Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Imprensa e política

A polarização extremada (e vazia de conteúdo) na política do Pará se repete na sua imprensa. Assim como PSDB e PMDB se digladiam entre os extremos da gangorra do poder, os Maioranas e os Barbalhos concentram o poder da informação no Estado. O senador Jader Barbalho controla o grupo RBA, de presença pouco expressiva em matéria de televisão, mas na posição de líder no rádio e no jornal impresso, no qual o seu veículo é o Diário do Pará, em circulação há 32 anos.

Os Maiorana têm o jornal diário mais antigo, O Liberal, na ativa há 68 anos, 48 dos quais sob o controle da família. Mas têm ainda outro dos três jornais diários de Belém. É o Amazônia, que, na edição de hoje, comemorou a chegada dos seus 15 anos, com muitos anúncios nas suas 112 páginas, em formato tabloide (equivalentes a 56 no tamanho padrão, que é tanto o do Diário quanto de O Liberal).

É uma façanha para comemorar mesmo. O Amazônia foi concebido para tirar leitores do maior concorrente do grupo Liberal. Com muitas cores, notícias rápidas, cobertura de polícia e esporte, mulheres nuas ou em trajes sumários, colunas e formato de mais fácil leitura, realmente começou a se estabelecer avançando sobre o público do jornal dos Barbalhos.

Mas o Diário fechou a porta ao manter o seu preço de um real nos dias de semana e dois reais aos domingos, metade dos praticados porO Liberal, e ter uma diretriz editorial semelhante à do Amazônia, com um caderno inteiro de noticiário policial e outro de esportes. O efeito dessa concorrência foi o crescimento do Amazônia à custa do irmão mais velho, um indesejado efeito canibalesco, já agora, porém, inevitável. Fechar o Amazônia pode ser perigoso, prejudicando ainda mais o jornal de maior prestígio da “casa”.

Como o único jornal filiado ao IVC, o Diário, não publica os dados do instituto sobre a vendagem, e O Liberal se desfiliou do mais importante órgão de aferição da vendagem de impressos (porque a manipulava escandalosamente), enquanto o Amazônia nunca teve auditagem, não se sabe ao certo quais as posições dos concorrentes. Mas levantamentos empíricos dão à liderança ao Diário e se dividem sobre quem é o segundo, se o Amazônia ou O Liberal. Nos domingos, provavelmente, o segundo, por causa do alto preço do irmão mais velho.

Como três jornais diários conseguem se manter num mercado pouco expressivo como o de Belém? Uma resposta pode ser extraída das páginas da edição especial de aniversário do Amazônia: 17 delas eram anúncios de órgãos oficiais: nove de prefeituras municipais (Belém e Ananindeua com duas páginas; Castanhal, Tucuruí, Marabá, Abaetetuba e Moju com uma página cada), quatro do governo do Estado, uma do Banco da Amazônia, Tribunal de Contas dos Municípios, da Assembleia Legislativa do Estado e da Câmara Municipal de Belém.

Despesa que esses órgãos fazem por imposição política ou pressão direta do próprio veículo, na busca pela renovação de alianças oportunas para momentos necessários, não para informar o público – que, no Pará, nesse quesito, é tratado a pão e água, se tanto.

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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)