A mídia comercial continua discutindo as observações de Osvaldo Martins, ouvidor da TV Cultura de São Paulo, sobre o telejornalismo diário da emissora da Fundação Anchieta e a sua ousada proposta para mudá-lo radicalmente ou então substituí-lo por uma programação jornalística diferenciada [ver ‘O que falta mudar‘].
É extremamente saudável que a mídia discuta a mídia, mas neste debate falta incluir questões cruciais:
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A função de um ombudsman é criticar, interessar o público e levá-lo a debater as questões que os veículos de comunicação normalmente mantém escondidas.**
A mídia eletrônica (rádio e TV), embora favorecida por um sistema de concessões que ninguém fiscaliza, jamais atendeu às pressões para estabelecer algo minimamente assemelhado a um diálogo com o seu público. A TV Cultura foi a única emissora a aceitar este desafio. Jornais (excetuando a Folha de S.Paulo) e rádios agarraram-se ao aspecto mais ‘apelativo’ do debate proposto por Osvaldo Martins e ignoram a questão crucial: nossos veículos têm medo de expor as suas mazelas. E agora se divertem discutindo as mazelas da única emissora sensível a seu compromisso com a transparência.**
Implícita na crítica pontual ao telejornalismo da TV Cultura está uma crítica ampla aos paradigmas do telejornalismo comercial que acabaram por dominar e distorcer a nossa forma de fazer jornalismo pela televisão. Ao recomendar um afastamento desses paradigmas, Osvaldo Martins deixou claro o que convém e não convém ao público telespectador brasileiro.**
Todo telejornalismo é público, cívico ou social. A diferenciação entre telejornalismo privado e ‘público’ foi habilmente explorada neste debate por aqueles que não estão interessados em desvendar as deficiências da nossa TV comercial, cada vez mais inclinada para coberturas superficiais, parciais e fragmentadas.Estatais e corporativas
Luiz Weis mostrou neste Observatório da Imprensa a alternativa diária oferecida pelo Public Broadcast System (PBS, a rede pública americana), já que os padrões da BBC são inacessíveis [ver ‘Uma alternativa para o jornalismo da Cultura‘]. Mas a TV comercial argentina conseguiu um milagre ao levar os debates políticos para o horário nobre. Nossos hermanos não são suicidas, descobriram uma forma de manter o seu público informado através da discussão aberta. Apostaram no interesse público e foram recompensados.
Osvaldo Martins radicalizou para chamar a atenção para um problema grave, aflitivo. Há opções menos drásticas: tornar a Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec) numa rede jornalística efetiva, atuante, ágil, capaz de oferecer um noticiário efetivamente nacional e relevante (com a ajuda das emissoras de TV do Congresso).
Mesmo sem dispor de emissoras de TV verdadeiramente públicas (as nossas são estatais ou corporativas), é possível incrementar um telejornalismo alternativo, diário, quente.
O importante é manter o assunto na agenda.
[Texto fechado às 15h50 de 10/4]