Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Libertem os jornalistas

Em dezembro do ano passado, um caso rumoroso mostrou que a liberdade de imprensa, no Brasil, só é pedida pelos órgãos de imprensa para os órgãos de imprensa, porém nunca para os jornalistas que neles trabalham. Refiro-me a uma carta do ex-jornalista das Organizações Globo, Rodrigo Vianna. O texto dele circulou pela internet até ganhar enorme repercussão por conter acusações de manipulação do noticiário pelo império de comunicação da família Marinho.


Vianna afirmou que o jornalismo global tinha como ‘princípio’ ataques ao governo Lula e ao PT e favorecimento da oposição tucano-pefelista, e que, por discordar disso, foi afastado de seus afazeres e, posteriormente, foi demitido.


O objetivo deste texto é clamar pelo que a grande imprensa brasileira vive pedindo, mas não pratica: liberdade de imprensa. Todavia, não me refiro à liberdade de imprensa que os donos dos grandes grupos de comunicação pedem para si, que é a de não sofrerem acusações de partidarismo e de, inclusive, utilizarem concessões públicas de rádio e TV para difundirem seus próprios pontos de vista e interesses políticos, econômicos e ideológicos.


Ninguém imagina que um jornalista empregado na Veja ou nas Globos, por exemplo, possa defender naqueles veículos a opinião de que a imprensa brasileira é tendenciosa e politicamente engajada. Esse ponto de vista é considerado um insulto, ‘ilegal’ e, portanto, proibido, apesar de que amplos setores da sociedade o endossam.


Furor libertário


Há um sem-número de questões nas quais jornalistas empregados na grande imprensa são impedidos de discordar de seus patrões publicamente. Um dos vários casos em que a grande imprensa bloqueou discordâncias da opinião de seus donos foi o do ‘pobre caseiro’ Francenildo Costa, que teve seu sigilo bancário violado supostamente a mando do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Não se viu um só jornalista da grande imprensa questionar as somas consideráveis depositadas na conta do ‘pobre caseiro’ às vésperas de depoimento que deu contra Palocci numa CPI. A grande imprensa tornou ‘ilegal’ esse tipo de questionamento.


É enorme a quantidade de casos em que, mesmo que se permita a opinadores independentes divergirem da opinião da grande imprensa, não se permite à ‘prata da casa’, aos jornalistas empregados nos grandes meios de comunicação, esse tipo de divergência.


Em nome da liberdade de imprensa, clamo pela libertação dos jornalistas brasileiros do jugo de seus patrões. Os barões da mídia repudiam ardorosamente a possibilidade de se criar um Conselho Federal de Jornalismo. Diante desse furor libertário, portanto, deverá ser amplamente aceito por eles que se criem leis que os obriguem a permitir que seus empregados jornalistas possam divergir de suas opiniões sem que sejam demitidos… Certo? 

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Comerciante, São Paulo, SP