Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Lançada coletânea de trabalhos de Anna Politkovskaya

O jornal russo Novaya Gazeta lançou, na quarta-feira (30/5), um livro com artigos e comentários da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em outubro de 2006. Intitulada ‘Para quê’, a coletânea tem 980 páginas.


Anna, 48 anos, era uma das principais críticas do governo do presidente Vladimir Putin. Em seus textos, ela denunciava o que via como proliferação da brutalidade e corrupção do governo e os horrores dos conflitos na Chechênia. Em conseqüência, a jornalista era considerada uma espécie de inimiga do Estado, proibida de aparecer na televisão e diminuída pelas autoridades do país.


Execução


Ela morreu a tiros no elevador do edifício onde morava, em Moscou. Foi alvejada diversas vezes, no que parece ter sido um crime encomendado, quando voltava do supermercado. O caso continua sob investigação – segundo os colegas do Novaya Gazeta, onde Anna trabalhava, a lentidão da investigação oficial é algo frustrante. Eles dizem ter juntado material fruto de suas próprias apurações, mas evitam publicá-lo para não ameaçar o caso oficial ou suas fontes de informação. Apenas o farão se virem indícios de que a investigação será encerrada sem solução.


A morte de Anna Politkovskaya – mais uma entre a de outros jornalistas vítimas de crimes até hoje sem solução – se tornou símbolo do deterioração da liberdade de imprensa na Rússia. Os veículos de comunicação independentes e críticos ao governo são cada vez mais escassos. Enquanto isso, o presidente tem influência sobre as principais emissoras de televisão e rádio do país.


Remédio amargo


O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, um dos acionistas do Novaya Gazeta, uniu-se aos colegas de trabalho, amigos e familiares de Anna para o lançamento da coletânea – e para um apelo de que o crime seja solucionado. Usando termos escolhidos para não criticar diretamente o atual presidente, Gorbachev ressaltou a necessidade do país por jornalistas independentes.


O ex-presidente, segurando uma cópia do livro, afirmou que os textos de Anna eram dolorosos e indigestos para alguns – ela costumava acusar autoridades, soldados e policiais de crimes –, mas no fim serviam de ajuda para o bem da Rússia. ‘É amargo’, disse, ‘mas é um remédio’. Informações de C.J. Chivers [The New York Times, 31/5/07].


 


FIJ realiza congresso em Moscou


A Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), com sede em Bruxelas, escolheu Moscou para seu congresso, realizado esta semana, em parte com o objetivo de chamar a atenção para a deterioração do jornalismo independente na Rússia.


A organização distribuiu entre os participantes um ensaio de Igor Yakovenko, secretário geral do Sindicato dos Jornalistas Russos, intitulado ‘A Profissão Dilacerada’. O texto resumia as práticas de controle e manipulação do Kremlin sobre o diálogo político público, e afirmava que, enquanto em 2000 a ‘propaganda favorável ao presidente e ao partido da situação representava 30% do volume total de informação’, este número subiu para 92% em 2006. ‘Propagandistas, não jornalistas, são hoje a cara de todos os canais de TV federais’, escreveu Yakovenko. Membros do Kremlin não responderam aos convites para participar e discursar no evento.


Aidan White, secretário geral da Federação, aproveitou a ocasião para apoiar a campanha para que se solucione o caso do assassinato de Anna Politkovskaya. ‘Infelizmente, este é um país que parece ter a cultura da impunidade’ quando se trata de crimes contra jornalistas, afirmou.


O congresso da Federação, o lançamento do livro com os artigos de Anna e os apelos por uma investigação transparente e efetiva não foram mencionados nos noticiários russos. Informações de C.J. Chivers [The New York Times, 31/5/07].