Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 21 de maio de 2007
GOVERNO LULA
No Paraguai, Lula é atacado por jornal local
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem, por volta das 16h45 locais (17h45 em Brasília), para sua primeira visita oficial ao Paraguai, sob uma chuva fina que ajudava a esfriar o clima na capital. Na imprensa local, a recepção também não foi nada calorosa.
O ‘ABC Color’, principal jornal do país, publicou na capa de sua edição de ontem um editorial de página inteira intitulado ‘Brasil, um país imperialista e explorador’. O editorial critica Lula por não rever o Tratado de Itaipu, ‘assinado pelas costas do povo paraguaio em épocas de ditadura militar’. Entre outros termos, o texto diz que o povo paraguaio é obrigado a suportar ‘um roubo descarado’.
O editorial diz que a posição ‘imperialista’ do Brasil pode ser responsável por ‘situações de violência física entre cidadãos de ambos os países’.
Fontes do governo brasileiro minimizaram a importância do editorial, dizendo que críticas ao Brasil são comuns na imprensa paraguaia, mas que a relação Brasil-Paraguai vive um de seus melhores momentos.
A virulência do ataque do ‘ABC’ foi atribuída também ao fato de o jornal não ter participado da entrevista que Lula concedeu nessa semana a seus dois principais concorrentes, ‘Última Hora’ e ‘La Nación’, em Brasília. Segundo a Folha apurou, o ‘ABC’ não participou da entrevista porque não fez esse pedido à Presidência.
Com tiragem diária de cerca de 30 mil exemplares, em um país com 6,3 milhões de habitantes, o ‘ABC’ costuma pautar discussões em outros meios de comunicação do Paraguai.
O embaixador do Brasil em Assunção, Valter Pecly Moreira, disse ontem que não está em discussão uma mudança no Tratado de Itaipu, válido até 2023 e que, entre outros, determina que o Paraguai, por não consumir toda a energia que produz em Itaipu, é obrigado a vendê-la ao Brasil. Setores reivindicam poder vender a energia a outro país, no caso, a Argentina, por um ‘preço justo’.
‘Achamos que o tratado é um ato jurídico perfeito. Não consideramos a reabertura de negociações’, disse Moreira.
Ele sustentou que as reivindicações feitas pelo Paraguai foram atendidas -a de elevar o valor que o Brasil paga pela energia excedente e eliminar o reajuste com base na inflação dos EUA da dívida da estatal.
Biocombustíveis
O tema principal de discussões da visita de Lula a Assunção será a implantação de um plano para produção de biocombustíveis no Paraguai. Esse deve ser o tema de um dos mais de dez acordos que devem ser assinados hoje pelos países.
Ontem à noite, Lula participou de uma reunião com empresários paraguaios e brasileiros e depois foi recebido pelo seu colega paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, para um jantar.
Na chegada a Assunção, Lula não falou com a imprensa. O ministro Silas Rondeau (Minas e Energia), que teve seu nome envolvido nas investigações da Operação Navalha faz parte da comitiva. Ele falou rapidamente e negou as acusações de participação no esquema.’
TODA MÍDIA
Ministro, governadores etc.
‘O ‘Fantástico’, com fotos e documentos da Polícia Federal, avançou sobre ‘ministro e dois governadores sob investigação’, Silas Rondeau, Jackson Lago e Teotônio Villela, que ‘teriam recebido dinheiro da quadrilha que fraudava licitações de obras públicas’. Não faltou nem menção vaga a ‘Palácio do Planalto’.
Até ali, do ‘JN’ à blogosfera, o fim de semana era de Delcídio Amaral, ex-CPI dos Correios, que ‘foi parar na lista da Gautama’, chave do caso. Sua entrevista ao blog de Josias de Souza foi manchete na Folha Online. Ele diz que entrou ‘de gaiato’ e sugeriu CPI. Outra.
CONTROLADORES VS. PILOTOS
A atenção se volta para a Navalha, mas continuam as novidades do Apagão. O ‘JN’ deu na manchete, no sábado, imagens do ‘momento em que o radar registra o acidente do Legacy com o Boeing’. Para o chefe do Cindacta 1, é nova prova de que ‘não houve falha nem de comunicação nem de visualização’ do controle.
Já o ‘Washington Post’ reportou sobre ‘passageiros em risco’ no Brasil, por falhas de ‘equipamento e pessoal’, e o ‘Newsday’, da região onde vivem os pilotos do Legacy, publicou a gravação da cabine -e avaliou, contrapondo-se às famílias dos mortos, que ‘a controvérsia prossegue’.
DE IMPERIALISTA PARA BAIXO
Lula chegou ao Paraguai com uma agenda em que os biocombustíveis seriam a prioridade, como destacaram a Reuters Brasil e a BBC Brasil, mas se viu recebido por uma violenta primeira página, no principal jornal de Assunção, ‘ABC Color’.
Sob a manchete sem texto ‘Lula chega hoje’, o jornal publicou o editorial ‘Brasil, um país imperialista e explorador’, que qualifica o acordo de Itaipu de infame. Como seria de esperar, só a agenda paraguaia, a mesma do ‘ABC’, repercutiu ontem.
MAIS LULA LÁ
A próxima parada de Lula é a Índia e jornais como ‘Times of India’ diziam ontem que os países devem fechar acordos ‘econômicos e estratégicos’. A saber, em comércio e, mais destacada, energia atômica.
TAILÂNDIA/BRASIL
Mais da Ásia. Na Tailândia, o ‘Bangkok Post’ anunciou que o país deve assinar um acordo de cooperação com o Brasil, segundo o ministro da saúde, que também quebrou a patente de remédio antiAids.
DO EXTERMINADOR
O ‘Wall Street Journal’ deu artigo com violento ataque ao programa de etanol de milho dos EUA, em particular aos subsídios e ao efeito sobre o preço dos alimentos. De sua parte, o governador Arnold Schwarzenegger questionou as barreiras ao etanol de cana do Brasil. ‘Não faz sentido.’
E o ‘New York Times’ deu o avanço do etanol de cana no Havaí, num investimento que envolve capital americano, a começar do havaiano Steve Case, ex-AOL, e brasileiro.
CIDADES QUE CRESCEM
De novo, as revistas de domingo do ‘NYT’ dedicaram páginas e mais páginas -e fotos- a cidades brasileiras. A ‘Magazine’ tratou longamente de Curitiba, que ‘por 40 anos estabeleceu o padrão internacional de planejamento ambiental consciente’ e agora cresce e põe em risco seu currículo ‘verde’. Já a ‘Travel’ abordou Tiradentes (MG), que vai ganhar aeroporto e também teme o crescimento.’
TELEVISÃO
Caixa terá serviço bancário via TV digital
‘A CEF (Caixa Econômica Federal) vai oferecer serviços bancários pela TV digital já a partir do ano que vem. Inicialmente, por exemplo, será possível consultar movimentações do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço pelo controle remoto do televisor. Num futuro não muito distante, correntistas do banco poderão jogar na Mega-Sena enquanto assistem ao programa preferido.
A Caixa trabalha com um cenário em que a TV digital funcionará como a internet. Isso é perfeitamente possível, mas depende de uma série de fatores, principalmente da oferta de ‘set-top boxes’ (caixas decodificadoras que o telespectador terá de comprar) que operem como verdadeiros microcomputadores e de o usuário possuir uma linha de retorno (como conexão de banda larga).
Por isso, na semana passada o banco estatal fez um seminário em Brasília com representantes da indústria de eletroeletrônicos, de softwares, das TVs e com pesquisadores. E encomendou a eles soluções.
Apesar do alto custo inicial da TV digital, a CEF vê nela um instrumento de inclusão bancária. Quer usar a TV até para se comunicar com beneficiários do Bolsa Família. ‘Pelo perfil da Caixa, é dever dela oferecer serviços pela TV digital. A TV está presente em 98% dos lares, faz parte da intimidade do brasileiro’, diz Clarice Coppetti, vice-presidente de tecnologia da informação do banco.
MARTELO 1
Pela segunda vez, a Justiça Trabalhista de São Paulo realizará (nesta quarta) um leilão de intervalos comerciais da Rede TV! para pagar sentença trabalhista. No final de março, foram a leilão 21 minutos, por R$ 663 mil. Mas, como esse valor é maior do que o que a emissora cobra, não houve interessados. Agora, oferecerá um minuto e 15 segundos por R$ 44,3 mil.
MARTELO 2
A Rede TV! diz que o novo leilão é de sentença trabalhista de ex-funcionário da TV Manchete. Apesar de ter herdado as concessões da Manchete, a Rede TV! contesta decisões judiciais que a declaram sucessora da emissora. Segundo o superintendente Dennis Munhoz, a Rede TV! tem oferecido espaços comerciais em todas as ações da ex-Manchete.
MICROCÂMERA
A MTV estréia em agosto um novo programa de João Gordo, o ‘Gordo Viaja’, que percorrerá Peru, África do Sul, Austrália, Alemanha e França. A novidade é que o próprio João Gordo será ‘cinegrafista’. Tudo será gravado com uma câmera de celular, um lançamento da Nokia, uma das patrocinadoras da atração, que terá oito episódios.
MÁSCARA
A Record está tendo problemas com a classificação indicativa de ‘Zorro’, novela hispânica que pretende estrear em julho, na faixa das 19h. Cada capítulo da novela está sendo classificado individualmente. Dos dez primeiros, só um foi considerado ‘livre’ (19h). Cinco foram classificados como impróprios para menores de 10 anos (19h), dois para 12 anos (20h) e dois para 14 anos (21h).’
HQ
HQs trazem Alan Moore e Neil Gaiman
‘Boas novidades para aqueles que acreditam que histórias em quadrinhos são, acima de tudo, roteiro: o Brasil recebe, neste mês, dois lançamentos escritos por Alan Moore e Neil Gaiman, dois dos maiores nomes dos quadrinhos contemporâneos.
O lançamento escrito por Alan Moore é o erótico e polêmico ‘Lost Girls – Meninas Crescidas’, desenhado por sua mulher, Melinda Gebbie. Mostra a amizade de três adultas e suas confidências eróticas, que vão da primeira masturbação a um abuso sofrido na infância, passando por cenas com variadas formas de fazer sexo. Este é o lado erótico.
A polêmica vem por conta das protagonistas: as três amigas são Dorothy (de ‘O Mágico de Oz’), Wendy (de ‘Peter Pan’) e Alice (das obras de Lewis Carroll). Elas estão mais velhas do que nos originais, mas são as mesmas personagens, e suas aventuras inocentes são transformadas em descobertas sexuais. Um exemplo: Peter Pan, em ‘Lost Girls’, não vive na Terra do Nunca ou entra voando no quarto de Wendy e seus irmãos. Ele escalou a parede por fora, fez sexo com Wendy e partiu sorrateiramente pela janela.
Os três livros de ‘Lost Girls’ foram lançados nos Estados Unidos ao mesmo tempo, em uma caixa. No Brasil, os volumes estão sendo publicados separadamente: o segundo número está programado para julho, e o terceiro, para setembro.
Três histórias de Gaiman
Neil Gaiman tornou-se um renomado roteirista graças à série ‘Sandman’, da DC Comics. O britânico transformou o conceito de um personagem homônimo da editora, criado em 1939, em uma premiada série de terror e fantasia em que o protagonista não era mais um super-herói, mas uma espécie de deus dos sonhos.
‘Dias da Meia-Noite’ reúne três histórias escritas por Gaiman para o selo Vertigo, a divisão da DC voltada para leitores adultos. Duas já saíram no Brasil: ‘Me Abraça’, estrelada pelo popular anti-herói John Constantine, e ‘Midnight Theatre’, que reúne o Sandman de 1939 com o seu xará quase divino criado por Gaiman.
Inédita no Brasil, ‘Jack in the Green’ é uma HQ curta sobre a mitologia criada por Alan Moore nos anos em que escreveu o ‘Monstro do Pântano’.
LOST GIRLS – MENINAS CRESCIDAS (volume 1)
Autores: Alan Moore (roteiro) e Melinda Gebbie (arte)
Editora: Devir
Quanto: R$ 65 (112 páginas) NEIL GAIMAN – DIAS DA MEIA-NOITE
Autores: Neil Gaiman, Teddy Kristiansen e outros
Editora: Pixel
Quanto: R$ 49,90 (116 páginas)’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 21 de maio de 2007
GOVERNO CHÁVEZ
Chavistas dão apoio à cassação de TV
‘AFP, CARACAS – Sob o lema ‘RCTVás!’ (‘RCTV, se vá’!), uma caravana de automóveis e motocicletas percorreu ontem as principais ruas de Caracas, na Venezuela, em apoio à decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da emissora RCTV. A caravana chegou ao meio-dia à sede da estatal Venezolana de Televisão (VTV) para entregar uma declaração de apoio à emissora do governo.
O ato aconteceu um dia após dezenas de milhares de pessoas – entre elas artistas, jornalistas e opositores – realizarem uma marcha, também na capital, para pedir que a RCTV, de forte linha de oposição, se mantenha no ar em defesa da liberdade de expressão. O governo alega que não renovará a concessão da RCTV, que vence no dia 27, pois a emissora ‘atende a interesses de uma elite’. A freqüência de transmissão será usada em uma nova TV de serviço público chamada Teves, com capital do governo.
Marcel Granier, presidente das empresas 1BC, disse que, no pior dos casos, esses títulos de concessão estão vigentes até 12 de junho de 2022, por isso pediu a intervenção do Tribunal Supremo. Segundo Granier, a Lei Orgânica de Telecomunicações ‘obriga o governo a estender o prazo das autorizações que já existiam e estavam vigentes para 12 de junho de 2022’.
Segundo Jacqueline Sosa, que representou os manifestantes pró-fechamento da RCTV, a rede de comunicação do Estado e a VTV são os únicos que informam o povo ‘e chegam a nossos lares para dizer qual é a verdadeira realidade venezuelana, em contraste com a imagem distorcida que os outros meios de comunicação, como a RCTV, oferecem’.’
PUBLICIDADE
O desafio de renovar campanhas vencedoras
‘A Brastemp saiu do sofá. Ou melhor, a comunicação da marca de eletrodomésticos, que por 16 anos esteve a cargo da agência Talent – criadora do slogan ‘não é, assim, uma Brastemp’ -, inaugura nova etapa. Agora, a verba da marca (que pertence ao grupo Whirlpool), estimada em R$ 30 milhões, está na agência DM9DDB. E o sofá, onde os personagens justificam escolhas que não eram ‘assim uma Brastemp’, sai de cena.
A nova campanha, que está sendo veiculada desde ontem em comerciais de um minuto na televisão, faz coro para que o consumidor libere o seu ‘lado B’ na vida: o mais descontraído e verdadeiro.
‘Se a fórmula anterior estivesse funcionando, não teriam mudado’, argumenta o presidente da agência, Sérgio Valente. Ao seu lado, o gerente-geral de marketing da Whirlpool, Jerome Cadier, concorda que a companhia precisava de uma mudança em sua publicidade para trabalhar mais o produto e deixar a marca um pouco em segundo plano.
A preocupação por trás dessa virada se dá, reconhece Cadier, por conta da disputa mais acirrada nos eletroeletrônicos. Embora a Whirlpool seja líder na linha branca (geladeiras, fogões, máquinas de lavar louça e roupa), com mais de 40% de participação com suas duas marcas (Brastemp e Consul), seus preços são, em média,12% mais altos que os de boa parte de seus maiores concorrentes. No ano passado, foram vendidos 13 milhões de eletrodomésticos no Brasil, algo que não acontecia desde 1996. A maior parte, de produtos mais baratos.
Segundo Valente, está havendo uma ‘humanização da publicidade’. Ou seja, ‘em vez de as marcas dizerem que são bacanas, elas vão passar a dizer o que o consumidor ganha com elas’. No caso da peça inaugural da nova campanha, o desafio é fazer colar uma mensagem que rompa com a mensagem anterior: a marca era cara por ser única. A idéia, agora, é enaltecer as qualidades do produto.
Mas há um claro cuidado em fazer essa passagem, para não se perder o que foi feito anteriormente. ‘Não se joga no lixo todo um trabalho feito por uma marca’, reconhece Valente.
Tanto isso é verdade que, às vezes, até mesmo fórmulas deixadas de lado pela comunicação de uma marca por anos ressuscitam em outra agência. ‘Mas isso deve ser feito trazendo novos atributos’, diz o vice-presidente de criação da Fischer America, Flávio Casarotti, para justificar o fato de sua agência ter buscado o ‘baixinho da Kaiser’, Jose Valien, para protagonizar novamente a campanha da cerveja.
Foi a DPZ quem criou o personagem em 1984. Ele ficou 16 anos no ar até desaparecer por seis anos e voltar no ano passado. ‘Resgatamos um baixinho diferente, pegador, que faz sucesso com mulherões, algo surpreendente.’ A participação de mercado da Kaiser, segundo os dados do instituto A/C Nielsen, estabilizou-se em 4%, mesmo com o baixinho de volta. No passado, com o mesmo baixinho, chegou a atingir 15%.
‘Há uma vertente pop na publicidade que acontece quando personagens e frases deixam de ser mensagens de propaganda para passar a ser parte da cultura popular’, diz Silvio Matos, presidente da agência Matos Grey. O caso da Brastemp, reconhece ele, é um clássico nesse sentido.
Renovação, entretanto, é uma exigência da modernidade. E há aí uma zona de risco para a empresa, cujas mensagens podem ser deixadas no mercado e aproveitadas até mesmo por concorrentes. ‘As marcas não podem ficar reféns, mas devem aproveitar ao máximo esses achados’, diz Matos.
Um achado de Matos foi renovar a comunicação das Casas Bahia. Contribuiu para isso a descoberta do ator Fabiano Augusto, que protagonizou por seis anos os comerciais da rede. Ele fez entrar em cena um jovem de camisa pólo, calças esportivas e voz fina em substituição aos senhores grisalhos, engravatados e com vozeirão de locutor de rádio para anunciar as ofertas nas lojas.
No final de abril, Fabiano foi afastado da comunicação das Casas Bahia. Seu contrato se encerrou e não será renovado. Mas ele deve anunciar em breve sua participação à frente da comunicação de outro grupo de varejo. Vai deixar para trás apenas a frase que o marcou para o bem e para o mal: ‘Quer pagar quanto?’.’
INTERNET
Japonês lidera na blogosfera
‘Agora em maio, o site Technorati publicou a última edição de sua análise da blogosfera. Pois no trimestre que findou em abril, a língua na qual estavam escritos mais posts foi o japonês – 36%; a segunda, o inglês, ficou com 35%.
Inglês e japonês trocam de lugar a toda hora. Ora um está em primeiro, ora outro – então o justo é dizer que os dois empatam. Ainda assim, está cá um mistério curioso produzido pela internet.
Veja-se a terceira língua da blogosfera: o chinês. Qualquer um entende. Faz sentido. A quantidade de chineses no mundo é estonteant. Logo, se apenas alguns deles têm blog, é natural que o mandarim seja uma das línguas dominantes na rede mundial.
Um argumento bem parecido justifica a posição do inglês. Os EUA e Reino Unido, juntos, têm forte presença na internet, uma alta densidade de conectados digitalmente e, não bastasse, inglês é a língua franca do mundo. Daí, conclui-se, muitos blogam em inglês porque é uma maneira de atingir audiência a maior possível.
Como, então, explicar o predomínio do japonês sobre inglês e mandarim? É uma ilha. Uma ilha que nem é tão grande assim, diga-se. E, ora, só japonês fala japonês.
Bem, lá vão algumas explicações. Primeira: não é muito grande, mas é densamente povoada. São 127 milhões morando lá. Segundo: o trecho da Ásia banhado pelo Oceano Pacífico é o mais conectado ao mundo digital que há no mundo. Não só no Japão, mas também em Cingapura, e, particularmente, na Coréia do Sul.
Então, pois, ao Japão. Entre os japoneses mais jovens, o hábito de uso da internet não é tão intenso quanto o de seus pares asiáticos. Eles vivem no mundo dos celulares. São craques em SMS e mensagens multimídia, passam os dias fotografando, filmando, digitando mensagens curtas e mandando-as uns para os outros.
Nos últimos tempos, até como técnica de atrair para a rede a garotada, os grandes portais todos incorporaram sistemas de publicação de blogs com interface para celular. É isso mesmo: os japoneses blogam via SMS.
O resultado é que, se ganham em número de posts, perdem em conteúdo, em quantidade de coisas escritas. O típico blog japonês é preenchido por pequenos flagrantes do cotidiano, quase haikus. Daí a primeira colocação.
Se é possível chamar o blog japonês de um blog típico, essa é outra questão. Usam a ferramenta que enfileira notas, a mais recente sempre acima da anterior de forma completamente diversa. Mas usam – e muito. Ao seu jeito.
Os números do Technorati dizem mais. A quarta língua da blogosfera é o italiano, que no último trimestre incrivelmente ultrapassou o espanhol, tradicionalmente naquela posição. Caiu para quinto. Em sexto está o russo, seguido do francês e, finalmente, do português, em oitavo. Alemão em nono, em décimo, farsi – ou persa. É a língua do Irã.
Em nenhum lugar do mundo a blogosfera tem crescido tanto quanto no Oriente Médio. O Irã, como o Japão, é densamente povoado e, diferentemente de outros países da região, tem uma enorme classe média. Por conta, blogs – muitas vezes, políticos – têm florescido num país em que informação é coisa tão cerceada e, portanto, preciosa. É pelo mesmo motivo que Arábia Saudita e Egito, onde a língua corrente é o árabe, também têm se destacado.
Atualmente, a turma do Technorati trabalha com um universo de 70 milhões de blogs em todo o mundo. São 1,5 milhões de posts por dia, 17 por segundo. A blogosfera continua crescendo, embora num ritmo menor do que crescia em 2005 e 2006. Mas está mais influente. Há um ano, existiam 12 blogs dentre os 100 sites mais visitados da internet. Hoje, são 22.’
Tom Grubisich
Sobre transparência e privacidade
‘Washington Post – Atualmente, queremos transparência em todas as instituições, mesmo nas privadas. Existe uma grande exceção – a internet. Ela é, nos dizem, uma gigantesca tribuna popular. De fato, existem milhões de pessoas expressando sua opinião em milhões de fóruns online.
Mas a maioria delas usa o equivalente a sacos de papel na cabeça. Nós as conhecemos apenas pelos seus nomes de usuário da internet: gotalife (tenha uma vida), runningwithscissors (correndo com tesouras), stoptheplanet (pare o planeta) e uma miríade de outros nomes criativos.
Imagine que você vai participar de uma reunião sobre a superpopulação da escola da sua comunidade na qual todos estão usando crachás. Você se aproxima de um grupo de pessoas em que um homem está reclamando em altos brados sobre o desperdício nos gastos das escolas. ‘Livrem-se dos burocratas e então teremos dinheiro para ampliar a escola’, diz ele, brandindo as mãos na direção das pessoas que o cercam.
Você olha o crachá dele e lê anticrat424. Então, o interrompe para perguntar: ‘Desculpe-me, quem é você’? Ele lhe lança um olhar desconfiado. ‘Anotando nomes, hein? Vai incitar a polícia do superintendente contra mim? Hah!’
Em qualquer comunidade dos Estados Unidos, se o senhor anticrat424 se recusar a se identificar, será ignorado e isolado do processo cívico de discussão de problemas.
Mas, na internet, o senhor anticrat424 continuará em cima do pódio, onde terá seus pensamentos mais raivosos amplificados através do ciberespaço com a freqüência que quiser. Poderá xingar as pessoas com os impropérios mais infames e essa fomentação de ódio será vista no mundo inteiro.
Talvez fosse conveniente para os sites na web impedir os fomentadores de ódio de terem tanto poder, porém muitos sites são facilitadores involuntários.
EQUILÍBRIO
No site, os editores e produtores dizem que lutam para atingir um ponto de equilíbrio entre transparência e privacidade. Até recentemente, as pessoas que postavam comentários no site do jornal podiam se identificar apenas com nomes anônimos. Agora, precisam criar uma conta de usuário, que aparece junto com seus comentários.
Hal Straus, editor de interatividade e comunidades do washingtonpost.com, diz que as mudanças ‘nos conduzem na direção da transparência’.
Mas a mudança não faz muita diferença concreta porque os IDs de usuários do washingtonpost.com podem ser nomes verdadeiros ou fictícios. Embora o site proíba comentários injuriosos, abusivos, obscenos ou de alguma forma inadequados, o senhor anticrat424 poderá ainda encontrar um pódio bem amplificado no site washingtonpost.com.
O site de notícias e opinião Huffingtonpost.com requer que os internautas se registrem com seu nome verdadeiro mas garante que ‘nunca’ usará esses nomes.
Embora não seja infalível, há sempre maneiras de ao menos estabelecer padrões mínimos de aceitação mais altos.
Gordon Joseloff, um ex-correspondente da CBS News que é dono da WestportNow.com, um popular site local em Westport, Connecticut, costumava empregar o permissivo processo de registro padrão.
Mas, no final de 2005, aborrecido com a virulência de internautas anônimos, Joseloff instituiu uma diretriz determinando que qualquer pessoa que quisesse fazer comentários usasse seu nome verdadeiro.
Joseloff também exige que as pessoas inscritas informem seus números de telefone. Os números não são postados no site, mas isso dá a ele e a sua equipe uma forma de verificação adicional contra registros falsos.
PROTEGIDOS DE REPRESÁLIAS
Compreensivelmente, as diretrizes e restrições variam nos sites grandes e pequenos, mas uma preocupação comum a todos eles são os delatores.
O que fazer com alguém que quer expor uma injustiça ou um tratamento desigual, seja ele um funcionário público apontando conduta irregular no governo ou um garçom reclamando sobre a gorjeta ridícula de um restaurante local? Como eles podem ser protegidos de represálias?
O pioneiro online Vin Crosbie sugere que os sites – sejam eles blogs pessoais, sites de comunidades ou grandes provedores de notícias – devem ser suficientemente flexíveis para conceder pseudônimos aos usuários que querem denunciar algo.
Isso iria requerer que os sites tomassem decisões analisando caso a caso. Com que freqüência tal intervenção seria necessária? Não o suficiente para exigir que a maioria dos sites contratem pessoal extra.
Um site que conceda um pseudônimo teria de saber o verdadeiro nome do usuário assim como alguns fatos que respaldem quaisquer acusações. O site não teria de ceder sempre que fosse ‘premiado’ com uma intimação para prestar declarações em juízo.
Os tribunais já estabeleceram que tanto os internautas anônimos como os internautas com pseudônimo têm ‘privilégio de confidencialidade’ segundo a primeira emenda da Constituição norte-americana, que protege a identidade deles e impõe uma alta barreira jurídica diante daqueles que querem que os sites sejam intimados a prestar depoimentos.
Se os sites na Web exigirem dos internautas que usem seu verdadeiro nome, dando-lhe o escudo de um pseudônimo quando for merecido, o animado debate online continuará acontecendo sem empecilhos.
Poderá até melhorar, atraindo a contribuição de pessoas que perderam o interesse pela comunicação online por causa das ofensas e coisas piores que correm na internet.
Com exceção dos fomentadores de ódio, quem mais iria querer isso?’
O Estado de S. Paulo
Blogs do Estadão têm regras de conduta
‘Há uma semana o estadão.com.br adotou um Código de Conduta para reger os blogs do portal. As normas procuram expor parâmetros éticos para comentários postados por leitores. E orientam os responsáveis pelos blogs sobre como devem agir diante de comentários ofensivos.
A idéia não é restringir a participação, mas sim conter comentários agressivos e preconceituosos que possam ofender outros leitores. O Código pode ser lido clicando no ícone Responsabilidade online, localizado no alto, à direita, dos blogs do portal.
A avaliação na primeira semana de mudanças é positiva. ‘O código é um importante instrumento para os blogueiros, que, ao retirar um comentário ofensivo, explicam para o leitor que ele deve ter responsabilidade. Mas ainda não posso dizer se as ofensas diminuíram’, diz Marcos Guterman, editor do estadão.com.br, que bloga sobre política e questões internacionais no portal.
O Código é feito de seis pontos: incentivar o debate responsável, criar um espaço para troca de idéias, mostrar ao leitor que ele também é responsável pelos seus comentários, defender a discussão transparente, respeitar divergências e alertar os participantes de que, em casos extremos, eles podem ser bloqueados do blog.
De acordo com as regras de conduta, poderão ser deletados ou modificados os comentários contendo insultos, difamações, manifestações de preconceito e ódio, ataques pessoais, ameaças e perseguições, além de exposições da privacidade alheia.
‘A conduta ética deveria fazer parte dos valores e da consciência de cada pessoa. É como uma regra não escrita. Mas, como os abusos estavam crescendo muito, já que os blogs são algumas das páginas mais visitadas, decidimos verbalizar esses valores de respeito supostamente universais’, diz Guterman.
Entre os blogueiros, o código foi bem aceito. Para Felipe Machado, que escreve sobre comportamento e variedades, ‘a mudança ajuda a diferenciar quem entra para participar do debate, com uma discussão inteligente, de quem só quer bagunçar’.
O blogueiro e jornalista explica que não retira as ofensas leves direcionadas a ele. ‘Levo na brincadeira, mas troco ou retiro alguma palavra quando é um xingamento pesado que pode ofender algum leitor’, diz.
Adotar uma norma de conduta online é uma discussão que ganhou força recentemente quando Tim O’Reilly , especialista em internet, sugeriu que toda a blogosfera adotasse um código de ética. Para acompanhar o desenvolvimento, entre no site.’
Valéria França
Sites reúnem famílias separadas há décadas
‘Foram 22 anos de espera. De repente, em poucos minutos, numa rápida busca pela internet, o paulistano Vanderlei da Silva, de 43 anos, achou o filho, Robson dos Santos, hoje com 23. Ainda bebê, ele foi levado pela mãe, a paranaense Neusa dos Santos, para a terra natal, onde começariam nova vida. Neusa e Silva eram namorados e mesmo com o nascimento de Robson continuaram a viver em casas separadas. ‘Um dia, fui bater na casa dela para ver meu filho e ela já havia mudado, sem deixar contatos’, conta Silva. ‘Procurei muito por ele nesses anos. Jamais imaginei que poderia encontrá-lo assim, apenas com uns cliques no mouse.’
Graças à internet, dramas familiares como o de Silva chegam cada vez mais a um final feliz. As ferramentas mais utilizadas, e de grande eficiência, são os sites de relacionamentos como o Orkut, pelo qual Silva encontrou Robson. ‘Minha outra filha, Amanda, de 19 anos, me deu a dica.’
Antes da internet, o único jeito de decifrar o enigma de pessoas desaparecidas era com a ajuda da polícia. Se as investigações oficiais não resolvessem o caso, havia a opção de contratar um detetive particular. ‘Era uma busca que podia levar anos’, diz o perito Giuliano Giova, presidente do Instituto Brasileiro de Peritos em Comércio Eletrônico e Telemática. Especialista em rastrear crimes pela rede, Giova hoje também rastreia pessoas desaparecidas. O preço deste tipo de trabalho varia de R$ 2 mil a R$ 20 mil, dependendo do tempo de busca.
Uma das dicas que o perito dá é acessar as comunidades criadas para agregar nomes e fotos de pessoas desaparecidas. ‘Funcionam como um grande classificado de anúncios gratuitos’, observa. Criado há três anos, o site tem 11.247 registros de pessoas desaparecidas – e 800 já localizadas. O site ganhou tanta expressão que virou uma ONG.
‘Há casos de todos os tipos, incluindo a clássica história da mulher que procura o marido, que saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou’, diz Stylianos Júnior, de 32 anos, criador do site. ‘O sistema é eficiente porque tem muito curioso que surfa na net. Numa dessas, alguém reconhece um desaparecido e entra em contato por e-mail com quem procura.’
Em uma dessas incursões pela rede, a dentista mineira Claudia de Lima, de 33 anos, achou um depoimento muito tocante na comunidade de Alterosa (MG). Um internauta de 24 anos, Alessandro Aparecido da Silva, pedia ajuda para encontrar a mãe, Esmeralda Aparecida da Silva, de 68 anos. A dentista logo se lembrou – tratava-se de uma viúva, mãe de dez filhos, analfabeta, que havia trabalhado durante muitos anos como faxineira no Hospital Público de Alterosa.
Antes de mandar um e-mail esperançoso para Alessandro, Cláudia procurou Esmeralda e perguntou se ela não tinha nenhum filho desaparecido. ‘No início, Esmeralda ficou constrangida, mas logo contou que, sem recursos, foi obrigada a dar uma das crianças’, resume Cláudia. ‘Nunca mais recebi notícias de meu menino. O meu maior sonho era vê-lo’, confessou Esmeralda.
Cláudia mandou um e-mail para Alessandro. Rapidamente, ela conseguiu que mãe e filho conversassem pelo telefone. Cláudia ainda pagou a passagem de Divinópolis para Alterosa para promover o encontro dos dois no Dia das Mães deste ano. ‘Eu nunca me dei bem com minha mãe adotiva’, lamenta Alessandro. ‘Até por isso, eu queria encontrar minha mãe.’
LAN HOUSE
Uma das vantagens da internet é ser acessível a todos os bolsos. Há locais públicos com conexão gratuita. Isso sem contar as lan houses, onde o acesso é cobrado por hora. ‘Como me casei há pouco, estou sem computador em casa’, diz Alexandra Guimarães, 26 anos, vendedora de uma loja no MorumbiShopping, zona sul de São Paulo. Ela vai quase todos os dias a uma lan house, aberta numa livraria do prédio. ‘Um dia estava lá e criei coragem para procurar duas irmãs que nunca conheci’, conta. ‘Foi fácil achá-las e hoje somos amigas.’
ONDE PROCURAR
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O Estado de S. Paulo
Google vai digitalizar manuscritos indianos
‘Efe – Pelo menos 800 mil livros e manuscritos da Universidade de Mysore, na Índia, incluindo os primeiros tratados políticos indianos, do século 4º a.C., serão digitalizados pela companhia americana Google. ‘Temos cerca de cem mil manuscritos escritos em papel e sobre folha de palma. O esforço é restaurar a herança cultural para divulgar o conhecimento’, explicou o vice-reitor da Universidade, J. Shashidhara Prasad. O Google se ofereceu para digitalizar os manuscritos, sem cobrar nada, mas obtendo em troca livre acesso às obras.’
MEMÓRIA / HENFIL
O fanático torcedor chamado Henfil
‘Maracanã lotado, tarde de um fim de semana dos anos 1960. O jogo corria normal quando torcedores do Botafogo soltaram um urubu carregando uma bandeira do Flamengo. Mais que uma provocação, uma crítica pesada: para os alvinegros, os flamenguistas não passavam de favelados que reviravam o lixo em busca de comida. Ou seja, urubus. A resposta, em alto nível, veio estampada na edição do Jornal dos Sports do dia seguinte: o desenho de um adorável urubu vestindo a camisa do Flamengo.
‘Antes de revidar no mesmo nível, ele preferiu o bom humor e adotou o bicho como mascote do time’, conta Ivan Cosenza de Sousa, filho do autor do cartum, Henrique de Sousa Filho, mais conhecido como Henfil. Flamenguista doente, ele iniciava ali um apaixonado canal de comunicação com a torcida que, seguindo seu conselho, adotaria a provocação e acolheria o urubu, para o desespero dos adversários. Uma relação que duraria até o fim dos anos 1970 e que seria retomada nos 80, resultando em um farto material cujos cartuns mais preciosos estão no livro Urubu (144 páginas, R$ 25), que a editora Desiderata lança nesta semana.
Dividido em capítulos (Urubu, Futebol e Rei Zico), o livro trata, em sua primeira parte, das conquistas do bicampeonato e do tricampeonato carioca e relembra a derrota do tetra, além de recordar as participações dos jogadores que passaram pelo clube. O segundo abrange o futebol como tema geral: assuntos que permanecem atuais, como a gozação entre torcidas (nem sempre decidida civilizadamente), além da eterna insatisfação com a arbitragem e, até mesmo, a evasão de renda dos times.
O último capítulo é dedicado ao maior ídolo rubro-negro, lembrado tanto por seus momentos gloriosos (as grandes conquistas, os golaços) como pelos dramáticos (os problemas com o joelho, o pênalti perdido contra a França, na Copa de 1986). Uma veneração tamanha que Henfil chegou a desenhar Zico como o Flautista da Gávea, uma citação à fábula do flautista de Hamellin, em que o craque tocava uma música e era seguido por uma fila de bolas encantadas.
‘Henfil era descaradamente torcedor nos cartuns, mas também generoso com os outros times, a ponto de criar mascotes para eles também’, lembra Ivan, enumerando o Bacalhau (Vasco), Cri-cri (Botafogo), Pó Pó (Fluminense) e Gato Pingado (América). ‘Sua paixão pelo Flamengo era tão evidente que os outros mascotes até reclamavam nas tiras, o que despertava simpatia dos demais torcedores. Uma atitude inteligente, pois conquistava a leitura também dos rivais.’
Na verdade, os flamenguistas o seguiam como guru – se o Urubu sugerisse uma faixa contra um determinado dirigente, no treino seguinte era batata: a faixa estava lá. Se lançasse um concurso da maior bandeira, o Maracanã no domingo seguinte seria encoberto por flâmulas monumentais. Até para o inexplicável encontrava respostas, como o maldito pênalti perdido por Zico no jogo em que o Brasil foi desclassificado pela França na Copa do México, em 1986. No dia seguinte, a ressaca foi brilhantemente combatida com um quadrinho reproduzindo a cena e a seguinte legenda: ‘Defendeu Deus!!!’
Ciente do poder hipnótico de seus desenhos, Henfil procurava usá-los também para o bem. Para minimizar a enorme rivalidade entre Vasco e Flamengo, por exemplo, que sempre beirava a violência, ele tornava Urubu e Bacalhau em cúmplices nas brincadeiras com os outros mascotes. ‘A força de suas tiras chegou a um grau tão acentuado que, nos últimos anos, ele desenhava em apenas 20 minutos, mas passava mais duas horas analisando o cartum, tentando descobrir algum detalhe que pudesse incentivar uma perigosa discórdia’, conta Ivan.
O resultado foi abandonar a família de mascotes, no fim dos anos 1970, depois de ter publicado nas páginas do Jornal dos Sports e da revista Placar. ‘Foi um fato inédito: parar por causa do excesso de retorno.’ O silêncio durou pouco e, com a série de conquistas mundiais do Flamengo, Henfil voltou a desenhar, dessa vez para o jornal O Dia. Até sua morte, em 1988, aos 43 anos, em decorrência de problemas causados pela aids, Henfil manteve sua paixão pelo rubro-negro. ‘Ele foi um autêntico cronista da história do Flamengo’, diz Ivan.’
TELEVISÃO
País exporta drama
‘Mais conhecido como dr. Beleza, o cirurgião plástico brasileiro Robert Rey esteve no Brasil para gravar dois episódios para o reality Dr. 90210, que comanda há cinco anos nos EUA, país em que vive. Aproveitou também para gravar cenas para a Record, que exibe o quadro Dr. Beleza no Domingo Espetacular.
Rey veio ao Brasil para encontrar seu pai e resolver uma questão do passado – eles não se davam bem -, que rendeu uma boa audiência ao reality nos EUA. O público gostou do drama da criança brasileira que não tinha uma figura paterna presente e foi resgatada por mórmons americanos para fazer fama e fortuna na terra do Tio Sam. Os capítulos vão ao ar nos EUA na quinta temporada de Dr. 90210, que estréia lá em setembro.
Rey também foi a Ilha Bela, onde morou na sua infância por causa de bronquite, para supervisionar cirurgias gratuitas em pessoas carentes. Entre outras frases divertidas, o médico contou à imprensa que quer ser governador do Estado da Califórnia.
No Brasil, o canal E! lançará a quarta temporada da série no dia 6 de junho, às 21 horas. O quinto ano está previsto para o ano que vem.
entre-linhas
Diretor-geral da TVI, canal que tem driblado a SIC em Portugal, José Eduardo Moniz é figura esperadíssima para o 8º Fórum Brasil – Mercado Internacional de Televisão, que ocorre entre os dias 30 e 31 em São Paulo.
Edney Silvestre foi até a Ilha de Lanzarote, a 100 quilômetros da Europa, para conversar com José Saramago. A entrevista vai ao ar em duas partes, hoje e amanhã, no Jornal da Globo.
O canal GNT já bomba as chamadas para as novas rodadas da moda Rio-São Paulo. A partir do dia 4, quando começa o Fashion Rio, haverá flashes diários e programa de uma hora com Chris Nicklas e Lilian Pacce.
O reality show On the Lot, de Steven Spielberg, estréia no canal People + Arts no dia 29, e não 26, como foi publicado nesta seção.
Por falar em People + Arts, o canal vai investir mais nas séries de ficção científica na linha de Dr. Who, da BBC, que já está na programação. As aquisições – serão três ou quatro novas séries – fazem parte de um acordo com a rede inglesa.
Daniela Franco, senhora Moacyr, comparece hoje ao Charme de Adriane Galisteu, por volta de 1h da madrugada, para falar de seu novo livro.
Maurício Kubrusly comparece à Biblioteca Embarque na Leitura, da Estação Paraíso do Metrô, dia 28, às 16h30, para falar sobre o Me Leva Brasil, livro derivado do quadro homônimo que comandou no Fantástico.’
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