Às vésperas do aniversário de um ano da devastação causada pelo furacão Katrina na região da costa do Golfo do México, jornais que ainda se recuperam da tragédia encontram-se diante de um dilema sobre qual postura tomar: dar ao maior desastre natural da história dos EUA o merecido reconhecimento ou não trazer à tona memórias muito dolorosas para os leitores.
Conforme observam os editores dos jornais da região, a cobertura pós-Katrina nunca parou de fato desde o desastre ocorrido no dia 29/8/05. ‘Todo dia é dia de Katrina‘, afirmou Stan Tiner, editor do Sun Herald, de Biloxi, que dividiu com o Times-Picayune, de Nova Orleans, o prêmio Pulitzer pela cobertura da tragédia. ‘Isto está tão fluido que é sempre necessário estarmos tratando do assunto’. Peter Kovacs, editor do Times-Picayune, tem a mesma opinião. ‘Evidências do que ocorreu na região ainda estão aqui, as memórias estão ainda muito recentes. Há lugares que não estão muito diferentes de quando foi retirada a água da cidade’, observa ele.
Em memória ao desastre
Ainda assim, estes jornais e o Advocate, de Baton Rouge, estão relembrando um ano de Katrina com mais destaque do que é apresentado na cobertura cotidiana – a maior parte deles com foco no futuro e nos planos de reconstrução e de melhorias. O Sun Herald parece ser o mais ambicioso, e publicará uma série com seções especiais, a partir desta sexta-feira (25/8) até terça-feira, dia 29/8, aniversário da tragédia. ‘É um investimento massivo’, afirma Tiner. Além da série, o jornal – que atraiu atenção nacional no ano passado por ter publicado uma grande quantidade de editoriais sobre a situação pós-Katrina –, também divulgará um editorial relacionado ao furacão todos os dias em que a série for publicada. ‘Nós reconhecemos o poder das páginas editoriais locais’, observa ele.
No Times-Picayune, que recebeu dois prêmios Pulitzer por sua cobertura das conseqüências do furacão, os editores lançaram um livro sobre o desastre, com 192 páginas de fotos e matérias divulgadas no ano passado. Kovacs afirma que o jornal publicará matérias durante oito ou nove dias a partir deste fim de semana, mas não serão preparadas seções especiais. Segundo o editor, 20 repórteres escreverão artigos relacionados ao Katrina. ‘As matérias serão em sua maior parte focadas em como a cidade está agora. Serão no mínimo duas páginas por dia, talvez duas a quatro matérias diárias. Nosso objetivo é dar às pessoas mais tempo para digerir as notícias’, diz. O jornal está pedindo depoimentos dos leitores, que serão publicados no jornal impresso e também na versão online. ‘Tivemos muita sorte no ano passado com o material que os leitores nos enviaram. Tentamos atrair os leitores para continuarem contando suas experiências’, ressalta Kovacs.
Em Baton Rouge, a editora-executiva Linda Lightfoot, do Advocate, que hospedou diversos funcionários do Times Picayune após o desastre, também pede a participação dos leitores. ‘Estamos encontrando pessoas que apareceram nas fotos que tiramos e vendo como elas estão’, conta. O jornal vai publicar uma série de três dias a partir de domingo (27/8). ‘A cobertura do Katrina foi muito grande durante o ano passado; queremos fazer algo diferente agora’.
Para Kovacs, o furacão, de diversas maneiras, afetou Nova Orleans mais do que o 11/9 afetou Nova York. Embora o número de mortos no atentado terrorista tenha sido muito maior, a devastação de Nova York como região não foi tão severa. ‘É possível viver em Nova York sem lembrar do 11/9. Não é possível viver em Nova Orleans sem lembrar do 29/8’, compara. Informações de Joe Strupp [Editor & Publisher, 22/8/06].