“No final, para uma empresa jornalística o que tem valor é a sua ética, e não os equipamentos, câmeras, impressoras, escritórios…”, me diz o jornalista Ricardo Corredor enquanto todos assistimos ao início da queda de um império global da comunicação… É, começa assim!
Por falar em ética e em impérios, como anda a coisa por aqui pelo Hemisfério Sul…“Faz-se jornalismo com preocupação ética em nosso continente? Que tipo de ética é necessária num continente com milhões de excluídos sociais?”
Foi com esta pergunta, de alguém do Rio de Janeiro, que em setembro do ano 2000 inaugurou-se o Consultório Ético com Javier Darío Restrepo. É um dos mais dinâmicos instrumentos que conheço para a reflexão e o aprimoramento da prática jornalística.
Escritor e jornalista colombiano com 53 anos de exercício do ofício, atual diretor da revista Vida Nueva Colombia, Javier Darío já recebeu em seu Consultório virtual mais de mil consultas sobre dilemas éticos do jornalismo. O “milésimo gol de Javier”, digamos assim, foi comemorado em julho do ano passado.
Cardápio variado
Projeto da Fundación Nuevo Periodismo, a fundação de Gabriel García Márquez, o Consultório Ético está alojado no site www.fnpi.org. Jornalistas são a principal origem das consultas, mas também estudantes e professores de comunicação além de leitores/audiência enviam suas inquietações. São muitas, a esta altura, as inquietações de consumidores de informação em qualquer parte do mundo quando o assunto é a qualidade do produto.
Um balanço entre a primeira pergunta (aquela do Rio de Janeiro) e o milésimo gol de Javier, mostra que a maior parte das consultas refere-se a questões que Javier Darío classifica como de “Responsabilidade Social”.
Em importância quantitativa seguem as dúvidas sobre problemas de “Independência dos meios e dos jornalistas” e, finalmente, as questões que se agregam em torno do “Compromisso profissional para com a verdade”.
Violação de intimidade , uso de câmeras ocultas, uso político de publicidade, relações com as fontes, informação oficial versus verdade, o intricado mundo da informação econômica, as políticas de acesso à informação pública, informação em tempos de guerra, jornalismo e narcotráfico, censura versus liberdade, liberdade de imprensa versus liberdade de empresa, o impacto da lógica comercial sobre a lógica do ofício mesmo do jornalismo, conselhos de leitores… tudo isso aparece no divã de Javier Darío Restrepo, que está no ar com apoio da Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo.
Só em espanhol
Visitar os arquivos dos mil gols, digo, das mil consultas, e acompanhar este divã online que é o Consultório Ético vale por alguns anos de universidade. Nele tem encontrado terapia a maior parte das grandes questões e com Javier colaboram os melhores pensadores do jornalismo.
Sim, porque ao responder as perguntas Javier Darío faz um trabalho muscular de consulta a códigos de ética de mais de 100 países e entidades e a vários manuais de redação. Mais: ele menciona muitos autores, os melhores no campo, com links e bibliografias.
“São assessores virtuais do Consultório”, diz o maestro celebrando o fato de que com este trabalho de documentação acaba abrindo novas fontes de informação a seus leitores.
Uma pena que nada de Javier Darío Restrepo esteja (ainda) traduzido para o português! Que bom que com um mínimo de esforço a gente compreende bastante bem o español! Recomendo El Zumbido y el Moscardón (2004 – Coleção Nuevo Periodismo).
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[Geraldinho Vieira é jornalista]