Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Ivson Alves

‘No domingo dia 1º de fevereiro, o Fantástico levou ao ar uma entrevista com Willian, mais velho das três crianças que viram sua mãe, Flor de Liz, ser assassinada pelo irmão de um traficante dono da casa na qual a família morava sem saber a quem pertencera e que tinha sido expulso da favela. É matéria de dar nó na garganta (na verdade, foi calculada e editada com habilidade buscando exatamente este efeito), como todas as semelhantes que poderiam ser feitas por este Bananão a fora

Infelizmente, talvez por vontade demais de acertar (ou por aquela cegueira que acomete quem trabalha num ambiente que olha demais para os índices de audiência), a matéria aproximou ainda mais Willian, e suas irmãs Tamires e Larissa, da mira dos bandidos. É que, no meio da matéria, o menino diz com todas as letras que pode reconhecê-los. Assim:

‘A gente não tava dormindo não, a gente tava conversando. Aí eles chegaram, pularam o muro. Era dois, um moreninho, pouquinho branquinho, mulato e o outro era preto. Um tava de touca que dava para aparecer o rosto e o outro também.(…)’.

Quem assiste a matéria (está em www.redeglobo.com.br/fantastisco) vê com clareza que poderia haver um corte no momento em que o garoto vai dizer que a touca deixou-o ver o rosto de pelo menos um dos bandidos – mas mais provavelmente dos dois. Se a frase seguinte tivesse sido cortada, ainda restaria alguma dúvida aos facínoras de que pudessem ser identificados. Agora não. Agora eles têm certeza de que precisam apagar Willian.

Há, é claro, o argumento de que é dever do Estado impedir o assassinato dos órfãos dando-lhes proteção. Bom argumento, mas que não leva em conta o país, e o estado da federação, em que vivemos. Se as autoridades policiais cumprissem com seu dever de dar segurança ao cidadão, Flor de Liz não teria sido assassinada e nada disso teria acontecido, não é verdade? Além disso, o tal programa de proteção a testemunhas é levado tão pouco a sério que há testemunhas que o dispensam por terem razões (boas e muitas) para desconfiarem que ficarão mais seguras longe de qualquer contato com a polícia.

Veja bem. Não estou dizendo que a matéria não deveria ter ido ao ar. Respeito o argumento de que preciso mostrar a dor e o desamparo dos pobres num país cuja mídia parece só se chocar quando diretores de tevê da própria Rede Globo têm a casa, localizada no Joá, invadida, mesmo que ninguém tenha sido morto (graças a Deus). Aliás, gosto deste argumento e, principalmente, do corolário dele: o Fantástico deveria ter um quadro fixo sobre assassinatos e demais tipos de violências cometidos contra os pobres. Poderia se chamar ‘O rodo da semana’ (caso ficasse num único caso) ou ‘O rodo em revista’ (se fosse uma panorâmica das violências por todo o Brasil).

O problema, assim, não foi a matéria ter ido ao ar, mas a falha na edição, que aumentou o perigo para a segurança de Willian e suas irmãs, que já não era pequeno. Creio que este descuido aponta mais uma vez para a necessidade de os jornalistas, especialmente aqueles em cargo de decisão, refletirem como estão praticando o jornalismo. Pensar sobre até que ponto a busca pela obtenção de maiores índices de audiência leva ao exagero a exigência de dar ‘dramaticidade’ às matérias de tevê (e jornal também), colocando em risco não só a integridade jornalística como também a física e moral das pessoas e da sociedade as quais, supostamente, tenta ajudar.

Sinergia – Este caso também chama a atenção para uma ‘sinergia imagética’ entre os jornais e a tevê, no caso do mesmo grupo econômico. Como se pode depreender na própria matéria do Fantástico, o drama de Willian e suas irmãs só chamou a atenção da produção do programa devido à bela foto do Globo na qual as crianças em (conveniente) escadinha observam um policial lacrar a porta da casa em que tinham vivido. Não fosse a foto, é lícito supor que Willian não teria aparecido no Fantástico. O que, no caso dele, teria sido muito melhor.’

 

TV GLOBO

Daniel Castro

‘‘Diarista’ e ‘Direção’ emplacam na Globo’, copyright Folha de S. Paulo, 9/02/04

‘A grade de programação que a Globo lança a partir de 13 de abril terá dois dos quatro programas de humor que a emissora testou no final de ano. ‘A Diarista’, de Glória Perez, com Claudia Rodrigues, e ‘Sob Nova Direção’, com Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães, foram os aprovados pela Central Globo de Programação.

‘Papo de Anjo’, com Claudia Gimenez e Dan Stulbach, não emplacou como seriado, mas vai virar quadro do ‘Fantástico’ –como era o projeto original. ‘Carol & Bernardo’, o menos popular de todos e o que deu menor audiência entre os pilotos do final de ano, não vingou. Segundo a Globo, o problema foi incompatibilidade de agenda dos protagonistas, Andrea Beltrão e Du Moscovis.

Os novos programas começam a ser gravados em março. A nova grade da programação da Globo a partir de abril será apresentada à cúpula da emissora em reunião amanhã à tarde.

A configuração será a seguinte: ‘A Diarista’ entrará às terças, após ‘Casseta & Planeta’. ‘Carga Pesada’ e ‘Sexo Frágil’ (que teria só dez episódios, mas ganhou sobrevida após ser muito bem avaliado em pesquisa com telespectadores) serão exibidos às sextas, após ‘Globo Repórter’.

Aos domingos, depois do ‘Fantástico’, a Globo volta a ter humorístico, com ‘Sob Nova Direção’. Nessa linha, está previsto também um novo quadro para o ‘Fantástico’, sobre bastidores da TV.

OUTRO CANAL

Berlinda Será anunciado nesta semana o nome do novo diretor de classificação indicativa do Ministério da Justiça, no lugar de Mozart da Silva, exonerado na semana passada por ter classificado os telejornais policiais ‘Cidade Alerta’ (Record) e o ‘Brasil Urgente’ (Band) para as 21h. O substituto é de confiança da secretária nacional de Justiça, Claudia Chagas, e não é funcionário público.

Volante 1 Ex-agente de Xuxa, o argentino Victor Tobi negocia com duas redes brasileiras (uma é o SBT) uma megapromoção que irá sortear o carro, um Toleman, com o qual Ayrton Senna subiu ao pódio pela primeira vez, em 1984, no GP de Mônaco.

Volante 2 O Toleman, que vale US 1 milhão, pertence ao milionário argentino Paco Mallorca. A idéia de Mallorca e Tobi é ganhar dinheiro com ligações pelo sistema 0300. A emissora que fechar o negócio irá exibir um programa em 1º de maio, décimo aniversário da morte de Senna.

Traço Fora do ar na MTV desde o final de 2002, o desenho ‘South Park’ reestréia na emissora em 2 de março.

Redondo Novo canal pago de esportes, ainda em fase experimental na Tecsat, o NSC fechou a transmissão do Campeonato Paranaense de futebol para todo o país, menos Paraná.’

 

 

7 DIAS SEM TV

Leila Cordeiro

‘Menos TV, mais vida’, copyright Comunique-se, 9/02/04

‘Você já imaginou viver algum tempo sem assistir TV? Esquecer novelas, telejornais, os programas femininos de dicas e receitas ou os policiais do fim da tarde? Você acha que conseguiria essa façanha ou já se considera irremediavelmente escravizado e não conseguiria viver sem a programação nem sempre (ou quase nunca) de bom gosto oferecida pelas redes de TV?

Numa coisa todos concordam: mais do que uma diversão saudável, a televisão virou um hábito, talvez um vício, e a pessoa só se dá conta dessa escravidão quando, por algum motivo, é obrigada a ficar longe do hipnotismo da telinha.

Foi assim que uma família nos Estados Unidos se sentiu quando fez essa experiência. A professora de um dos filhos do casal lançou o desafio à turma: ficar uma semana sem ligar a TV. Depois, cada criança escreveria uma redação contando como foi a experiência e suas consequências positivas ou negativas.

A família do menino encampou o desafio e embarcou junto. A primeira providência foi desligar da parede a tomada de todos os aparelhos de TV da casa e procurar alternativas para preencher o tempo, agora livre, deixado pelo vazio televisivo.

O resultado foi surpreendente. Exatamente naquela semana estavam sendo disputados os jogos decisivos do campeonato de basquete da NBA, um dos esportes de maior apelo popular nos Estados Unidos. O que fazer? Bem, em vez de ficar sentada num sofá comendo pipoca e bebendo refrigerante, a família deixou a preguiça de lado e foi ao estádio, assistir as partidas ao vivo.

Em outra noite, visitaram amigos que não viam há muito tempo. Outra parte do tempo foi preenchida com reuniões familiares, depois do jantar, quando liam as notícias nos jornais, colocavam em dia os assuntos de escola dos filhos e o trabalho dos pais, um diálogo raro que há muito tempo não se lembravam de ter tido. Os meninos passaram a fazer o dever de casa cedo sem as amarras dos horários em frente à TV. No tempo que sobrou, criaram alternativas interessantes como jogos de carta e de tabuleiro, com a participação de toda a família. E ir pra cama mais cedo passou a ser um bom programa.

Não sei se uma família brasileira, onde a TV ocupa o papel principal no entretenimento da família, até porque a maioria não tem dinheiro para outros divertimentos, suportaria uma semana sem sua diversão favorita e… única. A verdade é que a TV passou a ter tal importância que muita gente certamente, enquanto lê a coluna, já estará pensando: ‘Deus me livre, sem televisão vou fazer o quê da vida!’.

Não estou aqui pregando soluções radicais. É claro que a TV faz falta no dia a dia das pessoas. Meu desejo é que esse assunto provoque a reflexão dos leitores. Ficar sentado muitas horas em frente a uma tela de TV pode transformar-nos em robôs, preguiçosos e sedentários, vivendo emoções virtuais e fictícias. Quem sabe, se as pessoas pudessem dividir melhor o tempo teriam muito mais a lucrar, implementando hábitos de vida saudáveis que com toda certeza resultariam numa numa maior união da família?

Pra encerrar, lanço o mesmo desafio aos leitores do DR. Quem toparia fazer a experiência? Sete dias sem ligar a TV. Cartas para a redação, mas não vale mentir.’