O que impressiona no programa sobre a Venezuela exibido pelo Observatório da Imprensa na TV (terça, 17/11; ver aqui) é, em primeiro lugar, a intensidade da polarização em torno da mídia. Mentes lúcidas, racionais, extremamente sofisticadas, não conseguem esconder o dramático impasse.
Independente das posições, pró ou contra Hugo Chávez, todos os venezuelanos ouvidos concordam num ponto: não existe possibilidade de diálogo. Já não existe necessidade de se fazer um bom jornalismo porque na Venezuela ninguém quer jornalismo, todos querem propaganda.
No entanto, este quadro pré-ruptura não consegue motivar a mídia latino-americana e internacional. Somos obrigados a reconhecer que a cobertura desta guerra midiática na Venezuela está igualmente intoxicada pelos ressentimentos e preconceitos que correm fora dela.
Poder de persuasão
Surge, então, a grande questão: por que razão os grandes veículos, brasileiros e estrangeiros, não conseguem aquele mínimo de equilíbrio para reproduzir ao menos o inexorável caminhar para o abismo? Será tão difícil reunir e comparar opiniões divergentes, sem tomar partido?
Já que no interior da sociedade venezuelana os ânimos estão tão exaltados, fora dela, em outros contextos e continentes, não seria possível repetir a experiência do Observatório da Imprensa com mais recursos e para audiências maiores? Falta disposição, falta senso de urgência ou simplesmente falta solidariedade?
A verdade é que ser solidário com a Venezuela, neste momento, significa não tomar partido algum e, assim, escapar da terrível compulsão maniqueísta. A terceira via nada tem de escapista, ao contrário, é a única alternativa capaz de mostrar aos beligerantes que existem outras dinâmicas além da confrontação.
Não adianta convocar a OEA, a Unesco, a ONU ou o Tribunal de Haia. É preciso convocar a própria mídia internacional para exibir o seu poder de persuasão. E se este potencial já está esgotado, teremos que admitir que o jornalismo já não faz sentido.