Nos últimos anos, o conceito de sustentabilidade passou a permear muitos setores da sociedade. Ele evoluiu, principalmente, de um parâmetro utilizado pelas ONGs para indicadores empresariais, como o Índice de Sustentabilidade da Bovespa (ISE), os indicadores Global Reporting Iniciative (GRI), que balizam relatórios empresariais de sustentabilidade, e os indicadores Ethos (do Instituto Ethos), entre outros. No entanto, para Dal Marcondes, são informações e dados complexos que precisam de uma base de conhecimento estruturada para que não se percam em devaneios ideológicos ou de interpretações sem objetividade.
Na entrevista a seguir, concedida, por e-mail, à IHU On-Line, o jornalista Dal Marcondes, diretor da Agência Envolverde, fala sobre a importância da informação sobre meio ambiente e sustentabilidade para a estruturação de um modelo de desenvolvimento com compromissos claros em relação ao futuro. ‘As pessoas ainda têm uma relação muito esquizofrênica com o tema sustentabilidade’, opinou.
Confira a entrevista.
Cobertura já ocupa espaços nobres
IHU On-Line – Em sua opinião, como a informação pode ser considerada um fator relevante para o desenvolvimento da ideia de sustentabilidade?
Dal Marcondes – Informação é o fator-chave para a estruturação de uma plataforma de conhecimento capaz de influir sobre decisões estratégicas, seja de empresas, governos ou sociedade. Não é possível fazer a transição para um modelo de desenvolvimento limpo, baseado em novas tecnologias e em uma ciência integrada, sem uma base de informação e conhecimento social, científico e econômico capaz de mostrar caminhos diferentes e consistentes com as necessidades do futuro, e não com os pressupostos e preconceitos do passado.
O jornalismo ambiental evoluiu?
D.M. – Muito. Há dez anos, o jornalismo ambiental era uma comunicação de nicho, focado em pequenos veículos que falavam para muito pouca gente, principalmente iniciados. Hoje, o jornalismo ambiental conta com excelentes veículos especializados, mas, principalmente, está presente em grandes veículos de comunicação com todos os suportes possíveis. É TV, Rádio, jornais e revistas, além do suporte global da Internet. A cobertura ambiental também saiu de páginas marginais dos veículos, como a geral, que disputava espaço com buracos de rua e outras pequenas mazelas para ser estampada nas primeiras páginas e nos cadernos de economia. Houve uma evolução. Ainda pode melhorar muito em qualidade de enfoque, mas já ocupa espaços nobres.
Boa formação e boa informação
O que fez o tema meio ambiente ter mais espaços nas pautas dos grandes meios de comunicação?
D.M. – Uma pauta ganha destaque a partir do interesse da sociedade. O meio ambiente está aí, as mudanças climáticas, suas tragédias, as empresas falando em sustentabilidade, o mundo cobrando uma postura mais ética e consequente de seus governos em relação aos recursos naturais. Ou seja, meio ambiente é pauta. No entanto, falta uma certa organização nesta cobertura. Ela ainda é muito pontual e sem uma relação direta de causa e efeito. Muitas vezes, os grandes veículos mostram apenas um pedaço tragédia na notícia, sem se dar conta que uma catástrofe tem uma relação de causa e efeito.
Qual o perfil de um bom profissional para atuar na área de jornalismo ambiental?
D.M. – O jornalista ambiental deve ser, antes de tudo, uma pessoa preocupada com o bom jornalismo. Não deve se posicionar como um militante ambiental, pois seu trabalho estaria mais para uma ONG de defesa do meio ambiente do que para informar a sociedade sobre questões relacionadas à multidisciplinaridade da pauta ambiental. Isto é importante porque, muitas vezes, jovens profissionais me procuram indignados porque a mídia não faz seu papel de defender o meio ambiente, e este não é o papel da mídia. Seu principal foco deve ser informar a sociedade com presteza, eficiência e qualidade. Para isto, o jornalista ambiental deve estar preparado para realizar reportagens e investigações que precisam de muito preparo técnico e capacidade de inter-relacionar fatos e dados, de forma a dar ao público as informações necessárias para que a sociedade, as empresas ou o poder público atue. Portanto, o mais importante para um profissional que queira ser um jornalista ambiental é ser bem formado e bem informado sobre os temas aos quais se propõe a cobrir.
Uma relação esquizofrênica
Qual é o papel da Envolverde dentro do jornalismo ambiental praticado hoje no Brasil?
D.M. – A Envolverde é um dos mais antigos espaços de prática do jornalismo ambiental no Brasil. Iniciamos nossa trajetória em 1995, quando fomos procurados pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) para editar no Brasil o Projeto Terramérica, à época um suplemento tablóide para jornais impressos de toda a América Latina. Este projeto existe até hoje, mas nosso grande salto veio com a Internet e com a criação do site www.envolverde.com.br, que entrou no ar em 8 de janeiro de 1998. A partir daí, começamos a ganhar escala de públicos e falar com muito mais gente. Hoje, a Envolverde tem quase 200 mil assinantes que recebem um boletim diário e produz conteúdos para ONGs, empresas e meios de comunicação. Fazemos a Carta Verde, com a revista Carta Capital, produzimos para a Agência Estado e para empresas como Walmart. Também fazemos capacitação de profissionais de comunicação para trabalhar com o tema comunicação ambiental e sustentabilidade através de eventos, seminários e cursos.
Como você vê o espaço do desenvolvimento sustentável no imaginário social?
D.M. – As pessoas ainda têm uma relação muito esquizofrênica com o tema sustentabilidade. É só ver o debate que está rolando em relação às mudanças climáticas. Cada lado, a favor ou contra mudar o comportamento de produção e uso de energias, manipula as informações a partir de seu enfoque de interesses. Existe o desejo de viver em um mundo ambientalmente preservado, socialmente responsável e economicamente eficaz. No entanto, pouca gente está disposta a mudar hábitos de consumo, mesmo que isto não signifique alterar sua relação de conforto com o mundo.
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Envolverde/IHU-OnLine