Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grevistas tentam forçar jornais a publicar manifesto contra reformas trabalhistas

A Confederação Geral dos Trabalhadores – CGT, central sindical francesa, foi acusada de uma tentativa “escandalosa” de se apoiar na imprensa depois de ter impedido quase todos os jornais nacionais diários de serem impressos como parte de uma crescente ação grevista nacional contra as mudanças propostas pelo governo para a legislação trabalhista.

Os sindicalistas em greve impediram as gráficas e a distribuição de funcionar e permitiram que um único jornal, o diário de esquerda L’Humanité, fosse impresso depois que este concordou em publicar um texto opinativo com as exigências sindicais, escrito por Philippe Martinez, líder da CGT. Isto deflagrou acusações, por parte dos editores dos jornais, de uma tentativa “vergonhosa” de pressionar os meios de comunicação.

Soube-se que representantes da CGT entraram em contato com o sindicato dos editores de jornais diários franceses [Syndicat de la Presse Quotidienne Nationale] na quarta-feira (25/05), dizendo que insistiam que todos os jornais publicassem um comunicado previamente escrito por Martinez, no qual ele propunha que as medidas propostas pelo governo fossem abandonadas.

L’Humanité, que já foi o órgão oficial do Partido Comunista Francês [em 2001, o PCF vendeu 20% do jornal à TF1, do grupo Bouygues, e à editora Hachette, do grupo Lagardère] e, apesar de ser independente há mais de 15 anos, mantém vínculos fortes com suas origens políticas, foi o único jornal que publicou o comunicado. Todos os outros jornais foram impedidos de circular pela central sindical, que fechou as gráficas onde são impressos na noite de quarta-feira.

Nossos leitores são as vítimas”

“A CGT decidiu impedir a impressão dos jornais que se recusaram a publicar, sob coação, um panfleto propondo que o governo retirasse sua proposta de leis trabalhistas”, disse Nicolas Beytout, dono do jornal L’Opinion, num editorial na versão digital. “Essa escandalosa interferência pela central sindical no conteúdo dos meios de comunicação deve ser denunciada como um ataque deplorável à democracia”, acrescentou.

Laurent Joffrin, editor do jornal Libération, de centro-esquerda, declarou à rádio France Inter: “Nunca publicamos um comunicado sob pressão e nunca o faremos.” Ele denunciou a exigência da CGT como “vergonhosa e estúpida”.

Didier Lourdez, da CGT, disse à rádio France que a central sindical não havia feito “exigências, nem imposições”, mas que havia proposto que todos os jornais dessem espaço ao comunicado de Philippe Martinez. “A liberdade de imprensa e a democracia têm que funcionar nos dois sentidos”, disse Lourdez. “Somos nós que estamos sendo reféns do governo, que quer a aprovação desta lei.” O sindicato dos editores de jornais disse, numa declaração, que os jornais estavam sendo mantidos reféns pela central sindical num conflito político com o governo que nada tinha a ver com os jornais. “Nossos leitores são as vítimas”, dizia a declaração.

Nos últimos dois meses de protestos contra a lei, os jornais foram impedidos de imprimir e distribuir seus exemplares em duas ocasiões – em março e abril.

Na quinta-feira (26/05), todos os jornais nacionais franceses estavam disponíveis, gratuitamente, online.

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Angelique Chrisafis é correspondente do Guardian em Paris