Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais atraem novos investimentos

A compra do Diário de S. Paulo por J. Hawilla, dono do Grupo Traffic, é o mais recente exemplo do dinamismo da indústria brasileira de jornais. Esse mesmo empresário vem ampliando a penetração de sua rede de jornais diários Bom Dia, em franca expansão no interior do Estado de São Paulo, lançando novas edições em diferentes cidades.

Ainda nesta semana [passada], o Valor Econômico informou que o grupo de Vitorio Medioli, dono de O Tempo e Super Notícia, de Belo Horizonte, pretende investir R$ 150 milhões na compra de mais jornais em Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. A Tarde, de Salvador, estuda o lançamento de um jornal popular na Bahia, para enfrentar seu concorrente Correio, cuja circulação cresce rapidamente. Na semana anterior, foi lançado um novo jornal de negócios, Brasil Econômico, para tentar ocupar o espaço deixado pelo fechamento da Gazeta Mercantil.

Uma das grandes surpresas positivas da imprensa foi o surgimento de um novo jornal popular em Manaus, Dez Minutos, cuja circulação quase triplicou de outubro do ano passado até agosto deste ano, chegando a 64,3 mil exemplares diários.

Outra indicação da vitalidade do meio é que o número de jornais diários em circulação no Brasil mais que dobrou em 20 anos, dos 288 publicados em 1988 para os 678 registrados em 2008 – que foi o ano em que mais jornais se leram no Brasil: 8,5 milhões de cópias por dia.

Padrão de retomada

Esse panorama contrasta com o declínio contínuo da circulação da imprensa diária na maioria dos países do Primeiro Mundo, especialmente nos Estados Unidos. E contradiz as constantes previsões que auguram o fim dos jornais.

Mas é prudente suspender qualquer manifestação de euforia. Como ocorreu com todos os outros negócios, o movimento ascendente dos jornais brasileiros foi bruscamente interrompido, no último trimestre do ano passado, como consequência da crise econômica global. A partir daquela data, tanto a circulação como a receita de publicidade entraram num processo de queda da qual só agora começam a se recuperar.

Ao contrário dos países desenvolvidos, onde a perda de leitores da imprensa diária é aparentemente inexorável, independentemente da situação da economia, no Brasil, assim como em outros países emergentes, a circulação dos jornais acompanha a evolução dos ciclos econômicos. Em épocas de crise, como aconteceu a partir do ano 2000, a venda de jornais cai, para depois recuperar-se em tempos de expansão, como também ocorreu a partir de 2004.

No Brasil, a retomada depois das crises tem sido bastante desigual. A maioria dos jornais não consegue recuperar todos os leitores perdidos durante a retração econômica, mas essa perda é mais do que compensada, no conjunto do setor, com o lançamento de novos diários, quase todos de cunho popular.

Também desta vez, o padrão de retomada da indústria parece repetir-se. O que significa que deve continuar crescendo o peso e a participação dos jornais populares dentro do setor, com um encolhimento das vendas dos diários tradicionais.

Mercado descoberto

Isso não significa, porém, que os jornais formadores de opinião, de repercussão nacional ou regional, tenham perdido importância. Pelo contrário. Continuam influentes e participando de maneira decisiva da formação da agenda de debates e de prioridades do país.

Dada a ausência de fortes agências nacionais de notícias no Brasil, comuns em outros países, os principais diários passaram a distribuir suas informações e suas principais colunas para a maioria dos outros jornais, que dependem deles para as informações de fora de seus Estados. E a difusão do seu conteúdo pela internet reforça sua relevância na sociedade. Além disso, em termos econômicos, os principais jornais entraram, desde meados da atual década, numa fase de invejável prosperidade. Mas para manter sua influência terão de evitar, no médio prazo, novas erosões em sua circulação.

A recente onda de lançamentos de diários populares pagos mostra que a indústria de jornais – assim como outros setores da economia que passaram a dar atenção às classes C, D e E – está descobrindo um vasto mercado que antes ignorava. A inesperada entrada de um novo jornal de economia indica confiança para investir no segmento oposto. Esses novos negócios e as ofertas para compra de jornais já existentes sugerem que as profecias sobre o fim da mídia impressa no Brasil são algo precipitadas.

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J. Hawilla compra o Diário de S.Paulo

Marili Ribeiro # O Estado de S.Paulo, 16/10/2009 

O jornal que nasceu abolicionista e republicano em outubro de 1884, quando São Paulo era apenas uma pequena província, sob o nome de Diário Popular e que, depois de mais de um século e diferentes proprietários foi rebatizado Diário de S.Paulo, mudou de mãos. O novo dono é o empresário e jornalista José Hawilla, que tem negócios na área de marketing esportivo, com a empresa Traffic, controla a TV Tem, afiliada da Rede Globo, e também a Rede Bom Dia, que edita jornais em cidades do interior de São Paulo.

Desde 2001, quando teve o nome trocado para Diário de S.Paulo, o jornal pertencia às Organizações Globo, companhia que controla a maior rede de empresas de comunicação do país, entre as quais a Rede Globo de televisão. O valor da operação não foi revelado. Mas, segundo estimativas, o valor pago ficou pouco acima de R$ 100 milhões – valor bem inferior ao pago pela própria Globo ao adquirir o jornal do ex-governador paulista Orestes Quércia, o penúltimo dono. Na época, os valores também não foram revelados, mas a compra foi avaliada em R$ 180 milhões.

Em comunicado divulgado no final da tarde de ontem [15/10], a Infoglobo, empresa que administra os produtos editoriais das Organizações Globo, informou que a decisão de venda foi motivada por uma proposta apresentada por J. Hawilla. A companhia da família Marinho, dona da Globo, mantém parceria há sete anos com o empresário por meio da TV Tem, que mantém quatro emissoras afiliadas da Globo que abrangem 318 cidades. Já a rede de jornais Bom Dia é composta por nove jornais diários que circulam em 100 cidades. As edições são preparadas nos municípios de Jundiaí, Bauru, Sorocaba e São José do Rio Preto e distribuídas por franquias em Osasco, região do ABC paulista, Marília, Catanduva e Fernandópolis. No total, a Rede Bom Dia atingiu tiragem de 19.171 exemplares em agosto deste ano, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC).

‘A Traffic reconhece o grande valor da marca Diário de S.Paulo e pretende utilizá-la, juntamente com os demais ativos, na expansão territorial e ampliação da relevância de sua rede no mercado paulista’, diz o comunicado. No mesmo documento, o diretor-geral da Infoglobo, Paulo Novis, diz que ‘a oportunidade da venda dos ativos relacionados ao título Diário de S.Paulo está em linha com a estratégia da empresa de focar seus esforços nas áreas e segmentos onde é líder inconteste e ampliar investimentos em novos negócios analógicos e digitais’.

Novos títulos

Com o Diário de S. Paulo, a rede de J. Hawilla chega à capital, onde não atuava e onde a disputa é bem mais acirrada. Executivos do meio publicitário e consultores do mercado dizem que o empresário tem intenção de alterar a atual linha editorial da publicação, hoje de cunho mais popular, para com isso ampliar seu público e concorrer com títulos tradicionais do mercado paulistano no segmento, como o Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo.

Hawilla confirma seu interesse em mexer no jornal, desde o design até o público-alvo, mas diz que não vai focar no público de maior poder aquisitivo. ‘Quero tornar o jornal competitivo, mas vai continuar sendo popular, embora um popular mais qualificado’, diz. Por enquanto, a equipe de 380 funcionários do jornal não deve ser alterada.

O empresário não estaria só motivado pelo bom momento vivido pelo setor jornalístico no Brasil, com novos títulos na praça, como o caso do recém-lançado Brasil Econômico. Hawilla faz questão de enfatizar: ‘Continuo acreditando em jornal impresso. Não acho que vai acabar. Não vai sofrer enfarte. Vai encontrar espaço em meio aos outros canais de comunicação.’

Insucesso

Na época da compra do Diário Popular, a Infoglobo, que detém os jornais O Globo e Extra, ambos no Rio de Janeiro, comunicou a intenção de atingir uma tiragem média de 300 mil exemplares com o jornal que, então, detinha uma tiragem média declarada de 125 mil exemplares. Mas não chegou nem perto disso. O último dado disponível do Instituto Verificador de Circulação (IVC) informa que o Diário de S.Paulo, em agosto de 2009, teve tiragem de 54.969 exemplares.

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Globo vende jornal Diário de S.Paulo para Traffic

Folha de S.Paulo, 16/10/2009

As Organizações Globo decidiram vender o Diário de S.Paulo, quinto maior jornal em circulação no Estado de São Paulo, para o empresário José Hawilla, dono da Rede Bom Dia de jornais do interior de São Paulo e da Traffic, empresa de marketing esportivo. O valor do negócio não foi revelado.

A Rede Bom Dia tem nove jornais próprios e franqueados em Jundiaí, Bauru, Rio Preto, Fernandópolis, Marília e Catanduva, com circulação média somada de 16.918 exemplares diários no Estado de janeiro a agosto, segundo o IVC (Instituto Verificador de Circulação).

A compra do Diário, que emprega 380 funcionários, deve marcar a entrada da rede na capital. O jornal tem circulação média de 59.230 exemplares no Estado, atrás de Folha (233.757), O Estado de S.Paulo (199.295), Agora (do grupo Folha, com 85.730) e Lance (65.852).

Fundado em 1884, o então Diário Popular foi comprado em 2001 pelo grupo Globo do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia por cerca de R$ 200 milhões. Único título do grupo carioca em São Paulo, a proposta era concorrer no Estado tanto com os jornais populares quanto com os de circulação nacional. Para isso, decidiu-se remover o ‘Popular’ e mudar o nome para Diário de S.Paulo. Diante da dificuldade para se reposicionar no mercado paulista, o jornal redefiniu seu padrão visual e editorial, e voltou-se de novo ao segmento popular em 2007.

Além dos jornais e da Traffic, J. Hawilla, como é conhecido, é dono da TV TEM, afiliada da Rede Globo em São José do Rio Preto, Bauru, Itapetininga e Sorocaba. O empresário iniciou a carreira como jornalista esportivo e se tornou chefe de Esportes da TV Globo antes de se voltar para o marketing esportivo. Passou a ser o grande intermediador da transmissão de jogos pelas televisões.

Tinha acordo com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) na década de 1990 pelo qual recebia percentual em todos os contratos de transmissão de jogos. Hoje, compra e vende direitos de jogadores de futebol que empresta a clubes. Só com jogadores movimentou dois fundos de R$ 40 milhões.

Em nota à equipe do Diário, o diretor-geral da Infoglobo, Paulo Novis, disse que a Traffic pretende usar o Diário na ‘expansão territorial e ampliação da relevância’ da rede no mercado paulista. ‘[A venda] Está em linha com a estratégia da Infoglobo de focar seus esforços nas áreas e segmentos onde é líder inconteste e ampliar seus investimentos em novos negócios analógicos e digitais’, afirmou Novis.

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Jornalista, autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo