A Folha de S.Paulo está desnorteando seus leitores desde a semana passada. Entre sexta-feira (26/8) e domingo, o jornal vem projetando declarações do advogado Rogério Buratti com denúncias de propina da Leão Leão, de Ribeirão Preto, envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O problema é que o jornal não deixa claro se a propina denunciada foi para o bolso do então prefeito Antonio Palocci, ou se percorreu outra trajetória, passando da Leão Leão para a prefeitura e, depois, para o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.
Na sexta-feira, o jornal trouxe reportagem com o titulo ‘Buratti confirma na CPI acusação contra Palocci’, acompanhada do complemento ‘Ex-assessor afirma que ministro recebia propina em Ribeirão, mas nega ter provas’. As duas chamadas e o texto da reportagem não deixam margem para dúvidas: Palocci embolsava o dinheiro da propina.
O alarde das linhas iniciais da reportagem é abafado no segundo parágrafo, onde se lê que Buratti ‘disse acreditar que Palocci sabia do suposto esquema da propina de R$ 50 mil, apesar de nunca tê-lo visto participando de negociações’. Mais adiante, corrige novamente a rota das informações iniciais informando que ‘a CPI [dos Bingos] divulgou uma planilha apreendida na Leão Leão onde aparecem supostos pagamentos mensais de R$ 50 mil à Prefeitura de Ribeirão. O promotor de Justiça Aroldo Costa Filho, de Ribeirão, disse que o documento pode ser uma prova do pagamento’.
No dia seguinte, a propósito da reação dos investidores diante da entrevista concedida pelo ministro da Fazenda no domingo (21/8), o editorial ‘Palocci e os mercados’ mudou o trajeto da propina. Ao contrário da reportagem do dia anterior, o texto diz que ‘a empresa Leão Leão pagava uma ’caixinha’ de R$ 50 mil mensais à prefeitura de Ribeirão Preto para reforçar as finanças do PT. E o então prefeito Palocci conheceria o esquema’.
Decisão urgente
No domingo (28/8), o jornal trouxe entrevista com o próprio Buratti na manchete principal ‘Buratti diz que é fácil prova propina’. A reportagem propriamente dita negou o editorial do dia anterior e reafirmou a versão da sexta-feira: ‘Advogado afirma que é possível comprovar pagamento mensal de R$ 50 mil de uma empreiteira para o então prefeito de Ribeirão’. De novo, o jornal não deixa dúvidas: ‘O advogado Rogério Buratti diz que não é missão impossível obter provas de que a empresa Leão Leão pagava R$ 50 mil mensais ao atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, quando ele era prefeito de Ribeirão Preto pela segunda vez, entre 2001 e 2002’.
Após vários parágrafos com indícios de que realmente o ministro da Fazenda embolsou a propina, a última resposta da entrevista com Buratti deixa tudo como estava.
‘Como eu disse na CPI, para mim o ministro Palocci é um homem íntegro, correto e tem um papel muito importante nesse país. Eu não assacaria nenhum tipo de calúnia, nenhum tipo de coisa que eu não conseguisse provar que viesse a atingir a honra do ministro. Então, eu falei o que me foi dado a conhecer sobre o ministro Palocci em relação a esse assunto. Mais do que isso eu teria sido leviano’.
O jornal precisa decidir com urgência qual caminho da propina é o mais próximo da realidade. [Postado às 10h46 de 29/8/2005]
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Jornalista, editor do blog Contrapauta