A polêmica sobre o processo judicial que o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), pretende abrir contra o jornalista-cineasta Arnaldo Jabor retrata uma situação em que os dois lados têm razão. Jabor se mostrou indignado com os suntuosos gastos dos parlamentares em Brasília. Ele tem razão, o gasto é de fato uma imoralidade. O presidente da Câmara, por outro lado, classificou com inadmissível o fato de Jabor ter qualificado os parlamentares de “canalhas” no comentário na rádio CBN e anunciou que vai processar o colunista.
Chinaglia também está com a razão: Jabor se excedeu na crítica e expressou sua indignação de forma bastante imprópria, de forma que cabe, sim, um processo por calúnia e difamação. Na Justiça, o jornalista terá que provar que os 513 deputados federais são “canalhas” ou buscar um acordo, uma retratação. Tudo isto faz parte da democracia, não há nada de autoritário no ato do petista Chinaglia. Em uma conversa de botequim, qualquer brasileiro pode falar o que bem entende sobre a atuação dos parlamentares e de suas progenitoras, mas o mesmo não se aplica aos profissionais da imprensa. Acusou, tem de provar o que diz.
O lendário jornalista Paulo Francis morreu em conseqüência do stress causado por um milionário processo movido pela Petrobrás, nos Estados Unidos, depois de ter dito na televisão, direto de Nova York, que a direção da empresa roubava o erário. Francis sabia que seria condenado porque não tinha como provar a afirmação feita. Sabia também que a pena seria dura e viria rápida, porque Justiça norte-americana é célere e justa. Enfartou antes da condenação chegar.
Chinaglia deveria lamentar que Arnaldo Jabor tenha dito o que disse em solo brasileiro e não no mesmo programa Manhattan Connection em que substituiu Francis, inclusive falando muitas vezes de Nova York. Hoje, aliás, a vaga que já foi de Francis e Jabor é do indefectível Diogo Mainardi, outro que corre sério risco de enfrentar processos mais complicados, tamanhas são as barbaridades que diz ou escreve em sua coluna na revista Veja. Como o caso se deu no Brasil e não nos Estados Unidos, Jabor vai escapar desta, seus advogados provavelmente conseguirão um acordo para livrar a cara do ex-cineasta. E é provável que ele continue expressando sua indignação de forma pouco apropriada, da mesma forma que Paulo Francis nunca parou, até morrer. No fundo, é uma pena, porque Jabor é talentoso e tem desperdiçado seu precioso tempo com bobagens udenistas e um anti-lulismo que beira a paranóia. Quem sabe voltar a fazer cinema não lhe fizesse bem…
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Blog do autor: Entrelinhas