Circula hoje [terça, 31/8] pela última vez a edição impressa do Jornal do Brasil, fundado há 119 anos, no Rio. De agora em diante, o JB terá apenas a versão na internet, um recurso para superar os problemas financeiros da empresa. O passivo acumulado chega a R$ 800 milhões, em dívidas trabalhistas e fiscais.
A crise financeira se agravou na década de 90 até que, em 2001, a família Nascimento Brito arrendou a marca JB para a Docasnet, empresa de Nelson Tanure. No ano passado, outra marca de jornal arrendada pelo empresário, a Gazeta Mercantil, também deixou de circular.
Na sua página na internet, o JB – que chegou a tirar 230 mil exemplares aos domingos no fim dos anos 60 – lista 50 pontos sobre a nova fase do jornal. Num deles, se vangloria de ser o primeiro jornal 100% digital, garante que 150 pessoas estarão envolvidas no processo digital e que ‘o Jornal do Brasil está caminhando para uma nova e melhor fase’. Mas, na Redação, o clima era de luto. Dos 50 jornalistas que trabalham na casa, só 10 devem ficar na versão digital. Procurado pelo Estado, o empresário Nélson Tanure não quis falar.
A Casa Brasil, no Rio Comprido, na zona norte, onde funcionava parte do jornal, já estava desde ontem [segunda, 30/8] com faixa de aluga-se. A Redação da versão digital continuará funcionando no prédio anexo.
Capas históricas
Pedro Grossi, que presidia o jornal, foi contra a decisão de acabar com o jornal em papel. ‘Não posso avaliar nem fazer juízo sobre a opinião do dono. Ele acha que o tecnológico será mais lucrativo’, lamentou. Segundo Grossi, o jornal estava com tiragem de 30 mil exemplares (desde 2008, o JB não era auditado pelo Instituto Verificador de Circulação, IVC).
O custo mensal para colocar o jornal na banca estava em torno dos R$ 3 milhões, disse ele. ‘Fico muito triste com o fim do JB, mas torço para que o Tanure consiga dar ao leitor brasileiro um produto de qualidade’. O Jornal do Brasil é responsável por edições memoráveis da história da imprensa brasileira, principalmente no período da ditadura militar. Ficou famosa sua edição de 14 de dezembro de 1968, sobre o AI-5.
Para burlar a censura imposta pelos militares, publicou na primeira página, uma fictícia previsão do tempo. ‘Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras.’ Na mesma edição, à direita, uma chamada para uma efeméride: ‘Ontem foi o Dia dos Cegos’.
Também ficou famosa a primeira página do dia seguinte ao golpe militar no Chile, em 1973. Para driblar a censura brasileira que proibia manchetes sobre episódio, o JB fez uma edição sem títulos garrafais, nem fotos. Na primeira página, com o lugar da manchete em branco, foi publicado um longo texto sobre a morte de Salvador Allende, emoldurada apenas pelo serviço de classificados.