‘A biografia maquiada de Obama desmascarada pelo New York Times‘. Esta foi uma das manchetes do jornal La Repubblica de 31 de outubro, a matéria é a única ilustrada com fotografia e vai assinada pelo articulista Vittorio Zucconi, correspondente nos Estados Unidos. A fotografia é a do candidato a candidato do partido Democrata à presidência estadunidense e apresenta a seguinte legenda: ‘Mais que um ataque político frontal, é uma canelada, uma falta por trás, aquela que o New York Times fez em Barack Obama, surpreendido massageando sua própria biografia.’
A matéria propriamente dita está na página 19 com o título ‘Obama, eis as mentiras’ e ‘O NYT desmascara a epopéia de Barack?’
Zucconi segue explicando que reinventar a si mesmo é uma virtude numa sociedade que muda diariamente. Mas inventar uma vida imaginária, uma ‘second life’ é um risco que Barack, o único adversário de Hillary Clinton para a escolha na convenção partidária, correu.
Se o New York Times, os blogs e os velhos amigos de juventude estão dizendo a verdade, a coisa realmente caiu-lhe mal.
A sua autobiografia ‘In the long run‘, que está em oitavo lugar na classificação dos livros (de não-ficção) mais vendidos, deveria contar a história de sua maratona pessoal como rapaz negro, para ultrapassar uma linha de chegada distante, seria um tipo de evangelho apócrifo. Uma parábola revista e corrigida, para descrever como ele soube resistir às tentações do mundo das grandes empresas, para tornar-se o campeão dos homens comuns e, acima de tudo, da sua gente.
O senador ‘afro-americano’ por Nova York, Obama Hussein Barack, 46 anos, formado pela Columbia University (Manhattan), nesta cidade tem amigos e colegas em abundância, o que torna fácil desmenti-lo. Num trecho de seu livro, diz: ‘Logo que sai da Universidade consegui emprego em uma financeira, encarregado dos investimentos e fiquei atordoado em ver que tinha uma sala só para mim, até com secretária pessoal. Olhava-me no espelho, vestindo terno e gravata me perguntado: mas sou eu aquele reflexo?’
Sem sala própria nem secretária
Todavia um analista financeiro que trabalhava com ele, diz que não em seu blog ‘blog.Analyzethis.net’. ‘Obama não tinha sala própria, nenhuma secretária e tinha um péssimo salário como todos nós. Seu trabalho consistia em recortar e colar notícias econômicas para depois levá-las ao chefe’.
Também sua militância no movimento negro (Balck Student Organization) é contestada, assim como alguns detalhes épicos hoje postos em dúvida, por exemplo a sua primeira noite na Columbia, quando teve que dormir na rua junto com lumpens e na manhã seguinte lavar-se no hidrante.
Aqui pode-se fazer uma pergunta: por que Obama que tem se mostrado honesto com afirmações pouco louváveis com relação a ele, teria mentido no varejo? Talvez tenha sido para estabelecer ‘As tentações de Obama’, para contar a história de um messias tentado, mas que não se deixou seduzir pelas lisonjas do sucesso pessoal e do dinheiro, antes de descobrir a própria vocação de ativista civil e advogado dos ‘sem advogado’. Entretanto teria cedido às tentações da memória hagiográfica.
Os livros e as autobiografias dos candidatos importantes são notoriamente propaganda. Diz-se que o New York Times tenha ido buscar sob visão de um microscópio esses pecados veniais, já que ‘o negro está chegando muito perto da branca Hillary’, portanto o jornal deu de presente a ela essa canelada no senador. Uma coisa fica clara: começam a sair os esqueletos de ambos os armários e ninguém resistirá a tentação (essa sim verdadeira) que surge a cada campanha, que é de escavar nos sepulcros dos outros.
Como diz o consultor político (marqueteiro) Dick Morris: ‘se você não consegue definir-se como positivo, serão teus inimigos a definir-te como negativo’.
Nisto tudo há um fato negativo para o jornalismo: A primeira página do La Repubblica induz o leitor a pensar que Obama tenha cometido algo de muito grave, quando a realidade da matéria não consegue apresentar nada que justifique a manchete.
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Jornalista