Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais planejam cobertura do primeiro aniversário

Às vésperas do aniversário de um ano da devastação causada pelo furacão Katrina na região da costa do Golfo do México, jornais que ainda se recuperam da tragédia encontram-se diante de um dilema sobre qual postura tomar: dar ao maior desastre natural da história dos EUA o merecido reconhecimento ou não trazer à tona memórias muito dolorosas para os leitores.


Conforme observam os editores dos jornais da região, a cobertura pós-Katrina nunca parou de fato desde o desastre ocorrido no dia 29/8/05. ‘Todo dia é dia de Katrina‘, afirmou Stan Tiner, editor do Sun Herald, de Biloxi, que dividiu com o Times-Picayune, de Nova Orleans, o prêmio Pulitzer pela cobertura da tragédia. ‘Isto está tão fluido que é sempre necessário estarmos tratando do assunto’. Peter Kovacs, editor do Times-Picayune, tem a mesma opinião. ‘Evidências do que ocorreu na região ainda estão aqui, as memórias estão ainda muito recentes. Há lugares que não estão muito diferentes de quando foi retirada a água da cidade’, observa ele.


Em memória ao desastre


Ainda assim, estes jornais e o Advocate, de Baton Rouge, estão relembrando um ano de Katrina com mais destaque do que é apresentado na cobertura cotidiana – a maior parte deles com foco no futuro e nos planos de reconstrução e de melhorias. O Sun Herald parece ser o mais ambicioso, e publicará uma série com seções especiais, a partir desta sexta-feira (25/8) até terça-feira, dia 29/8, aniversário da tragédia. ‘É um investimento massivo’, afirma Tiner. Além da série, o jornal – que atraiu atenção nacional no ano passado por ter publicado uma grande quantidade de editoriais sobre a situação pós-Katrina –, também divulgará um editorial relacionado ao furacão todos os dias em que a série for publicada. ‘Nós reconhecemos o poder das páginas editoriais locais’, observa ele.


No Times-Picayune, que recebeu dois prêmios Pulitzer por sua cobertura das conseqüências do furacão, os editores lançaram um livro sobre o desastre, com 192 páginas de fotos e matérias divulgadas no ano passado. Kovacs afirma que o jornal publicará matérias durante oito ou nove dias a partir deste fim de semana, mas não serão preparadas seções especiais. Segundo o editor, 20 repórteres escreverão artigos relacionados ao Katrina. ‘As matérias serão em sua maior parte focadas em como a cidade está agora. Serão no mínimo duas páginas por dia, talvez duas a quatro matérias diárias. Nosso objetivo é dar às pessoas mais tempo para digerir as notícias’, diz. O jornal está pedindo depoimentos dos leitores, que serão publicados no jornal impresso e também na versão online. ‘Tivemos muita sorte no ano passado com o material que os leitores nos enviaram. Tentamos atrair os leitores para continuarem contando suas experiências’, ressalta Kovacs.


Em Baton Rouge, a editora-executiva Linda Lightfoot, do Advocate, que hospedou diversos funcionários do Times Picayune após o desastre, também pede a participação dos leitores. ‘Estamos encontrando pessoas que apareceram nas fotos que tiramos e vendo como elas estão’, conta. O jornal vai publicar uma série de três dias a partir de domingo (27/8). ‘A cobertura do Katrina foi muito grande durante o ano passado; queremos fazer algo diferente agora’.


Para Kovacs, o furacão, de diversas maneiras, afetou Nova Orleans mais do que o 11/9 afetou Nova York. Embora o número de mortos no atentado terrorista tenha sido muito maior, a devastação de Nova York como região não foi tão severa. ‘É possível viver em Nova York sem lembrar do 11/9. Não é possível viver em Nova Orleans sem lembrar do 29/8’, compara. Informações de Joe Strupp [Editor & Publisher, 22/8/06].