Em nove meses, o apresentador Wolf Blitzer, da CNN, envolveu-se em três discussões durante entrevistas: com o vice-presidente americano, Dick Cheney, sua mulher, Lynne Cheney, e, recentemente, com o documentarista Michael Moore. Blitzer, de 59 anos, passa a imagem de jornalista veterano, metódico e objetivo, e não de alguém que sairia por aí perdendo a cabeça. Mas os contratempos na televisão são, segundo o crítico de TV da Associated Press, David Bauder [22/7/07], menos um reflexo do comportamento do apresentador do que um perigo crescente para pessoas como ele: o entrevistado pronto a começar uma briga.
Moore foi entrevistado por Blitzer em 9/7. O polêmico cineasta já mostrava querer confronto antes que lhe fosse feita qualquer pergunta. O programa teve início com uma gravação de uma entrevista com o médico Sanjay Gupta, comentarista da CNN, afirmando que Moore teria exagerado alguns fatos em seu novo filme, Sicko, sobre o sistema de saúde americano.
Moore se apressou em uma violenta crítica onde não só defendia seu documentário e questionava as alegações de Gupta, como também atacava a CNN por falhar em noticiar agressivamente a guerra do Iraque. Blitzer defendeu o médico, ignorou o comentário sobre a cobertura da guerra e tentou, com pouco sucesso, levar a conversa de volta ao sistema de saúde. Posteriormente, o jornalista se disse surpreso com a combatividade de Moore, principalmente porque considerou que as afirmações de Gupta não eram tão pesadas.
Autopromoção
O documentarista, ainda irritado com a reportagem mostrada antes da entrevista, acabou pedindo desculpas a Blitzer pelo comportamento. ‘Eu me sinto mal que Wolf tenha que agüentar a birra que eu e muitos outros temos da mídia tradicional’, afirmou. Segundo David Bauder, ele não deveria se sentir mal. O vídeo da entrevista se espalhou rapidamente pela internet e, em uma semana, mais de meio milhão de pessoas já o tinham assistido apenas no YouTube. Nada mal para quem está promovendo um filme.
Nos EUA, figuras liberais, como Moore, aprenderam há pouco o que os conservadores conhecem de longa data: há benefícios em ser visto ‘enfrentando’ a imprensa ‘hostil’. A entrevista do ex-presidente democrata Bill Clinton com o apresentador Chris Wallace no canal conservador Fox News, no ano passado, foi particularmente instrutiva, diz Bauder.
Por outro lado, este é um comportamento que Blitzer e sua equipe também conhecem – e se prepararam para tal. Durante sua entrevista, Moore foi astuto o suficiente para citar a entrevista do apresentador da CNN com Dick Cheney, em janeiro deste ano. No programa ao vivo, o vice-presidente ficou visivelmente irritado ao ser questionado sobre críticas de grupos conservadores sobre sua filha lésbica.
‘Por que você demorou tanto para pegar o vice-presidente Cheney?’, perguntou Moore. ‘Você esperou até 2007 para deixar o homem bravo com você. Quantos anos! Onde você estava?’, provocou.
Vice emburrado
Na ocasião, Blitzer leu uma declaração de um grupo conservador que dizia que ‘só porque é possível conceber um filho fora de uma relação de pai e mãe casados não significa que isso seja o melhor para a criança’. A frase dizia respeito ao bebê de Mary, filha de Cheney, com sua parceira homossexual. ‘Você quer responder a isso?’, questionou o apresentador. O vice não quis, e disse que Blitzer havia passado dos limites. Cheney não amoleceu nem quando o jornalista lhe deu os parabéns por ter um novo neto. Sua mulher, Lynne, havia atacado Blitzer no ar alguns meses antes por causa de uma série da CNN crítica ao governo.
Para o apresentador, a pergunta sobre Mary Cheney não foi inapropriada, já que ela não esconde que é gay. Blitzer diz que fez apenas um questionamento sobre uma crítica feita por uma terceira parte. ‘Eu não estou aqui para lutar com estes caras’, explica ele. ‘Não estou aqui para entrar em uma discussão com eles. Os vejo como meus convidados. Quero ser educado e respeitoso, mas também quero garantir que eles não ganhem um passe livre’.
Responsabilidade
Blitzer cresceu no jornalismo tendo o apresentador Ted Koppel como modelo – ele lia e relia um capítulo sobre técnicas de entrevista em um livro escrito pelo ex-âncora do Nightline. O jornalista acredita ser um representante do público, com a responsabilidade de questionar figuras públicas sobre o que seus críticos dizem delas.
Ele diz que, no geral, os entrevistados entendem sua função. ‘Não estou lá para dizer a eles: ‘por que você é tão brilhante?’’, diz Blitzer. ‘Estou lá pra fazer questões sérias – questões por vezes embaraçosas. Foi assim que fui treinado por todos estes anos, e é assim que sou’.