é importante para Pequim, pois a região, rica em recursos minerais, ocupa mais de 10% do território do país e extensa faixa de fronteira. Apesar disso, conferir autonomia política e cultural ao Tibete não seria inédito para a China, que já convive com situação similar no caso de Hong Kong.


Nada indica, contudo, que Pequim vá renunciar ao uso da força contra a indefesa população tibetana.’


 


UNIVERSAL
Folha de S. Paulo


Com base no Supremo, juíza suspende ação contra a Folha


‘A juíza de direito Caroline Schneider Guanaes Simões, de Canarana, em Mato Grosso, suspendeu processo movido por seguidor da Igreja Universal do Reino de Deus, em ação de indenização contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato. A juíza decidiu com base na suspensão de artigos da Lei de Imprensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal).


A magistrada entendeu que a liminar concedida em Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental interposta pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) prejudica, por ora, o prosseguimento do processo. Trata-se da primeira decisão, entre as ações oferecidas contra o jornal, que leva em conta o julgamento sobre a Lei de Imprensa no STF.


Em 27 de fevereiro, o STF manteve, por maioria, a suspensão de 20 dos 77 artigos da Lei de Imprensa, mas autorizou o prosseguimento de processos cíveis e criminais contra jornalistas e empresas de comunicação, desde que com base nos códigos Civil e Penal.


Cinco dos dez ministros seguiram o voto do relator do caso, Carlos Ayres Britto, que atendeu parte do pedido do PDT, que tenta no Supremo a total revogação da Lei de Imprensa (lei nº 5.250/ 67), em vigor desde o final do governo Castello Branco, o primeiro dos generais-presidentes do regime militar (1964-1985).


Dos 75 processos ajuizados por fiéis que se dizem ofendidos com a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro, houve 15 decisões favoráveis à Folha, além do despacho da juíza de Canarana, suspendendo a ação.’


 


MENSALÃO
Lilian Christofoletti


Gushiken nega repasses da Secom no caso mensalão


‘A Justiça Federal de São Paulo ouviu ontem os três últimos réus no processo aberto para apurar o escândalo do mensalão, que estourou em 2006.


O ex-ministro da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken, denunciado por peculato, o ex-deputado federal Professor Luizinho (PT), acusado por lavagem de dinheiro, e a ex-vice-presidente do Banco Rural Ayanna Tenório, que responde por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, negaram ao juiz substituto da 2ª Vara Criminal Federal, Márcio Cataplani, envolvimento no caso.


Gushiken, acusado de ter liberado R$ 23 milhões de adiantamento para uma empresa de Marcos Valério, tido como o operador do mensalão, disse que a história é inverídica. A Secom, afirmou ele, não tinha nenhuma atribuição para autorizar repasses de verbas.


‘Eu estou muito tranqüilo e confiante na absolvição, sobretudo porque quatro ministros do Supremo rejeitaram a minha denúncia e o próprio relator, Joaquim Barbosa, na ocasião, disse que, se fosse julgado meu caso, ele me inocentaria’, disse após o depoimento.


O ex-ministro limitou-se a dizer que o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que atribuiu a ele a responsabilidade pela liberação da verba e depois voltou atrás, é um ‘desafeto’. Ele não comentou a mudança de versão do ex-diretor.


Acusado de ter recebido R$ 20 mil do esquema, Professor Luizinho disse ao juiz que é inconcebível pensar que ele, então líder do governo na Câmara, precisasse ser pago para votar com o governo. O ex-deputado não explicou, no entanto, o motivo de um funcionário dele ter sacado o valor.


‘Não tenho nada a ver com esse processo. Não fui eu que saquei o dinheiro nem mandei ninguém sacar’, afirmou.


Nem Gushiken nem o ex-deputado aceitaram responder às perguntas dos procuradores Rodrigo de Grandis e José Alfredo de Paula Silva.


O advogado da ex-vice-presidente do Banco Rural afirmou que ela assinou documentos por mera formalidade, sempre após receber relatório técnico.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Os 12 passos


‘‘O pânico está no ar’, bradava o enunciado na home da ‘Economist’, enquanto ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’ se voltavam à ‘próxima vítima’, depois do Bear Stearns. E davam o nome, Lehman Brothers. Era o post ‘mais popular’ no site Market Watch, ‘Wall St. assiste Lehman andar em gelo fino’.


Estava tudo lá, desde sexta-feira, no oráculo do blog de Nouriel Roubini. Um mês e meio atrás, ele revelou ‘os 12 passos do derretimento’. Sexta, confirmou e detalhou o ‘passo 9’, com a falência de ‘um ou dois’, citando Bear Stearns e Lehman Brothers. Avisou que é a pior crise nos EUA ‘desde a Grande Depressão’.


Ontem no ‘FT’, com eco sobretudo aqui, no Brasil, o ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan falou em pior ‘desde a Segunda Guerra’.


A COMIDA E O ÁLCOOL


Do ‘Charlotte Observer’, na Carolina do Norte, ao ‘Des Moines Register’, em Iowa, prossegue nos EUA a pressão para o Congresso, pelo menos, diminuir a tarifa sobre o etanol do Brasil. O argumento é que a proteção inflaciona a gasolina e os alimentos, a começar do milho para porcos.


Mas a novidade é que até o ‘FT’ deu, em reportagem sobre a inflação dos alimentos, que ‘analistas sugerem que Washington está perto de diminuir a tarifa contra o etanol do Brasil’. Citando ‘estrategistas’, diz que também a Europa pode decidir assim, ‘concentrando a produção em países como Brasil, onde a indústria é mais eficiente’.


PETRÓLEO SOBERANO


Saiu na AP, por Google etc., ‘Analistas dizem que fundos soberanos elevam preços do petróleo’. E ontem o coletivo Huffington Post deu na home, com eco no Yahoo, ‘Petróleo a US$ 111: Estamos sendo apertados soberanamente!’.


Critica os fundos árabes e destaca o projeto de Guido Mantega como alternativa de defesa contra a manipulação.


‘A GRANDE QUEDA’


Por outro lado, fechando o dia de pânico em que também as commodities caíram, o ‘FT’ deu artigo de ‘consultor de investimento’ dizendo que ‘a grande queda chega logo’.


Diz que os preços recordes de petróleo e outras são uma ‘euforia tipo bolha’ e que isso ‘está para mudar’ agora que ‘o crescimento global declina rapidamente’, com a crise.


‘EL NIÑO’


A emoção nacionalista nos aeroportos chega agora à Espanha, com o ‘El País’ e logo depois o ‘El Mundo’ relatando a história de ‘um menino de 22 meses’, filho de ‘brasileira com passaporte espanhol’, que foi impedido de embarcar de Salvador a Barcelona


NOVA VELHA MÍDIA


Saiu o novo State of the News Media, célebre estudo anual, com pesquisas, sobre o jornalismo americano.


Desta vez, com surpresas. A ‘democratização’ pela web não se confirma e ‘mais gente agora consome o que é produzido pelas redações da velha mídia, sobretudo da imprensa’, ainda que não em papel. Blogs independentes ‘atraem menos que se esperava’ e são feitos por ‘pessoas de fundo mais elitista do que os jornalistas’. E por aí vai.


E VELHA BLOGOSFERA


Poucos foram os blogs de mídia, nos EUA e no Brasil, que noticiaram o relatório do Estado da Mídia. E quando o fizeram evitaram sublinhar a conclusão de que a inovação agora vem das redações de imprensa. Howard Kurtz, do ‘Washington Post’, foi uma exceção. Aqui, Tiago Dória.


O DESCOLAMENTO


Outra conclusão do Estado da Mídia, que este ano supera 700 páginas, é que os jornais e os leitores estão ‘migrando’ com êxito do papel para os sites, mas não os anunciantes. Fala até em ‘descolamento’ e responsabiliza o que chama de ‘tradicionalismo’, hoje, das agências de publicidade.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Big Brother 8’ terá ‘paredão-relâmpago’


‘A Globo mudou o final de ‘Big Brother Brasil’. A oitava edição do reality show terá, pela primeira vez, três paredões para definir o vencedor.


O primeiro paredão será formado na próxima sexta entre os quatro participantes que restarão a partir da eliminação de hoje à noite _um deles se tornará líder na quinta-feira.


Serão dois paredões-relâmpago. O paredão a ser formado na sexta será decidido no sábado à noite. Os três ‘sobreviventes’ disputarão uma prova. O vencedor estará na final, na terça-feira. Os dois perdedores farão outro paredão-relâmpago, a ser decidido no domingo.


O diretor J.B. de Oliveira, o Boninho, desistiu de definir um dos dois finalistas pelo ‘big fone’. A idéia inicial era de que quem atendesse ao telefone no próximo sábado seria finalista. Mas a publicação dessa notícia por esta coluna, reproduzida por rádios e sites de todo o país, gerou mais de 10 mil telefonemas à Central de Atendimento ao Telespectador da Globo. Os fãs do programa reclamaram, e Boninho voltou atrás.


Ao contrário do que a Globo temia, ‘BBB 8’ não perdeu audiência após a eliminação do ‘protagonista’ Marcelo Arantes. As edições de quinta até ontem deram média de 36,2 pontos no Ibope da Grande São Paulo, 0,9 a mais do que as do mesmo período da semana anterior. ‘BBB’ foi favorecido pelo aumento de TVs ligadas por causa do tempo chuvoso.


ECLIPSE Autor de ‘Duas Caras’, Aguinaldo Silva perdeu para Carolina Dieckmann a liderança entre os blogs mais lidos e comentados do portal Bloglog. Atualmente ‘de mal’ com a imprensa, é no blog que Silva revela os desdobramentos de sua novela.


OFICIAL O canal GNT anuncia hoje Lorena Calábria como apresentadora, a partir de abril, do ‘Happy Hour’. Não anunciou antes porque ela tinha contrato com a Record.


VIRADA Agora ancorado no Rio, o ‘Mais Você’ voltou a ser líder no Ibope. Foi o que ocorreu ontem, quando Ana Maria Braga e o ex-BBB Marcelo Arantes se estranharam (ele reclamou que não queria mais falar de suas brigas no reality show).


TRAQUE 1 Setores da Globo avaliam que a Record não apresentou proposta pelos direitos do Campeonato Brasileiro porque, no fundo, não queria o futebol, mas apenas inflacionar os valores pagos pela rede líder.


TRAQUE 2 Nessa linha de análise, o argumento da Record, de que não fez oferta porque a Globo poderia cobri-la, vai por água abaixo. Se tivesse feito proposta, a Record poderia questionar no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) o direito de preferência da Globo.


REPROVADO O Ministério da Justiça não concordou com a autoclassificação do SBT à novela ‘Lalola’, de imprópria para menores de dez anos. Para o órgão, é inadequada para menores de 12.’


 


Marcelo Pen


Série idolatra o poeta Manoel de Barros


‘‘Tenho paixão pela palavra […] É coisa preciosa, como uma mulher bonita’, disse o poeta Manoel de Barros, 90. O jornalista Cláudio Savaget utiliza o mote para nomear seu documentário em cinco episódios, sobre a vida e a obra do autor mato-grossense, considerado por muitos o maior poeta brasileiro vivo. Embora seja hoje festejado e até tema de enredo de escola de samba, Manoel de Barros só obteve o reconhecimento aos 70 anos. A série analisa esse prestígio tardio, mas trafega pela via da consagração – e mostra isso, por exemplo, ao incluir depoimentos como o do músico Luiz Melodia e da atriz Beatriz Segall; mais admiradores do que especialistas.


O poeta -que aparece em 1992, numa entrevista gravada, então inédita, e em 2007- comanda o show. Ele próprio é consultor do programa. O documentarista, bem como seus depoentes, encampa a visão de fã. Não discute, não problematiza. O fazendeiro, advogado e corretor de imóveis, que estudou pintura e cinema no Museu de Arte Moderna de Nova York, continua sendo visto como homem simples, que passou incólume pelo mundo.


Manoel, sorrindo, diz que se compraz na invenção de uma mitopoética pessoal -e o documentário, jubiloso, embarca na fantasia habilmente urdida.


PAIXÃO PELA PALAVRA


Quando: estréia hoje, às 23h30


Onde: no Canal Futura’


 


BIOGRAFIA
Ivan Finotti


Sexo, moda & rock’n’roll


‘Todo santo dia, Maria Stella Splendore, 59, acorda às 3h30 da madrugada em sua casa cor-de-rosa. Sem despertador. Após exercícios de respiração, banho, chá e uma bolacha, a mulher de 1,70 m e 46 kg declarados glorifica Deus, recitando o mantra: ‘Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare’.


Ela canta as 16 palavras 1.728 vezes, numa velocidade de quatro palavras por segundo, o que lhe garante trabalho concluído em umas duas horas. Depois, Splendore passeia entre as dez vacas sagradas que coabitam, com 110 seres humanos, a fazenda Nova Gokula, em Pindamonhangaba, interior de SP, e vai ao templo amarelo rezar um pouquinho mais.


No ano passado, porém, ela interrompeu diversas vezes os serviços religiosos para se dedicar a outro ritual: escrever sua autobiografia, que será lançada amanhã, das 19h às 21h, na livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3170-4033).


O livro ‘Sri Splendore’ (algo como bela Splendore, em sânscrito) tem um quarto de suas 114 páginas (R$ 38, edição independente) tomadas pelo movimento para a consciência de Krishna. Outra parte trata de sua vida nos anos 70, e a primeira, de sua infância. É o segundo capítulo, ‘Vida de Celebridade’, com parcas 15 páginas, que promete alvoroço.


Ali descobrimos como a menina de 16 anos, de família milionária, se transformou na manequim exclusiva de Dener Pamplona de Abreu, estilista das estrelas nos anos 60.


Como se casaram em seguida, em cerimônia com cobertura ao vivo da TV. Como, semanas após o nascimento do primeiro filho, ela se envolveu com Roberto Carlos, em 1966. E como uma filha nasceu oito meses depois -e até hoje ninguém sabe se o pai foi o marido ou o amante.


‘Estive com os dois na mesma época. Meu casamento com Dener já não funcionava. Nunca tivemos a intimidade que eu esperava. Nossa casa era invadida pela imprensa e pelos amigos que iam beber uísque até as 9h da manhã. E então conheci o Roberto’, conta Maria Stella.


‘As pessoas me viam com o Roberto e comentavam. Dener ficou sabendo.’ Se não soubesse por uns, saberia por outros.


Naquele ano, Roberto Carlos mostrou a Maria Stella diversas músicas do que seria seu sexto long play. Antecipou, por exemplo, ‘Querem Acabar Comigo’, que, segundo ela, fazia referência ao estouro do ‘príncipe’ Ronnie Von em contraposição ao rei da Jovem Guarda.


Esposa de um amigo meu


Mas o disco trazia também a auto-acusatória ‘Namoradinha de um Amigo Meu’. Começa assim: ‘Estou amando loucamente/ A namoradinha de um amigo meu/ Sei que estou errado/ Mas nem mesmo sei como isso aconteceu’.


‘Não quero comentar sobre essa música’, diz Maria Stella. ‘Perguntem para o Roberto.’ Mas, procurado, Roberto também não quis comentar. Após nova insistência, Maria Stella solta: ‘Sempre soube que era para mim. Ele nunca disse? Então, não sei’, irrita-se.


‘Contei tudo a Maria Leopoldina quando Dener morreu, em 1978. Ela tinha 11 ou 12 anos. Na época, não havia exame de DNA. Hoje, não faz mais sentido. Não somos filhos nem pais de ninguém, somos instrumentos. Pai é Deus’, diz.


Maria Leopoldina, que preferiu não falar, segue os passos da mãe. É hare krishna e não tem preocupações financeiras. Única herdeira do clã Splendore (seu irmão morreu em 1993), casou-se três vezes, duas delas com homens de famílias igualmente ricas. Teve quatro filhos, sendo que a mais velha, de 20, deve dar à luz em abril, transformando Maria Leopoldina em avó aos 40 anos.


Gucci, Prada


Splendore diz que colocou um ponto final na história toda nos anos 80, quando se tornou hare krishna. ‘Virei celibatária, dei todas as minhas jóias para minha filha e fui viver com dois saris (roupa indiana).’


A renúncia terminou em 1992, quando se casou (pela quarta vez) com um devoto norte-americano. Moraram em diversos lugares, incluindo o Havaí. O casamento durou dez anos e, quando terminou, Maria Stella não teve forças para voltar à pobreza material.


‘Cansei de usar sari por causa do estereótipo. Estou celibatária, mas desta vez não renunciei aos sapatos Gucci, por exemplo. O que importa é continuar pregando’, diz, segurando uma bolsa Prada comprada no ano passado em Milão.


Na sexta passada, por causa da chuva que caía sobre Nova Gokula, ela renunciou momentaneamente aos Gucci. Mas escorregou na lama e não aprovou a novidade: ‘Mamãe já dizia, não pode andar de tênis quem nasceu para usar salto’.’


 


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Advogado de RC não vê invasão de privacidade


‘Para o advogado Marco Antonio Bezerra Campos -que conseguiu retirar de circulação no ano passado a biografia ‘Roberto Carlos em Detalhes’, de Paulo Cesar de Araújo-, o livro de Maria Stella Splendore não invade, legalmente, a privacidade do cantor.


‘A razão é que ela está falando sobre a própria vida. No outro caso, o autor escrevia sobre terceiros’, diz Campos. ‘O outro embasamento do processo de 2007 era que havia diversos fatos inverídicos na biografia. Se isso acontecer nesse novo livro, Roberto pode nos acionar. Mas ainda não o fez.’


A Folha procurou o cantor ontem, mas ele não fez comentários até o fechamento desta edição.’


 


DIVÓRCIO
Folha de S. Paulo


Ex-beatle Paul McCartney terá que pagar R$ 82 mi à ex-mulher Heather Mills


‘A Justiça do Reino Unido anunciou ontem que o ex-beatle Paul McCartney terá que pagar a sua ex-mulher Heather Mills 24,3 milhões de libras (cerca de R$ 82,7 milhões). Os dois -que se casaram em 2002 e têm uma filha, Beatrice, de 4 anos- anunciaram a separação quatro anos depois, em maio de 2006.


O ex-beatle e a ex-modelo não conseguiram chegar a um acordo financeiro no mês passado e, por essa razão, o juiz Hugh Bennet, do Tribunal Superior de Justiça de Londres, teve que decidir o valor do acordo. Como parte do acordo, Mills terá que utilizar 2,5 milhões de libras (R$ 6,6 milhões) para comprar uma casa em Londres.


A ex-modelo afirmou estar ‘satisfeita’ com a decisão. ‘Vai assegurar o meu futuro e o da minha filha.’


Com agências internacionais’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 18 de março de 2008


MENSALÃO
Fausto Macedo e Elizabeth Lopes


Gushiken diz que será absolvido


‘O ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) Luiz Gushiken afirmou ontem que está confiante na sua absolvição no caso do mensalão, no qual foi acusado por crime de peculato. Após depor por cerca de uma hora na 2º Vara Criminal Federal de São Paulo, ele declarou: ‘Estou confiante na minha absolvição. Sobretudo porque quatro ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitaram minha denúncia. De maneira que estou muito tranqüilo’. Gushiken disse ao juiz substituto Marcio Ferro Cataplani que a Secom não era responsável pela destinação de verbas estatais e nem tampouco dos ministérios para a área de publicidade.


No interrogatório, o ex-ministro destacou que sua gestão na Secom enfocou basicamente a reorganização da estrutura. E frisou que a secretaria não tinha nenhum poder decisório para liberação de verbas. Gushiken frisou que não tinha conhecimento de nenhum contrato com a Visanet e afirmou que nunca esteve com o publicitário Marcos Valério, apontado como operador do esquema de caixa 2 do mensalão. Ressalvou, contudo, que a Secom realizou reuniões com agências de publicidade e a de Valério pode ter eventualmente sido representada em alguma dessas reuniões. O ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP), acusado de crime de lavagem de dinheiro por ter supostamente participado do mensalão, afirmou ao juiz Cataplani que ‘não sabia’ do saque que um antigo assessor, José Nilson dos Santos, fez na boca do caixa do Banco Rural, agência da Avenida Paulista.


Luizinho declarou que ‘não participava da contabilidade do PT’ e afirmou que não tinha conhecimento do mensalão. ‘Acho muito difícil que tenha existido sem que ninguém tenha ficado sabendo’, disse. José Nilson, assessor de Luizinho, sacou R$ 20 mil no Rural em 23 de dezembro de 2003. Ao Conselho de Ética da Câmara, Luizinho afirmou que o dinheiro foi fruto de acordo entre José Nilson e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ‘sem seu conhecimento’.


‘Estou tentando demonstrar a violência de querer considerar que é possível que o líder do governo tenha de receber (dinheiro) para votar com o próprio governo’, disse Luizinho à saída da Justiça Federal. Ele foi líder do governo Lula na Câmara.


A ex-vice-presidente operacional do Banco Rural e uma das rés no caso do mensalão, Ayanna Tenório Torres de Jesus, esquivou-se das denúncias de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.


‘Sua função no banco não era de ordem financeira. Como vice-presidente operacional era responsável pela reestruturação administrativa’, afirmou seu advogado, Rodrigo Mendonça.’


 


TELES
Irany Tereza


Oi e BrT têm até o fim do mês para fechar acordo


‘O acordo entre os grupos Oi e Brasil Telecom (BrT) para a formação de uma nova empresa de telefonia só poderá ser efetivado entre setembro e dezembro. E mesmo assim se, na melhor das hipóteses, a proposta de reestruturação entre os acionistas das duas empresas for assinada nos próximos dias. Na semana passada, foram definidos aspectos importantes do acordo, entre eles a instituição de uma multa, com valor estipulado entre R$ 100 milhões e R$ 500 milhões, a ser paga pelos controladores da Oi à BrT, caso o processo fracasse, mesmo que por impedimento legal.


Segundo fontes que acompanham o processo, o atraso nas negociações, iniciadas em dezembro, levou à fixação de um prazo limite para a assinatura da proposta de reestruturação. Se não for batido o martelo ainda este mês, o projeto será abandonado. A incorporação da BrT pela Oi, vista com bons olhos pelo governo, não ocorrerá em qualquer condição. Não será firmado à revelia de qualquer dos acionistas, mesmo que operacionalmente isso seja possível.


É o caso do banco Opportunity. Embora a posição de Daniel Dantas – afastado da gestão da BrT e fora do bloco de controle da Oi – não seja determinante para o fechamento do acordo, a proposta não sai sem a sua assinatura. Há uma enorme preocupação em evitar questionamentos judiciais ou uso político de um novo litígio na campanha eleitoral que começa em junho. Dantas, fundos de pensão e Citigroup, acionistas da BrT, protagonizaram a maior disputa societária da história empresarial brasileira. Agora, tentam chegar a um consenso para eliminar as ações judiciais e ‘limpar’ a empresa resultante da incorporação da BrT pela Oi.


As informações de bastidores são de que Dantas, à revelia, ainda sairia desse negócio com R$ 1,1 bilhão. Na hipótese de concordar com todos os termos, embolsaria R$ 1,3 bilhão. Juntando-se outros pagamentos, como participação na Telemig e participações dispersas na cadeia societária, o saldo poderia chegar perto de R$ 2 bilhões. Na hipótese de fechamento de acordo sem a sua assinatura, poderia brigar na Justiça por indenização e sacar um pouco mais. Caso o negócio não saia, permaneceria na mesma posição de sócio sem poder de decisão. Segundo fontes, o convencimento agora é de que sem o aval de todos o negócio não sai.


Outro ponto importante já acertado foi uma espécie de ‘congelamento’ dos blocos de controle das operadoras, que continuariam a ser geridas de forma independente até que a Anatel formalizasse a mudança no Plano Geral de Outorgas, permitindo a incorporação. Durante esse prazo, não inferior a seis meses, nenhum deles poderia vender suas participações. As empresas poderiam até comprar outros ativos e prosseguir na gestão administrativa, mas ficariam ‘engessadas’.


O presidente da companhia está escolhido: Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi, nome indicado pelos sócios Andrade Gutierrez e La Fonte (Carlos Jereissati). Os fundos de pensão (Previ, Funcef e Petros) aceitaram participação minoritária no conselho de administração, mas impuseram o ‘quórum qualificado’ para decisões estratégicas, como a aprovação do orçamento. Por esse sistema, as decisões não são tomadas por maioria simples, mas por pelo menos dois terços dos votos.


NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL


PONTOS JÁ DEFINIDOS


Quórum qualificado: Os fundos de pensão não terão maioria no conselho de administração da nova operadora, mas será


instituído o quórum qualificado para todas as decisões


estratégicas


Congelamento: Depois da assinatura da proposta entre os acionistas da Oi e da BrT, os blocos controladores das


duas companhias ficarão congelados por um período de seis a nove meses


Multa: Caso o acordo não seja fechado, por impedimento legal, a Oi se compromete a pagar uma multa à BrT que vai de R$ 100 milhões a R$ 500 milhões


O QUE FALTA DEFINIR


Legislação: O acordo será condicionado à mudança regulatória. Os trâmites na Anatel para aprovação pelo governo não podem ser feitos em menos de seis meses


Pendência judicial: Opportunity, fundos de pensão e Citibank ainda precisam bater o martelo para a retirada das ações judiciais das quais são protagonistas. Em alguns casos, a retirada terá de passar por assembléia de acionistas’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Record condena cenas de Duas Caras


‘A Record declarou guerra contra a novela Duas Caras, da Globo. Anteontem à noite, a emissora destinou boa parte de seu Domingo Espetacular a um ataque à trama global, por conta das cenas de um linchamento lideradas pela personagem Edivânia (Susana Ribeiro), que foram ao ar na semana passada.


Na reportagem, que ficou mais de dez minutos no ar, o Domingo Espetacular acusou a Globo de ter preconceito de evangélicos e de ferir direitos constitucionais, entre outras coisas.


A matéria reproduziu ainda indignação de líderes evangélicos, telespectadores comuns e juristas sobre o assunto, além de exibir, praticamente na íntegra, a cena do ataque ao triângulo amoroso do folhetim.


A Globo, por meio de sua Assessoria de Imprensa, diz que: ‘Primeiro, é importante lembrar que novelas são obras de ficção. Segundo, em Duas Caras o que se pretende questionar é justamente o preconceito. Terceiro, não consideramos que a personagem em questão deva ser definida como religiosa: é uma fanática desequilibrada. Pessoas assim podem existir em qualquer religião. Rotulá-la de evangélica é que é uma visão preconceituosa.’’


 


ESCÂNDALO EM NY
Arnaldo Jabor


O governador que caiu e sua ‘decaída’


‘O flagrante que vitimou o governador de Nova York, revelando seu caso com a prostituta Kristen, fascinou o mundo. Por quê?


Bem… não houve uma real alegria pela vitória da moral ou da ética, não houve um regozijo pelo pecado punido. Houve, apenas, a delícia da verdade. Quando acontecem esses adultérios políticos, os rituais hipócritas do poder ficam desmoralizados, a pose cai, a proclamada ‘honradez’ fica nua e um doce alívio nos toma, pois, afinal, o governador era tão fraco e ‘pecador’ como todos nós. Claro que há os fundamentalistas da moral e feministas vingativas, mas, no macho comum, habita uma secreta solidariedade com o flagrado. No caso do Clinton, por exemplo, fiquei sempre do seu lado; acho apenas que ele podia ter escolhido uma estagiária melhor.


Desse governador não tive pena, pois era um inquisidor de costumes financeiros e sexuais. Aumentou a pena para quem freqüentasse prostitutas de 3 meses para 1 ano e depois se jogou na piscina do prazer. Fez tudo para ser desmascarado. Ele queria ser pego, como todo bom paranóico.


Elliot Spitzer não traiu a esposa – traiu misteriosamente a si mesmo. Traiu sua hipocrisia. Excitava-se em ser o oposto de si mesmo, era-lhe doce se refocilar na lama que condenara em júris e palanques. Deixar pistas e ‘bandeiras’ por toda parte fazia parte de sua perversão.


Em sua caretice louca, ele queria saber onde estava ‘sua verdade’. Ele era um repressor puritano ou um ‘putanheiro’? Isso; ele queria saber quem era.


O engano da opinião pública é achar que havia ou um ou outro. Não. Os dois eram um só. No fundo, queremos o bem ou o mal. Quando os dois se juntam, há um escândalo, seguido de um alívio. Nada mais fascinante que a porta aberta do bordel, nada melhor que o buraco da fechadura. O sucesso real do BBB se deve à esperança de ver os outros na cama, transando. Os psicanalistas chamam isso de ‘assistir à cena primária’…


As redes de prostituição hoje em dia (olhem na internet, irmãos…) são paraísos artificiais à disposição do mercado. Maravilhosas mulheres nos espreitam com uma promessa de felicidade infinita.


As prostitutas modernas preenchem uma necessidade do mercado de trabalho: o ritmo da produção tira o tempo do amor. Amor exige ócio, sonhos no ar, melancolias vagas, ciúmes, lágrimas. A prostituição atual é o ‘fast-food’ do amor.


A prostituta moderna não tem a timidez tosca das ‘mulheres-damas’ de antigamente. A prostituta moderna não se acotovela em prostíbulos acanhados (no mundo rico, claro). São executivas dos executivos. Em Nova York, elas têm cotação na ‘bolsa’ do sexo. São classificadas por ‘diamantes’ (diamonds). A nota máxima da gostosura é sete diamonds. Kristen era ‘four diamonds’.


Elas não são mais marginais ou excluídas, a não ser em explosões de hipocrisia como esta. Elas estão no centro do sistema, como os advogados, banqueiros ou dentistas. Antes, as ‘extraviadas’ eram o antônimo da santa esposa, eram uma extensão invertida do casamento e das famílias, para o pai compensar fora de casa a solidão do amor.


Hoje, elas substituem o amor romântico por seu simulacro. Além de lindas e felizes (N. Rodrigues me disse que nunca viu uma prostituta triste…), elas são o teatro, as atrizes da esposa perfeita. Satisfazem todos os desejos, não discutem a relação e, suprema alegria do machista, fingem não ter desejo além de servir. Elas clonam o amor. O papo de Pretty Woman já era; não querem ser ‘salvas’ por idiota romântico nenhum – preferem uma gelada aventura pela grana. Muitas são bem-casadas e ajudam os maridos.


Antes, nossas ‘pecadoras’ se escondiam pelos cantos, trêmulas de desonra. Agora não se envergonham do trabalho e não têm sentimento de culpa nenhum. Hoje, seu único pecado seria sentirem-se culpadas – o que atrapalharia sua produtividade. Conheci prostitutas sem o menor sentimento de vergonha (sim… sim… eu também já errei, irmãos…) Uma delas me deu uma aula de vida: ‘Eu sou duas. Uma é real e a outra é secreta. Só que eu não sei qual é a secreta e qual a real.’ Exatamente como o governador.


Havia no velho freguês de bordéis uma vaga fantasia de recuperação das ‘infelizes decaídas’. No ar dos prostíbulos flutuava a tristeza de um amor impossível. Havia uma repulsiva ‘bondade’ nos fregueses d’antanho, para aplacar a própria vergonha do delito:


‘Por que você caiu nessa vida?’ – perguntavam os hipócritas bordeleiros, antes do ato, se purificando.


‘Ah… meu noivo me fez mal, meu pai me expulsou…’ – gemia falsamente a rapariga. ‘Por que não larga esta vida?’ – sussurrava o canalha, superior e sinistro, tirando a roupa.


Por essas e outras é que elas se apaixonavam pelos cafetões boçais, que as espancavam com jubilosas bofetadas.


Hoje, elas te olham de igual para igual, ou melhor, com uma sutilíssima superioridade; fingem humildade, mas tiraram de nós o maior prazer, que era o sentimento de pureza moral em uma folga passageira – turistas limpos viajando no ‘Bas-Fond’ . Hoje, elas são malhadas, aerodinâmicas, sadias.


Não sentem nada por nós; talvez algum ‘nojo’ – os sujos somos nós.


Antigamente, vivíamos numa ‘féerie’ de gonorréias. Hoje, elas é que temem nossas doenças. A camisinha nos exclui, nos faz ridículos, com o pênis encapotado como um cachorrinho de suéter. Com a camisinha, você é o perigo venéreo; ela, a saúde.


Antigamente, ia-se ao bordel em busca de ilusões, hoje vamos cumprir uma obrigação de prazer executivo. Antes, o homem queria sentir-se um sultão no harém. Éramos os ‘sujeitos’ dos lupanares. Hoje, somos o objeto. Há um vento gelado nas saunas ‘relax for men’, limpas, rápidas e eficientes como uma lanchonete.


Há algo de gélida enfermeira na moderna prostituta. Há algo de McDonald’s nos prostíbulos contemporâneos.’


 


ARTE
Roberta Alves


O impressionante último retrato do ator Heath Ledger


‘Especialista em retratos hiper-realistas, Vincent Fantauzzo não tem conseguido passar muito tempo olhando para seu mais recente trabalho. O quadro retrata de maneira impactante Heath Ledger em três poses diferentes. No centro, o ator australiano tem o olhar fixo diante de si enquanto que seus dois outros ‘eu’ sussurram palavras inaudíveis aos seus ouvidos. O artista plástico, também australiano, começou a pintá-lo no dia 28 de dezembro, quando Ledger foi passar as férias de fim de ano em sua cidade natal, a ensolarada Perth, e só deu a última pincelada em 22 de janeiro, véspera de o ator ser encontrado morto em seu apartamento, vítima de overdose acidental de remédios.


‘Olhar por muito tempo para o quadro me emociona e ao mesmo tempo me dá calafrios, parece que ele ainda está ali diante de mim, posando’, diz Fantauzzo, que pintou o quadro especialmente para participar este ano do Archibald Prize, principal prêmio australiano para retratistas.


Não, a imagem hiper-realista de Ledger não foi a vencedora. Pelo menos não de fato. O júri confessou ter ficado em dúvida entre o trabalho de Fantauzzo e o retrato da artista plástica Del Kathryn Barton, mas acabou optando por dar o prêmio para esta última. O belo trabalho da artista, em que ela se retrata com os dois filhos, no entanto, não tem sido grande vencedor do público. Não há quem entre na Galeria de Arte de New South Wales, onde os 30 finalistas do prêmio estão expostos, e não fique impressionado com o belo trabalho de Fantauzzo. Depois da exposição, o pintor vai doar sua obra aos pais de Heath Ledger.’


 


 


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