Com 30 anos de trabalho em jornalismo essencialmente dedicados ao noticiário internacional, pensamos, levianamente, entender alguma coisa de geopolítica. A recente leitura de um artigo escrito por Hussain Agha, professor da Universidade de Oxford, no Guardian Weekly (4 a 10/5/2007), trouxe-me, cabisbaixo, de volta à devida humildade.
O assunto em pauta era a invasão e ocupação do Iraque por tropas norte-americanas.
Como se sabe, trava-se, no Congresso norte-americano, uma queda de braço entre a maioria democrata, que quer um programa para a retirada das tropas do Iraque, e Bush Jr., que não quer. Para a maioria dos observadores, a posição dos democratas é a correta, e desejada.
Pois talvez não seja. O professor Agha enumera, metodicamente, as posições dos principais atores políticos no Oriente Médio, explicando por que são – todos eles – contrários a uma saída dos norte-americanos do Iraque. A saber:
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Arábia Saudita, Egito e Jordânia – São os três principais aliados norte-americanos entre os países árabes. Uma saída norte-americana do Iraque teria, no Oriente Médio, a conotação de uma derrota, o que, objetivamente, enfraqueceria seus regimes. Num Iraque liberto, se imporia, certamente, a maioria xiita e, muito provavelmente, se construiria uma aliança com o Irã. A presença das tropas dos EUA no Iraque, torna-se, portanto, fundamental.**
Síria e Irã – Enquanto estão atoladas no Iraque, as tropas norte-americanas não têm condições de embarcar em outra aventura militar de grande porte. Além do mais, caso eventualmente atacassem a Síria ou o Irã, suas tropas no Iraque se tornariam alvos fáceis. A presença dos EUA no Iraque, torna-se, portanto, uma garantia fundamental.**
Turquia – Com as tropas norte-americanas no Iraque, é certo que os curdos não conseguirão um Estado independente. Um Iraque liberto, de maioria xiita e aliado ao Irã, seria com certeza tolerante para com as aspirações curdas.**
Israel – A saída das tropas norte-americanas do Iraque seria catastrófica. Fortaleceria as posições do Irã e da Síria, principais inimigos de Israel e colocaria o próprio país sob ameaça concreta.**
Iraque – Divididos, os grupos políticos iraquianos ainda procuram consolidar suas forças e seus programas. Apesar da maioria xiita, não é o momento propício para um confronto. A presença das tropas norte-americanas adia o problema e permite a busca de um engajamento político mais sólido e profundo.**
Al-Qaeda – A organização cresceu com a ocupação das tropas norte-americanas. Além disso, para os sunitas, a presença das tropas norte-americanas impede uma tomada total do poder pelos xiitas.Seria gratificante se os editores do noticiário internacional de nossos jornais lessem um pouco mais. Quem sabe, escapariam da rotina facciosa, parcial e medíocre que, objetivamente, em nada contribui para a informação.
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Jornalista