Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Weis

‘A Grã-Bretanha amanhece hoje com a respiração presa à espera do resultado da investigação conduzida pelo lorde-juiz Brian Hutton sobre o que poderia ter levado o biólogo David Kelly a suicidar-se, em julho do ano passado. Na hipótese mais pessimista, o relatório poderá provocar a renúncia do primeiro-ministro Tony Blair.

Cientista dos quadros do Ministério da Defesa, consultor dos serviços de inteligência e membro destacado das equipes de inspetores de armas das Nações Unidas no Iraque, Kelly foi acusado de ter sido a fonte anônima de uma explosiva denúncia transmitida pela Rádio BBC dois meses antes de sua morte.

O repórter Andrew Gilligan, uma semana depois de conversar com ele num hotel de Londres, entre goles de suco de maçã e Coca-Cola, disse no ar que o dossiê da espionagem britânica sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein, divulgado em setembro de 2002, havia sido apimentado (‘sexed up’) por ordem do governo. A intenção era tornar crível a ‘ameaça iraquiana’.

A pimenta estava concentrada na afirmação – repetida quatro vezes – de que, a uma ordem de Saddam, em 45 minutos os militares iraquianos eram capazes de colocar em posição de disparo mísseis com agentes químicos ou biológicos. Na versão original, os espiões diziam que eles ‘talvez fossem capazes’ e esclareciam que os mísseis tinham alcance limitado. A ressalva sumiu do texto final.

Três dias após detonar a sua bomba, o mesmo Gilligan escreveu no Mail on Sunday, de Londres, que perguntara a sua fonte ‘por que Blair nos enganou a todos. Sua resposta? Uma palavra: Campbell.’ Alastair Campbell, diretor de comunicações, estrategista político e marqueteiro de Blair, tinha sido incumbido por ele de supervisionar a produção do dossiê – o que fez com o seu temido estilo de trator.

Mais do que depressa, Campbell se pôs a achar a misteriosa fonte que o teria incriminado. Diante do escândalo, Kelly resolveu contar ao seu chefe na Defesa que se encontrara com Gilligan, mas ‘não para discutir o dossiê’. A iniciativa só complicou a sua situação. O secretário da Defesa, Geoff Hoon, ao ficar sabendo da meia confissão, repassou o nome de Kelly para Campbell.

A partir daí, as coisas se precipitaram, como se diz. Em parceria com Hoon – e com o possível aval de Blair -, Campbell montou um esquema para dedurar o cientista à mídia, indiretamente. O esquema era induzir os repórteres a chegarem eles mesmos ao nome desejado. No dia 10 de julho, três grandes jornais ingleses citavam David Kelly como a fonte das alegações de Gilligan (o que a BBC confirmaria 48 horas depois do seu suicídio).

A Justiça ordenou uma investigação independente do caso, sob a chefia de lorde Hutton. Entre 11 de agosto e 13 de outubro, ele tomou os depoimentos de Deus-e-meio-mundo. Hoon negou que tivesse participado de decisão de plantar o nome de Kelly na mídia e depositou a culpa pelo golpe baixo na soleira de 10, Downing Street, endereço da sede do governo ‘intimamente envolvida’, segundo ele, na operação de lançar o cientista às feras.

Dois dias depois, Campbell se demitiu. Mais adiante, para azar de Blair, funcionários dos serviços de inteligência revelaram que Kelly sabia da preocupação do pessoal da espionagem pela ‘fermentação’ de diversos trechos do dossiê sobre o Iraque – por exemplo, a fantasiosa previsão de que Saddam teria a bomba atômica em um ou dois anos.

Último a depor, sir Kevin Tebbit, principal funcionário civil de carreira do Ministério da Defesa, desferiu o golpe também derradeiro. As decisões cruciais para desmascarar David Kelly, assegurou, não só foram tomadas em Downing Street, mas em reuniões presididas por Tony Blair.

Há algumas semanas, o primeiro-ministro reconheceu que terá de renunciar se o Relatório Hutton concluir que ele mentiu ao negar que havia autorizado o vazamento do nome do dr. Kelly – o que 48% dos britânicos acham que fez.

Blair não disse o que fará se, em lugar disso, o lorde-juiz der como provado que ele mandou ‘reescrever substancialmente’, como exigia Alastair Campbell, o dossiê da espionagem para justificar a alegação de que Saddam representava uma ‘ameaça iminente’ – mentindo, assim, de caso pensado.

Não facilita em nada a vida de Blair a circunstância de o chefe dos caçadores das armas perdidas no Iraque, o americano David Kay, ter dito na sexta-feira, quando foi substituído, que duvidava que elas existissem. Kay está convencido de que o Iraque praticamente desistiu de produzir grandes quantidades de armamento químico ou biológico depois da primeira Guerra do Golfo, em 1991.

O destino de Tony Blair, naturalmente, interessa a muitos. Já o destino de outra inglesa, Katharine Gun, de 29 anos, interessa a um público incomparavelmente mais restrito – em parte porque a sua história não conquistou uma fração da notoriedade que merecia.

Contratada como tradutora no QG de Comunicações do governo britânico – que emprega uma falange de 4.500 matemáticos, criptógrafos e lingüistas -, Katharine ficou sabendo que os americanos planejavam grampear os telefones das delegações de países membros do Conselho de Segurança da ONU (Angola, Bulgária, Camarões, Chile, Guiné, México e Paquistão) quando ali se discutia uma eventual resolução autorizando os EUA e a Grã-Bretanha a atacar o Iraque.

Em março do ano passado, um memorando secreto da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos sobre a escuta clandestina pousou na redação do Observer, de Londres – que, obviamente, o publicou. Dias depois, Katharine foi demitida e presa. Em novembro, formalizou-se contra ela a acusação de ter violado a severa lei que protege os segredos oficiais britânicos. O julgamento está para ser marcado.

Especialistas ouvidos pelo Observer acham que esse caso poderá trazer mais danos para Downing Street do que o inquérito Hutton, se os advogados de Katharine conseguirem levar ao processo a questão da legalidade da guerra ao Iraque – e o procurador-geral da Grã-Bretanha, lorde Goldsmith, for obrigado a revelar, enfim, o parecer que preparou a pedido do governo sobre os aspectos legais da invasão do Iraque.

Em liberdade sob fiança, Katharine não nega estar envolvida no vazamento.

Diz que apenas fez o que a sua consciência mandou. Já seus advogados deverão invocar a rara figura jurídica da ‘defesa da necessidade’ – a de tentar impedir, com a divulgação de um intento criminoso, ‘a matança em ampla escala de civis iraquianos e de forças britânicas no curso de uma guerra ilegal’.

O ato de Katherine tem um precedente célebre. Em 1971, o consultor Daniel Ellsberg entregou ao New York Times os quatro volumes do estudo sigiloso sobre três décadas de envolvimento americano no Vietnã, que se tornaria conhecido como Os Documentos do Pentágono. O governo Nixon quis condenar Ellsberg por furto, traição e conspiração. O processo foi arquivado. Hoje ele integra um grupo de apoio a Katherine Gun nos Estados Unidos. Luiz Weis é jornalista’

 

Fábio Zanini

‘Juiz livra Blair e culpa BBC no caso Kelly’, copyright Folha de S. Paulo, 29/01/01

‘O aguardado relatório judicial sobre a morte do cientista britânico David Kelly, divulgado ontem, inocenta o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, de conduta ‘desonrosa, oculta ou duvidosa’ no episódio e ataca duramente a rede de comunicações estatal BBC por ‘conduta falha’.

A acusação levou o presidente da BBC, Gavyn Davies, a pedir demissão do cargo ontem.

Em pronunciamento de mais de uma hora na TV, lorde Hutton, juiz da Corte Suprema responsável pelo inquérito independente, afirmou que não tinha fundamento a acusação da BBC de que Blair tornou ‘mais sexy’ o dossiê sobre as armas de destruição em massa iraquianas para justificar a invasão ao país.

Kelly, assessor do Ministério da Defesa, foi encontrado morto em 18 de julho passado, em um bosque perto de sua casa. Hutton disse confiar na versão policial de que ele teria se suicidado.

Cerca de uma semana antes de sua morte, Kelly fora identificado pelo Ministério da Defesa como sendo a fonte de reportagem veiculada em maio de 2003 no programa de rádio ‘Today’, na qual o jornalista Andrew Gilligan, correspondente da área de defesa da BBC, alegou que o governo havia inflado seu dossiê sobre o Iraque.

O suicídio de Kelly foi atribuído à pressão que ele teria sentido após ter tido seu nome revelado como fonte da reportagem.

Segundo Hutton -que desde o início da investigação, em agosto, entrevistou 74 testemunhas, incluindo Blair-, o governo decidiu revelar que o cientista era a fonte da reportagem por ‘receio de ser acusado de esconder informações’, pois o nome ‘viria a público de qualquer maneira’.

Em fala ao Parlamento após a divulgação do relatório, Blair exigiu uma retratação da BBC: ‘Eu simplesmente peço àqueles que fizeram essas acusações e as repetiram durante todos esses meses que as retirem completamente’.

Mas Blair não ficou totalmente livre de críticas no relatório de 328 páginas. O magistrado concluiu que a intenção do premiê de reunir um dossiê convincente sobre a necessidade de ir à guerra contra o Iraque pode ter ‘subconscientemente influenciado’ os serviços de inteligência a utilizar uma linguagem mais forte do que teriam usado em outra situação.

Mas o juiz rejeita a possibilidade de o dossiê ter incluído dados que os serviços de inteligência sabiam ser falsos ou pouco confiáveis.

Além disso, segundo o juiz, o Ministério da Defesa deveria ter tido o cuidado de informar Kelly de que seu nome viria a público. O cientista é criticado por ter rompido o código de conduta dos servidores públicos ao ter conversas não-autorizadas com jornalistas.’

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‘BBC falhou, diz juiz’, copyright Folha de S. Paulo, 29/01/01

‘As críticas mais severas ficaram mesmo para a BBC. A reportagem do jornalista Andrew Gilligan, que acusava o governo de ter exagerado na afirmação de que o Iraque poderia atacar em 45 minutos com armas de destruição em massa, ‘não tem fundamento’, segundo Hutton.

O juiz disse que não era possível ter certeza sobre o que Kelly e Gilligan conversaram, mas disse estar convencido de que o cientista não afirmou ao jornalista que o então assessor de comunicações de Blair, Alastair Campbell, seria a pessoa responsável por incluir a afirmação no dossiê.

‘O sistema editorial da BBC foi defeituoso porque permitiu que a reportagem de Gilligan fosse ao ar sem que os editores tivessem visto o que ele diria’, disse o juiz. Para Hutton, a BBC falhou ao não examinar as anotações da entrevista com Kelly e não investigar as ações de Gilligan corretamente.

O diretor-geral da BBC, Greg Dyke, desculpou-se, mas disse que nunca havia acusado o primeiro-ministro de ter mentido.

‘A BBC reconhece que algumas das acusações-chave citadas por Gilligan eram falsas, e nos desculpamos por isso’, declarou. ‘No entanto nós queremos mencionar novamente que em nenhum momento nos últimos oito meses acusamos o primeiro-ministro de ter mentido e dissemos isso publicamente em várias ocasiões’, prosseguiu Dyke.

Anteriormente, a corporação já havia anunciado uma revisão em seus procedimentos internos de checagem. Nos dias que precederam a divulgação do relatório, segundo a Folha apurou, os funcionários foram orientados a cobrir o caso de maneira objetiva e imparcial e a não dar entrevistas. Essa tarefa ficaria a cargo da assessoria de imprensa da empresa.

Também foi restrita a prática de jornalistas da BBC de contribuírem com outros veículos de comunicação.

Após a divulgação do relatório, a família do cientista afirmou que ‘o governo deve adotar medidas para evitar que o sofrimento de Kelly se repita’.’

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‘Documento vaza e tablóide antecipa principais pontos’, copyright Folha de S. Paulo, 29/01/01

‘O tablóide britânico ‘The Sun’ antecipou os principais pontos do relatório Hutton em sua edição de ontem e deve ser processado pelo juiz.

O relatório fora entregue por Hutton a Tony Blair, à BBC e à família de David Kelly anteontem à tarde, com o compromisso de que não fosse divulgado até a leitura oficial. Os líderes dos principais partidos de oposição, Michael Howard (Conservador) e Charles Kennedy (Liberal Democrata) receberam cópias às 6h de ontem. Todos tiveram de assinar termos responsabilidade.

Pela manhã, analistas políticos chegaram a duvidar da veracidade da reportagem. Mas, quando ficou claro que o jornal tinha acertado em tudo, os protestos começaram.

O magistrado afirmou que o vazamento era ‘deplorável’ e que iria considerar a adoção de medidas contra o jornal e contra a fonte das informações.

Um porta-voz de Blair declarou que o premiê estava ‘muito irritado’ com o vazamento. A oposição pediu que fosse aberto um inquérito para apurar responsabilidades. O editor politico do jornal, Trevor Kavanagh, disse que uma ‘fonte’ relatou o teor do dossiê.’

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‘Blair sai ‘manchado’, mas BBC perde mais’, copyright Folha de S. Paulo, 29/01/01

‘O fato de o relatório Hutton ter inocentado Tony Blair de ‘conduta desonrosa’ não significa que sua imagem aos olhos da opinião pública vá melhorar sensivelmente, na opinião de analistas ouvidos pela Folha. ‘Diria que o primeiro-ministro sai enfraquecido do episódio, apesar de ter sido poupado’, disse Rodney Barker, especialista em política britânica da London School of Economics.

Segundo ele, a imagem de Blair como pouco confiável e obcecado por publicidade já está consolidada em pelo menos metade do eleitorado, principalmente após a invasão do Iraque.

‘Uma mancha a mais num terno sujo não faz diferença. Mas a primeira mancha num terno branco conta bastante. O Iraque deu a Blair sua primeira mancha, ele não é mais o que era há um ano’, afirmou.

Iain McLean, professor de política da Universidade de Oxford, afirma que a credibilidade de Blair pode ter uma ‘ligeira melhora’. ‘Mas não acredito que seja muito expressiva, certamente não voltará aos padrões anteriores.’

Ele afirma, no entanto, que o fato de Blair ter saído do episódio muito melhor do que se imaginava, aliado à sua vitória, anteontem à noite, em uma controversa votação sobre educação, o fazem ‘muito mais forte eleitoralmente do que há 24 horas’. ‘Não há dúvida de que ele disputará a próxima eleição e a vencerá’, afirmou.

Para a BBC, os efeitos podem ser mais problemáticos. Na opinião de Daya Thussu, estudioso de mídia do Goldsmith College, a idéia de que deve haver um maior controle sobre a BBC vai sair fortalecida. ‘A BBC errou no episódio, sem dúvida, e existe uma campanha política e empresarial contra ela que deve se acirrar.’

Em 2006, o estatuto da instituição deverá ser revisto. Uma das medidas que podem ser alteradas é o valor da licença obrigatória, equivalente a cerca de R$ 570 por ano, que todo proprietário de aparelho de TV no Reino Unido deve pagar unicamente para sustentar a rede estatal de rádio e TV.

‘A autonomia da BBC está em jogo. Se a licença for diminuída, a empresa vai se fragilizar face a um mercado agressivamente competitivo’, afirmou o professor.

Thussu cita o magnata australiano Rupert Murdoch, dono da principal concorrente da BBC, a Sky TV, como um dos maiores interessados na fragilização do serviço público.

Thussu não acredita, no entanto, que a BBC tenha sofrido um golpe mortal em sua credibilidade. ‘A BBC tem décadas de tradição em jornalismo de qualidade’, afirmou.’

 

Simon Jenkins

‘Triunfo do Estado paranóico’, copyright O Estado de S. Paulo / The Times, 31/01/01

‘O presidente do conselho e o diretor-geral da BBC renunciaram. A empresa fez um humilhante pedido de desculpas ao primeiro-ministro Tony Blair e sua equipe. A vitória de um Estado paranóico sobre as críticas da mídia foi completa. Não foi baseada nos fatos. Foi produto dos cálculos do poder. O juiz Brian Hutton não agiu com um tribunal de justiça, mas foi uma aposta de alto risco para esconder o constrangimento de Blair com seu serviço de informações sobre o Iraque, que envolveu a BBC em um suicídio. A aposta funcionou.

Nesta semana, o Senado americano ouviu do inspetor de armas David Kay verdades desagradáveis sobre essas informações. Neste ínterim, os britânicos estão vivendo uma realidade bem diferente. Hutton parece ter se assustado quando confrontado com a verdade sobre as armas de destruição em massa do Iraque. Concedeu a si mesmo termos de referência tão estreitos, de maneira a excluir a consideração da sua significância.

Ele declarou ‘infundadas’ as afirmações do ex-repórter da BBC Andrew Gilligan de que Downing Street tinha ‘esquentado’ o dossiê do serviço de informações. ‘Infundada’ na verdade foi a insinuação dele de que a emissora ‘provavelmente sabia’ que a reportagem desmentindo os 45 minutos – necessários, segundo o governo, para Saddam Hussein usar suas armas de destruição – era mentirosa. Quanto à insinuação posterior de que ministros e autoridades do governo tinham uma conspiração para ‘deixar vazar’ o nome de Kelly, isso não era verdade.

Hutton pareceu totalmente indiferente aos indícios esmagadores de que a essência da reportagem de Gilligan estava correta – de que membros da comunidade de informações estavam de fato preocupados com o uso do material deles como propaganda política. A despeito da avalanche de e-mails, faxes e memorandos destinadas a reforçar o dossiê, sua aprovação fez desaparecerem todas as acusações de ‘exagero’ por parte do serviço de informações.

Depois que Gilligan se demitiu e pediu desculpas pelo ‘deslize’, ninguém alegou que Blair tinha mentido sobre as armas de destruição em massa. A sugestão de que Saddam talvez usasse suas armas somente se atacado foi censurada. Blair devolveu à sua origem o implausível e desde então tem desacreditado a ‘ameaça’ de 45 minutos repetidas vezes.

Hutton estava nitidamente frenético para transformar um dossiê que, como disse um colega, não contém ‘nada que demonstre qualquer ameaça, quanto mais uma ameaça iminente’.

A absolvição da forma como o governo lidou com David Kelly é igualmente bizarra. Negar qualquer conspiração ‘ardilosa’ para ‘denunciá-lo’ na imprensa desafia as evidências. Talvez Hutton simplesmente não tenha conseguido acreditar que os servos de sua majestade pudessem nem sequer falar em ‘deixar vazar o nome da fonte’ ou decidissem prejudicar Gilligan.’