Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa descobre o partido do crime

O Globo e o Estado de S.Paulo abrem a semana com grandes contribuições para o entendimento de dois fenômenos presentes no noticiário, mas nem sempre relacionados entre si pela imprensa: o crime e a política.


O Globo apresentou no domingo (30/3), e reforça na edição de segunda-feira, o resultado de um trabalho sobre o funcionamento do Estado paralelo que se instalou em bairros pobres do Rio de Janeiro. O Estadão fez uma radiografia do PCC, o grupo criminoso com raízes na corrupção policial em São Paulo, que se prepara para consolidar seu poder político e institucional.


A reportagem do Globo, publicada no final de semana e com uma continuidade na edição de segunda-feira, testemunha os processos de julgamento e sentenciamento de moradores das favelas que atrapalham os negócios dos traficantes, ou que simplesmente desobedecem o bizarro código social que os criminosos impõem às populações abandonadas pelo poder público. As cenas descritas pelo jornal carioca deveriam provocar uma intervenção imediata do Estado naquelas comunidades, para livrá-las da tirania do crime.


A reportagem do Estadão, publicação também iniciada no final de semana, começa destrinchando a contabilidade da organização chamada PCC – Primeiro Comando da Capital, revelando que o negócio do crime cresceu 511% em dois anos. Mostra também que a facção que dominou os presídios paulistas durante o governo Geraldo Alckmin tem conexões internacionais e faz parte de uma aliança para o tráfico de cocaína que pode envolver até mesmo as Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.


Na edição de segunda-feira (31/3), o Estadão revela que o PCC tem planos adiantados para influenciar na política, por meio de doações a tesoureiros de partidos e apoio a certos candidatos.


Jornalismo de verdade


Recentemente, neste Observatório da Imprensa, foi feita a afirmação de que os jornais deveriam atentar para os sinais de que o crime organizado estaria atuando em municípios importantes no sentido de influenciar as eleições deste ano.


A citação foi feita a partir da observação de conexões no noticiário sobre ações do crime organizado e a estrutura dos casos de corrupção descobertos pela Polícia Federal em centenas de prefeituras. Noticiou-se, há pouco tempo, por exemplo, que em 70% dos municípios paulistas há suspeitas de irregularidades envolvendo prefeitos e vereadores.


Como um fenômeno desse tipo não ocorre espontaneamente, trata-se claramente de uma ação organizada, que só pode ser levada adiante com uma estrutura como a que caracteriza o PCC. O Estadão afirma na segunda-feira (31) que a organização criminosa usa como modelo a estrutura do Ira – Exército Republicano Irlandês, que migrou do terrorismo para a representação política.


O trabalho do Globo e do Estado mostra como a imprensa, quando quer, pode fazer jornalismo de verdade, e ajudar a sociedade a se prevenir de riscos como esse.


Agora, trata-se de dar seguimento às investigações, ajudando o leitor a observar que candidaturas podem estar nascendo com a mão do crime.