Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalistas recebem benefícios para cobrir Parlamento

O Parlamento Europeu está subsidiando jornalistas para cobrir suas sessões em Estrasburgo, em um movimento que legisladores afirmam ter como objetivo assegurar que a única instituição eleita democraticamente da União Européia não seja ignorada pela mídia. Como parte de um programa que existe desde a década de 80, jornalistas de todos os Estados-membros da União Européia recebem do Parlamento subsídios para as viagens, a fim de ajudar a pagar os gastos para cobrir as sessões da instituição quando ela se transfere, uma vez ao mês, de Bruxelas para Estrasburgo, no leste da França.


O programa tem sido criticado por alguns membros do Parlamento – que vêm, eles próprios, sofrendo pressão para desistir de generosas gratificações da instituição. O financiamento de jornalistas inclui pagamento de bilhetes de avião ida e volta em primeira classe ou classe econômica para Estrasburgo de qualquer lugar dos 25 Estados-membros da UE e diárias de 100 euros para pagar hotel, comida e entretenimento nos dois dias das sessões. O Parlamento também oferece a jornalistas de televisão uso ilimitado de estúdios, equipamentos de som e vídeo, além de dois cinegrafistas que podem ser ‘emprestados’ ao longo do dia.


O programa convida, por mês, cerca de 60 jornalistas de todo o bloco e é administrado pelos escritórios parlamentares nos Estados-membros. Dentre algumas empresas de mídia que se beneficiaram de tais subsídios no passado estão as emissoras de televisão e rádio RTBF, da Bélgica; RTE, da Irlanda; ERT, da Grécia, e ORF, da Áustria, segundo fontes da UE.


Opiniões divergentes


Embora não seja visto como ético que jornalistas aceitem financiamento de instituições que cobrem, analistas afirmam que, em países que dependem de instituições públicas de imprensa, a noção do uso do dinheiro público disponível para financiar o trabalho destes profissionais pode ser visto como algo aceitável.


‘As sessões parlamentares são pesadas e enfadonhas, então o Parlamento faz o que for preciso para tornar mais fácil para nós trabalharmos aqui, incluindo pagamento de diárias e outras facilidades’, afirma um jornalista que se beneficiou do programa e requisitou anonimato. ‘Eu nunca teria coberto as sessões do Parlamento se ele não pagasse por isso.’


Harald Jungreuthmayer, correspondente da austríaca ORF, defende o financiamento como algo necessário para gerar cobertura de uma instituição que é frequentemente difamada e, muitas vezes, até ignorada. Ele afirma ainda que nunca observou nenhuma tentativa pelo Parlamento de influenciar a cobertura.


Hans Peter Martin, membro independente do Parlamento da Áustria e ex-jornalista da revista alemã Der Spiegel, afirmou que o financiamento de jornalistas pelo Parlamento mostra que políticos das instituições da UE nunca entenderam os princípios da liberdade de imprensa e da democracia. Martin, que faz campanha pelo fim das gratificações parlamentares, virou notícia em 2004 ao filmar clandestinamente seus colegas deixando Bruxelas e Estrasburgo após receber os benefícios. ‘O financiamento de jornalistas cria a impressão de que o Parlamento está pagando por propaganda’, afirma ele.


Um jornalista de televisão que vai regularmente a Estrasburgo usando financiamento do programa afirma que a diária é suficiente para pagar por um hotel e almoço de boa qualidade. Um outro repórter, que também pediu para não ser identificado, diz que contribuições como esta fazem com que jornalistas se recusem a atender pedidos de editores para que escrevam matérias sobre privilégios de parlamentares e viagens pagas pelo Parlamento, um assunto de grande interesse na Europa. ‘Como posso falar destas contribuições se eu estou me beneficiando delas?’, indaga o jornalista.


Jaime Duch, porta-voz do Parlamento, diz que o financiamento tem a intenção de encorajar jornalistas da UE que não considerariam ir mensalmente a Estrasburgo. Ele afirma que, em nenhuma circunstância, o Parlamento interfere na cobertura jornalística.


Parlamento sob investigação


As contribuições do Parlamento estão sob investigação. A instituição, que gasta 200 milhões de euros por ano movendo-se de Bruxelas para Estrasburgo, concordou em junho do ano passado em reformar parte de seu generoso sistema de gratificações a membros parlamentares. No entanto, o programa de financiamento para jornalistas não foi modificado.


Os jornalistas de Bruxelas também se beneficiam de privilégios da UE, incluindo refeições gratuitas e telefonemas ilimitados, além de estúdios de televisão gratuitos, durante os encontros da cúpula da UE. No começo de cada seis meses da presidência da UE, o país que assume a nova presidência também convida a imprensa para uma festa em sua capital. Informações de Dan Bilefshy [International Herald Tribune, 5/4/06].