Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Irritação e relações tensas

Delcídio contraria PT e elogia imprensa


Copyright O Globo, 17/11/2006


O senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-líder da bancada petista e ex-presidente da CPI dos Correios, subiu à tribuna do Senado ontem para deixar clara sua discordância em relação às críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às elites e à imprensa brasileira. Em linha oposta à dos principais dirigentes petistas, Delcídio elogiou o trabalho da mídia:


– A imprensa desenvolveu um papel fundamental nesses últimos 18 meses. Dias difíceis enfrentamos, e a imprensa nada inventou: registrou o que acontecia. Ela não é responsável pelos escândalos. Temos de virar a página, para que esse segundo mandato do presidente seja de êxito e de todos, como diz o velho lema ‘Um Brasil de todos’.


O senador disse que é preciso olhar para todos os segmentos da sociedade, numa referência às críticas de Lula às elites, sem citar o nome do presidente:


– Não podemos criticar as elites. O que são elites? Há elites de parlamentares, professores, cientistas, intelectuais, médicos. Um presidente representa todos, e não segmentos da sociedade, por mais que se deva ter uma atenção especial àqueles que precisam da mão generosa do Estado.


Senador diz que petistas têm que reconhecer erros


Para Delcídio, o PT, mais do que ninguém, precisa reconhecer os seus erros. Na verdade, o senador não consegue disfarçar a mágoa com o tratamento recebido pelo governo e o próprio partido desde a aprovação do relatório final da CPI dos Correios, que antecipou de certa forma o pedido de abertura de inquérito de 40 pessoas, entre elas várias estrelas do PT.


– Temos de ter humildade para reconhecer aquilo em que erramos, no PT especialmente, e fazer uma avaliação rigorosa dos nossos passos. Temos de ter coragem de reconhecer que erramos e de não culpar quem fez um trabalho grande, quem teve um posicionamento isento ou quem, em seu dia-a-dia, no Senado ou na Câmara, honrou o PT no Congresso – disse Delcídio, reforçando as cobranças do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) pela retomada da reforma da Previdência.


– Não podemos, de uma hora para outra, acreditar que, com algumas canetadas, vamos fazer o Brasil crescer 5%. Por outro lado, precisamos tomar medidas cuidadosas. Portanto, prudência e canja de galinha não fazem mal para ninguém – advertiu Delcídio: – Ficamos discutindo economia, mas será que temos uma legislação que garanta os investimentos? Essa é a pergunta que tem de ser feita.


 


‘Irritação e ataques à imprensa’


copyright O Globo, 17/11/2006


Depois do descanso de vários dias em Paris, na primeira entrevista à imprensa brasileira o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, voltou ontem a demonstrar irritação com perguntas sobre as divergências e insatisfações no PT com o rumo da formação do novo governo Lula. Por várias vezes, disse que não era obrigado a aceitar ‘teses impostas’ pela imprensa.


Ontem à tarde, Garcia começou entrevista sobre o encontro de dirigentes do PT com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que estava aberto a todas as perguntas. Mas, em seguida, demonstrou toda a sua contrariedade com perguntas de que não gostava, como, por exemplo, se o PT havia sido enquadrado por Lula no encontro. Garcia respondeu várias vezes que os jornalistas estavam querendo ‘impor uma tese’.


Perguntado se o presidente Lula havia dado um recado ao PT sobre a redução do espaço do partido para abrigar outras legendas como o PMDB, Garcia respondeu:


– É uma tese sua. O presidente não deu nenhum recado. Não me obriguem a aceitá-la. Se me derem tempo, eu respondo. Foi uma reunião extremamente positiva, na qual foi reafirmada, da parte dele e da nossa, a disposição de constituir um governo de coalizão, fruto de um segundo turno vitorioso, que aplastou a oposição politicamente. O PMDB, para nós, não é problema. O PMDB é uma grande solução – disse o presidente do PT.


Em outro momento, ao ser lembrado que vários integrantes do PT reclamaram publicamente da provável perda de cargos, Garcia disse que falava em nome da ‘comissão política do PT’ e pediu que a imprensa não tentasse criar divergências inexistentes:


– Não queiram me impor uma problemática que não é a problemática que discutimos. Não queiram fazer uma reunião que não houve lá. Não queiram criar divergências dentro do partido. Não é um partido monocórdio, então, num partido plural, é natural que as pessoas exponham seus pontos de vista.


O momento de maior irritação ocorreu no fim da entrevista, quando o petista já se encaminhava para o elevador do Palácio do Planalto e continuava cercado pelos jornalistas. Ele reagiu diante da observação de que ‘teria muito trabalho para acalmar os companheiros’:


– Não queira me impor suas teses. Qual é o seu jornal? Não pense que, porque você é do Estado de S.Paulo, que as teses do Estado de S.Paulo são as verdadeiras – disse Marco Aurélio Garcia, entrando no elevador.


E ainda disse que a ‘despaulistização do PT’ é um tema ‘grato à imprensa’.


 


Presidente do PT se irrita com jornalistas


Copyright Folha de S.Paulo, 17/11/2006


O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, irritou-se com repórteres, ao final de entrevista ontem, quando questionado sobre se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha dado um recado de que a sigla vai perder cargos no segundo mandato.


‘Isso é uma tese sua. Não me obrigue a aceitá-la. O presidente não deu nenhum recado para o PT’, disse Garcia a um repórter que lhe perguntou se a defesa de um governo de coalizão significava a perda de espaço do PT.


Antes, Garcia já havia se irritado com as perguntas sobre essa discussão.


‘Não queiram me impor a problemática que não é a problemática que nós discutimos. Não queiram fazer uma reunião que não houve lá’, afirmou.


Questionado sobre as críticas que Lula fez à imprensa na Venezuela, quando disse ter sido ‘agredido’ pela mídia brasileira, Garcia disse que estava na Europa, em viagem, e não viu nada.