Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa e a farinha do mesmo saco

Não há mais dúvida que a queda do PT caiu na cabeça da Marilena Chauí como o Muro de Berlim fez com os eurocomunistas dos anos de 1980. Não há dúvida que a queda do PT atingiu Giannotti do mesmo modo que a queda do muro pegou a CIA de calças curtas.

José Arthur Giannotti sabia tanto do PT quanto a CIA sabia da URSS. Marilena sabia tanto do PT quanto os eurocomunistas sabiam de Gorbatchov.

E a mídia? Ela também se enganou. Atirou em Lula, forjou notícias, criou mentiras e acertou. Todos nós que escrevemos em favor de Lula nos primeiros dias da crise, e que somos pessoas inteligentes, fomos mudando de opinião. Todos os que criticavam Lula, no começo da crise, e possuem algum juízo, também mudaram de opinião. Marilena, Giannotti e a Veja não mudaram. A primeira acha que vai ter a última palavra, o segundo acha que sabia de tudo e a Veja não acha nada, apenas quer vender a revista e, para tal, aposta em qualquer escândalo.

Sob suspeita

Os intelectuais oficiais, ou seja, os que defendem o governo e a oposição, como o caso de Giannotti e Marilena, estão desacreditados como os eurocomunistas e CIA ficaram desacreditados. Mas a imprensa não. Esta, mentindo ou não mentindo, fazendo ou não jornalismo marrom, teve um ganho. Ela atirou no que viu e acertou no que não viu. Agora, no entanto, está meio sem saber para onde ir. Pois a crise não acabou, mas ela não está rendendo vendas tanto quanto rendeu nos primeiros dias.

Os escândalos são muitos. Os implicados também. A TV parou de dar destaque para a CPI. E a imprensa escrita, que depende da TV, está avaliando se deve ou não continuar naquilo que ela gostaria que acreditássemos: que fizeram o que fizeram por dever cívico.

O país está se segurando das pernas na economia. Mas a política está destroçada. Uma saída de Lula – que funciona, agora, apenas como um fantasma – levaria quem ao poder? José Alencar? Mas ele também não está sob suspeita? E o terceiro homem? Ora, Severino está mais que desgastado. Onde iríamos parar?

O príncipe e o sapo

O governo não tem mais quadros. Nunca tivemos um ministério tão medíocre e inexpressivo quanto agora. É certo que os ministros de Lula nunca foram lá tão conhecidos como os secretários de governos passados, em prefeituras, do próprio PT. Mas o caso é que agora já estão nos cargos de primeiro escalão os que estavam no quarto ou quinto escalão.

A política vai mal. Ao mesmo tempo, as CPIs não andam. Então, só há uma maneira de sairmos da crise. Temos de ter a imprensa cobrindo as CPIs. E então vamos para as eleições do ano que vem.

Muitos dizem: ‘Puxa, mas ficaremos parados um ano?’ Ora, mas quando foi diferente? Lembram dos ‘cinco anos para Sarney’? Lembram do final do governo Collor ou do final do governo Itamar? Lembram do final do governo FHC? Todos esses governos democráticos tiveram, em seus últimos anos, um desenvolvimento péssimo, cercado pelo marasmo. Então, se o governo Lula vai seguir a praxe, qual a razão de estranhar?

Mas e as lições que podemos tirar dessa crise? Eu vou tirar as minhas, para meu uso.

Eis a primeira lição que aprendi, acho que de uma vez. Intelectuais que dizem que sabem das coisas, não sabem. Essa crise está sendo ótima para mim, pois agora não vou mais dar ouvido nenhum a esse tipo de gente sabichona.

Eis a segunda lição que aprendi, acho que de uma vez. Quem só critica um lado, é estúpido. Quem critica um lado de modo suave para se dar ao direito de criticar o outro de modo duro, é desonesto e, no limite, também estúpido.

O príncipe, o sapo, o neto do ACM e a garotada do PSOL – é tudo a mesma coisa. Como Lula dizia, ‘farinha do mesmo saco’. O saco era grande, cabia até ele. Nisso tudo, só há uma moral: sem a imprensa livre, não ficaríamos sabendo que essa frase do Lula era verdadeira. Isso adianta? Adianta!

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Filósofo, autor de Caminhos da Filosofia (Rio de Janeiro: DPA, 2005); professor do programa de pós-graduação interdisciplinar da Universidade São Marcos