Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Judeus lançam concurso anti-semita

Em resposta aos protestos às polêmicas charges do profeta Maomé, publicadas
pelo jornal dinamarquês JyllandsPosten, dois artistas israelenses
lançaram uma iniciativa criativa para enfatizar a importância da sátira, da
liberdade de expressão e do humor, como noticia Nirit Anderman [Haaretz,
20/2/06]. Após tomarem conhecimento sobre o concurso de cartuns sobre o
Holocausto proposto por um jornal iraniano, o ilustrador Amitai Sandy e o ator e
roteirista Eyal Zusman decidiram anunciar uma competição israelense de charges
anti-semitas com um detalhe bastante peculiar: aberta apenas para participantes
judeus.


‘Nós vamos mostrar ao mundo que podemos fazer as melhores, as mais
inteligentes e as mais ofensivas charges anti-semitas já publicadas’, afirmou
Sandy na semana passada em seu sítio,
confirmando o tom autodepreciativo característico do humor judaico. Notícias
sobre a competição se espalharam pela rede e, dentro de poucos dias, os
organizadores haviam recebido centenas de e-mails parabenizando a iniciativa. A
maior parte das mensagens vinda de judeus – algumas deles com tom de vingança.
‘Havia e-mails do tipo ‘Vamos mostrar a estes árabes primitivos que somos
melhores do que eles’, contou Sandy, alegando que, no entanto, o concurso não
tem o objetivo de ser contra os iranianos, mas sim o de mostrar que é possível
acabar com o ódio e o medo em relação ao anti-semitismo usando o humor.


De acordo com o ilustrador, 40 judeus já enviaram seus desenhos e a maioria
deles tem como tema o Holocausto. Muitos internautas que deixam comentários no
sítio são descendentes de sobreviventes de campos de concentração e afirmam não
ter hesitações em lidar com este trauma.


A minoria que se mostrou contrária ao concurso, curiosamente, não é composta
de judeus. Um grupo de cristãos pró-israelenses dos EUA, por exemplo, argumentou
que a iniciativa é perigosa, porque anti-semitas poderiam usar as charges da
competição para fazer propaganda contra os judeus. Fora da internet, o concurso
reacendeu o debate na mídia sobre os limites da sátira. Sandy revelou que, em
três dias, foi entrevistado por mais de 30 jornais, duas emissoras de televisão
e um programa de rádio transmitido em mais de 450 estações nos EUA.


O prazo para enviar charges para o concurso termina no dia 5/3. O júri será
composto por Sandy, Zusman, cartunistas israelenses e a historiadora americana
Deborah Lipstadt, que escreveu um livro sobre a negação do Holocausto e
tornou-se conhecida por ter sido processada, em 1998, por David Irving,
historiador que negou o Holocausto e que, nesta segunda-feira (20/2), foi
condenado por um tribunal austríaco a três anos de prisão. Para a legislação da
Áustria, onde Hitler nasceu, sustentar a inexistência do genocídio equivale a
crime.