Os dois maiores jornais da esquerda francesa, Le Monde e Libération, inauguram nova fase com troca de diretores. No Monde assumiu Erik Izraelewicz, um experimentado profissional de 57 anos que fez grande parte de sua carreira no próprio jornal. Nicolas Demorand, um jovem jornalista de 39 anos que nunca trabalhou na imprensa escrita, estará no comando de Libération a partir de março.
Erik Izraelewicz foi nomeado para implantar a política dos novos acionistas Pierre Bergé, Xavier Niel e Mathieu Pigasse. Mas apesar de indicado pelo trio, o novo diretor do jornal – o oitavo desde a fundação, em 1944, por Hubert Beuve-Méry – teve que ser ‘plebiscitado’ pela redação. Quase 80% dos jornalistas que formam a Société des Rédacteurs du Monde (SRM) – que inclui os jornalistas ativos e os aposentados – avalizaram Izraelewicz. Somente 18,47% disseram ‘não’ à pergunta ‘Você aprova a nomeação de Erik Izraelewicz para o cargo de diretor de Le Monde?’ Para se tornar o novo big boss, Izraelewicz precisava ter no mínimo 60% de aprovação.
A reação imediata dele foi um elogio aos futuros subordinados: ‘É uma redação exigente, com uma forte personalidade e havia um risco de ela utilizar esse voto para mostrar ressentimento em relação aos novos acionistas’. Ao mesmo tempo, ele garantiu aos jornalistas a responsabilidade total da linha editorial e a independência em relação aos acionistas.
Laboratório de ideias
No primeiro editorial da nova direção, na edição de 15 de fevereiro, Erik Izraelewicz fala em seu próprio nome e se dirige ao leitor prometendo que o jornal vai mudar ‘para continuar fiel a si mesmo’. Ele resumiu a missão do Monde como um compromisso de assegurar ao leitor ‘informações claras, verdadeiras e, na medida do possível, rápidas e completas’, retomando a fórmula de Beuve-Méry.
Mas o mundo não é o mesmo de Beuve-Méry e a economia da informação deve acompanhar as transformações que são imensas. O novo diretor está ciente de que o leitor também mudou na sua relação com a informação. ‘O leitor soube da queda de Mubarak por uma `mensagem´ no seu telefone celular. Acompanhou essa nova `queda dos muros´ nas telas do computador e do celular mas quer compreender os riscos e o desenrolar dos acontecimentos e o jornal deve permitir isso.’
Quanto a Nicolas Demorand, o novo diretor de Libération defendeu suas ideias (entre elas a de ‘fazer de Libération um laboratório das ideias que circulam na esquerda’) diante de uma redação não muito entusiasmada mas que acabou por confirmar com 56,7% dos votantes a indicação que vinha de Edouard Rothschild, o acionista majoritário do jornal.
Impresso e digital
Criado por Jean-Paul Sartre e um grupo de jovens maoistas, entre os quais Serge July, que o dirigiu de 1973, ano da fundação, até 2006, Libération passou por um período muito difícil, que motivou a saída de July. Laurent Joffrin, de 58 anos, assumiu a direção, o jornal voltou a crescer e hoje vende 113 mil exemplares por dia, em média.
Para Jean-Marie Charon, sociólogo especialista da mídia, a renovação de geração feita no Libération com a eleição de um jornalista jovem e sem experiência de jornal ‘participa um pouco de um pensamento mágico segundo o qual basta fazer um salto de geração para resolver os problemas’.
Mas a juventude do novo diretor também pode ser explicada por uma vontade de se aproximar das novas gerações mergulhadas até a medula nas novas tecnologias. Afinal, o jornal papel e o jornal web ainda vão conviver por algum tempo.
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Jornalista