Em sua coluna de domingo [19/11/06], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, falou sobre a decisão do jornal de reduzir as listas diárias com as ações da Bolsa de Valores e de cortar custos na redação – ambas as mudanças podem levar os leitores a se questionar sobre a atual situação financeira do diário. ‘Executivos do Post não querem perder leitores, mas eles sentem que têm de cortar custos para manter o negócio saudável’, explica ela.
A queda na circulação e nos anúncios publicitários ao longo dos anos e a migração dos leitores para a rede estão afetando seriamente os jornais nos EUA. Um grande grupo de jornais, o Knight-Ridder, foi vendido, e outro, Tribune, está à venda. Deborah afirma que a situação do Post não é tão complicada assim. O corte na publicação da lista de ações vai gerar uma economia de pouco menos de US$ 2 milhões por ano, mas não prejudica o trabalho da redação, que tem custos de mais de US$ 100 milhões por ano, de acordo com o publisher Bo Jones.
Os editores do Post sabem, há muito tempo, que os leitores não apreciam mudanças, mas elas são algumas vezes necessárias para proteger a função primordial do jornalismo: a reportagem. O editor-executivo do jornal, Leonard Downie Jr., preparou a equipe, através de um memorando, na semana passada, para futuros cortes. Dos 900 cargos na redação, cerca de 80 foram eliminados ao longo deste ano através de demissões voluntárias. ‘Nós precisamos produzir jornalismo de alta qualidade e cumprir nossa missão pública, ao mesmo tempo em que temos de ajustar nosso orçamento. Não estamos apenas cortando custos. Acreditamos que tudo o que estamos fazendo vai tornar o jornal mais forte e ampliar o número de leitores da edição impressa e do sítio’, dizia o memorando.
Algumas mudanças são bem-vindas. Há matérias que estão menores, o que pode agradar leitores que não têm muito tempo para ler jornal. Outras seções serão relançadas no começo do ano que vem para atrair leitores, como a de saúde e a de culinária. Já a redução da lista de ações da Bolsa não agradou a muitos leitores – precisamente a 2.600 deles, que entraram em contato com o jornal para reclamar da mudança. ‘O Post é um dos últimos jornais a reduzir tais listas; a maioria já o fez há anos. E as listas estão disponíveis online’, defende a ombudsman. ‘Mesmo com os cortes, nós ainda publicamos mais informações sobre ações do que o New York Times ou o Financial Times. Vamos publicar a lista na íntegra na edição de domingo. Mas não podemos descartar a possibilidade de reduções também no domingo’, afirmou Jill Dutt, editor-assistente para notícias econômicas. ‘A missão mais importante do Post é dar aos leitores notícias que eles não encontram em lugar nenhum. Publicar a lista de ações não é função primordial de um jornal. Divulgar notícias, sim. O que o Post e outros jornais têm de proteger é a reportagem independente. Isto é o que os leitores – e esta democracia – não pode deixar perder’, conclui Deborah.