Quem, como eu, lê o jornal L’Humanité todo dia – na França ler um cotidiano todo dia é lê-lo de segunda a sábado, já que eles fazem uma edição para o fim de semana e não circulam domingo – teve uma surpresa no feriado de 14 de julho, a festa nacional : oL’Huma não estava nas bancas.
Um parêntese: na França, quem não pode deixar de ler jornal impresso no domingo – ah, essa dependência do papel ! – tem que comprar o jornal de Arnaud Lagardère chamadoJournal du Dimanche, que é tudo menos um jornal de esquerda. Mas quebra o galho de quem quer saber o que se passou na véspera e para isto precisa, como um vício, folhear um jornal. Para os não-viciados, a internet quebra o galho no domingo. E para uma grande maioria de cidadãos, sobretudo os mais jovens, ela é a única fonte de informação de cada dia.
A ausência doL’Humanité das bancas no 14 de julho não é surpresa para um jornal com uma tiragem pequena, lutando com dificuldade para sobreviver, apesar do peso histórico e político que já teve.
Em época de crise, a ausência nas bancas em certos feriados não é mais recurso de pequenos como o antigo ‘órgão oficial do Partido Comunista Francês’ para tentar diminuir as perdas.Libération eLe Figaro, dois dos mais vendidos cotidianos franceses, anunciaram recentemente que vão estar ausentes das bancas em alguns feriados.Les Echos,La Tribune eLa Croix já não saem em certos dias feriados.
Le Figaro anunciou que vai deixar de sair dia 15 de agosto, 25 de dezembro e 1° de janeiro.Libération escolheu o feriados de 8 de maio, a quinta-feira de Ascensão, o dia 11 de novembro, o 25 de dezembro e 1° de janeiro para fazer forfait.
Edições especiais
Obviamente, quando algum acontecimento espetacular no mundo ou na França justifique, os dois sairão com edições especiais. Segundo Francis Morel, diretor-geral doFigaro, as vendas nos dias em que o jornal vai deixar de sair não são significativas e a economia justifica plenamente a medida. Nos domingos como em alguns feriados, somente 60% dos jornaleiros estão abertos no país e alguns jornais regionais já deixavam de circular em alguns dias feriados. Os jornais gratuitos não circulam durante as férias de verão e de inverno, além dos dias feriados, já que são dirigidos às pessoas que tomam metrôs e trens para ir ao trabalho.
A diminuição das edições anuais dos jornais impressos pode ser interpretada como um sinal dos tempos.
Ouvido pelo jornalLe Monde, o conselheiro do grupo Schibsted, Frédéric Filloux, acha que esse pode ser o início de uma tendência que dentro de alguns anos pode levar os jornais a saírem apenas duas ou três vezes por semana. O leitor de jornal será um consumidor especial, disposto a pagar um preço elevado por um produto de luxo em relação à internet. Ele diz que isso já se desenha com o aumento do preço doNew York Times, que passou de 1,5 a 2 dólares.
Um número restrito de leitores estará sempre disposto a pagar um preço elevado pelo papel e os anunciantes vão mirar nesse alvo.
******
Jornalista