A partidarização do noticiário diminuiu na imprensa a contextualização histórica de suas fontes. A mídia tradicional tem se tornado palco de relatos sem descrição mínima das pessoas que estão sendo usadas como seus portadores de informação.
Se uma das atividades do jornalismo é contextualizar a informação, vivemos uma das fases mais capengas nisso. O momento atual aponta a necessidade ainda maior de se interpor aos relatos dados às notícias para localizar melhor no tempo e no espaço o fato. Mas não é bem isso que está acontecendo. Esse problema tem sido identificado com maior frequência em matérias com fontes usadas pela grande imprensa alinhadas ao seu pensamento. Muitas não vêm sendo apresentadas a contento, o que é uma desinformação ao receptor da notícia – principalmente quando a fonte trata de temas que a ela também pode ser objeto de embaraço.
Talvez os casos mais gritantes ocorram no espaço dedicado pela grande imprensa à oposição no Congresso Nacional, seus membros que ocupam cargos-chave na casa e “supostos” líderes de movimentos contra o governo.
Se levantamentos apontam que quase a metade de deputados federais e senadores sofrem algum tipo de investigação pela Justiça, é de se fazer valer entre jornalistas que fontes desse tipo devam ter dobrada atenção quando tratadas em reportagens.
A situação fica mais aguda quando a memória do próprio consumidor da notícia vem à mente com algo desabonador relacionado à fonte ali apresentada, mas que absurdamente foi omitida pelo veículo.
Ambiente contaminado
Há momentos até patéticos: fontes sendo tratadas como paladinos da ética, para discorrer sobre moralidade e retidão na administração pública, com histórico de suspeitas de desvios de recursos e improbidade administrativa.
Esse tipo de falha, de não contextualização da fonte na matéria, quando ela deveria ser tratada como “porta-voz por conhecimento de causa”, é um dos piores exemplos do mau jornalismo. Ela dissolve a imagem da imprensa como ambiente do aprimoramento das instituições e aperfeiçoamento do debate.
Um veículo da grande mídia pode argumentar que a não menção de dados comprometedores de fontes pode estar relacionado à posição que elas ocupam – a chamada fonte oficial.
Mas em um ambiente contaminado como este (o político) e de um sistema (o político) reconhecidamente com problemas, não faz muito sentido dar tanta trela a quem se deveria ter redobrado cuidado com o que se ouve – a não ser que o jornal, a revista e a emissora de televisão estejam querendo usar a fonte em prol de seus interesses.
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Augusto Diniz é jornalista