Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Informação, politização e espírito crítico

Das poucas coisas que se pode afirmar haver unanimidade no Brasil é em relação à dinâmica no cenário político-social. Não há discordâncias, ou objeções, em afirmar que o marasmo é algo que passa longe.

As investigações, reportagens, apurações, especulações e análises são acompanhadas cada vez mais pela população. Os recursos e a tecnologia para a disseminação da informação asseguram ao brasileiro o privilégio de estar informado em minutos. São os grandes jornais diários e reportagens nos telejornais que colocam nas discussões em rodas de amigos, nas redes sociais e até em festas de aniversário pautas como economia, composição de ministérios, escândalos, entre outras. Se até pouco tempo atrás o cidadão não sabia distinguir a figura de um senador de um deputado, hoje ele comenta sobre possíveis irregularidades de contas no exterior do presidente da Câmara. Isso, sem tirar o olho daquele que preside o Senado e que não carrega carisma algum.

Todavia, a quantidade de informações que circulam e também o notório aumento do interesse e disposição do brasileiro nas discussões políticas não garantem avaliações saudáveis.

É certo que qualquer situação que requer maturação demanda tempo. É um processo. A politização de um povo não é diferente. À medida que se percebe um aumento no interesse popular sobre a política no Brasil (o que é salutar) e a diminuição no hábito do costume passivo em paralelo aos crescentes registros de manifestações nas ruas, é preciso considerar que certos exageros são esperados, e até naturais, nesse processo de maturação.

Se há alguma dúvida sobre as considerações feitas até aqui, basta conferir a qualquer momento a temperatura nas redes sociais no que tange à política. A forma de discutir o tema pelo brasileiro não se diferencia muito das maneiras com que se fala de futebol. A característica em ser passional e visceral já faz parte e traz certo orgulho. Porém, às vezes, é preciso cautela e tranquilidade. Falar sobre partidos políticos da mesma maneira como se avaliam times de futebol não é algo que se possa classificar como viável. O pior é quando a postura é adotada também por veículos de comunicação.

Conceitos

Mas é preciso questionar alguns conceitos, ou mesmo vícios de pensamento. Um exemplo é quando se traz à discussão o tema impeachment. Entre prós e contras, argumenta-se sobre quem pode substituir a presidente. Ao se tomar ciência do substituto, indaga-se se vale a pena a troca. Outros preferem se abster de lados e comentam que a cassação de um presidente sempre é ruim, que o melhor seria se todos os lados entrassem em acordo. Porém, ninguém avalia que impeachment é uma consequência e não retaliação. A lei é aplicada em caráter punitivo a uma irregularidade, para condenar uma prática, e não uma possibilidade dependente de variáveis em um cenário. É preciso avaliar se houve irregularidades, ou não.

Em outros temas polêmicos, também sempre há certa polarização. Mas, às vezes, o discurso por igualdade não acompanha a prática. Um exemplo são os segundos que a imprensa usa para relatar a morte de policiais frente aos minutos em narrações fleumáticas e reconstituições de mortes de infratores. A observação aqui não significa que há disputa, ou que o contrário seria o correto. O certo seria a igualdade de exposição e disposição da mídia. Pender somente para um lado, seja qual for, e somente por uma maneira, seja qual for, compromete a construção de uma opinião pública saudável.

Há outros diversos temas igualmente polêmicos, sobre religião, laicidade, homofobia, tolerância e até definição de família, mas, enquanto todos se dividem em dois polos, é preciso que a imprensa quebre o paradigma.

Saber que não há imparcialidade não significa que não precise se buscar. Pois o esforço e o exercício em querer ser imparcial podem levar o profissional de comunicação a certo distanciamento emocional da pauta – o que frutifica em uma matéria menos passional e tendenciosa.

É preciso rogar aos futuros jornalistas, à próxima geração de comunicadores que hoje se encontra nas salas de aula, que é imprescindível investir tempo em apuração, em ouvir todos os lados de uma pauta – mesmo que algum seja contrário à sua opinião pessoal. Em dias em que é comum qualquer um se intitular jornalista, o profissional vai fazer a diferença ao praticar os fundamentos do Jornalismo. Apesar de ser paradoxal, em tempos de avanços é preciso retornar.

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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista.