Os jornais noticiam burocraticamente a reunião realizada na quinta-feira (8/1) em Paris, na qual o presidente da França Nicolas Sarkozy e a chancelar da Alemanha, Angela Merkel, propuseram uma reforma no sistema financeiro mundial.
A imprensa preferiu destacar em primeiro plano o apelo do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, por medidas dramáticas contra a crise. Lembrando que a expressão ‘dramática’, em inglês, não se refere especificamente a drama, mas a radicalidade, convém observar as diferenças entre a proposta dos dois chefes de Estado europeus e a declaração do presidente americano.
O que Barack Obama produziu foi um discurso, no qual procurou chamar a atenção do Congresso dos Estados Unidos para a necessidade de acelerar o processo de análise e aprovação do Plano Americano de Recuperação e Investimento.
O que os dois estadistas europeus produziram foi uma proposta de mudanças profundas nas instituições multilaterais que regulam a economia em todo o mundo.
Barack Obama falou para o público interno, Sarkozy e Merkel falaram para todas as nações, a partir de um entendimento europeu de que a crise exige mudanças mais ‘dramáticas’ do que simplesmente reestimular o mercado.
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair também é citado em alguns jornais, dizendo que a economia do século 21 não pode continuar sendo organizada por instituições internacionais criadas em meados do século 20.
Qual o caminho?
O pacote contra a crise proposto por Obama tem alcance local, ainda que se considere o peso da economia americana no contexto global. Trata de cortar impostos para 95% das famílias de trabalhadores em 2009, além de grandes investimentos em infra-estrutura, gastos sociais e ajuda aos estados mais afetados pela crise.
A tese dos líderes europeus é de que, ao lado das ações emergenciais, é preciso produzir instrumentos adequados à nova ordem econômica mundial. O ponto de partida seria a criação de um Conselho Econômico das Nações Unidas, similar ao Conselho de Segurança, destinado a regular a aplicação de uma futura Declaração por uma Economia Racional de Longo Prazo.
Ao oferecer mais destaque à declaração ‘dramática’ de Obama em detrimento da proposta de reformas nascida na Europa, a imprensa indica que caminhos vai apoiar: o do remendo no sistema econômico ou o das mudanças mais profundas?