Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Zanin Oricchio

‘Dá para inovar no mais batido dos gêneros da TV, o talk show? A aposta numa resposta positiva levou o ator Selton Mello a aceitar o convite do Canal Brasil e comandar o novo programa, Tarja Preta, que vai ao ar nas quartas-feiras, às 23 horas e dura cerca de 30 minutos. Para o primeiro, aquele que é o cartão de visitas para o público, o ator convidou o colega Paulo César Pereio. A amostra é convincente.

Na verdade, dos quase 30 minutos, 10 foram gastos na apresentação do próprio programa e do apresentador. Uma introdução, aliás, que nada tem de convencional, mas procurou deixar clara a opção, digamos assim, underground da nova atração. Selton é mostrado em dúvida existencial sobre se aceita o desafio ou não, consulta um estranho guru, só faltar jogar búzios para decidir se encara a parada. Dúvidas retóricas, claro, porque a aceitação já está implícita. Mas essa introdução vale porque traduz o espírito da coisa:

Selton irá pela linha do não-convencional, pela margem, pelas frestas, talvez tentando buscar, do cinema, aquilo que menos se acomode ao mercado, ao mainstrean, ao comportadinho.

Vale aqui uma digressão. Selton Mello, ator conhecido da Rede Globo, trabalha no mais recente filme do diretor paulista Carlos Reichenbach, Garotas do ABC. Faz o papel de um jovem neonazista e apaixonou-se pelo tipo de cinema proposto por Carlão. Um cinema inconformista, que tem suas raízes em propostas anarquistas e cozinhado em fogo às vezes nada brando na antiga Boca do Lixo do cinema paulistano. Selton tem dito em entrevistas que seu filme de cabeceira é O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, pérola exótica nascida e ambientada justamente na Boca. Por isso, na apresentação, Selton se pergunta: ‘Será que vão me deixar mostrar isto?’ E o que vemos é uma cena debochada do Bandido, encenada pelo cômico Pagano Sobrinho no papel de um político populista.

E, sendo esse o espírito proposto, ninguém melhor do que Paulo César Pereio para ser o primeiro entrevistado. Pereio, todo mundo conhece, não tem papas na língua, ainda mais agora que deixou de beber. Não hesita em responder a qualquer pergunta, do tipo: ‘Qual filme você se arrepende de ter feito?’ Na bucha: ‘Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia’, de Hector Babenco. As perguntas e respostas são entremeadas de boa pesquisa de imagens, o ritmo é ágil, sem preocupação com padrões de qualidade que acabam por esterilizar propostas. A primeira amostra foi boa. E os próximos papos prometem, já que entre os convidados estão Maria Gladys, Carlos Vereza, Milton Gonçalves e Stepan Nercessian. Gente que não fica travada nem diante de jornalistas, quanto mais quando fala para um colega de profissão como Selton.’



FAMA
Beatriz Coelho Silva

‘Globo injeta mais voyeurismo no novo ‘Fama’’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/05/04

‘Saem os candidatos a celebridade instantânea e entram os que querem viver de arte. A terceira edição de Fama, reality show sobre a formação de cantores, começa no dia 5, logo após o Caldeirão do Huck. Os 14 candidatos, porém, já vão se reunir do próximo sábado em diante.

Angélica continua no comando, mas sem Toni Garrido. O programa terá dez edições.

Há muitas novidades, a começar pelo novo diretor de núcleo, Boninho, que deu ao programa um jeito mais Big Brother. A casa será a mesma, reformada – mas não muito – para abrigar os candidatos a estrelas da canção popular, pois o Fama 3 terá sua pitada de voyeurismo. ‘Vamos mostrar a convivência dos candidatos, pois isso prende a atenção do público e explica quem são eles’, adianta a editora-chefe do programa, Fernanda Scalzo, que faz o mesmo no BBB. Além da edição semanal, haverá flashes diários na Globo, um programa de 25 minutos, no Multishow e acompanhamento em tempo real pelo site Globo.com.

A estrutura também mudou. Reduziram-se os professores a sete e os candidatos foram para 14, vindos de oito Estados e com idade por volta dos 20 anos – embora haja um de 35 anos e três com 18. Todos têm experiência, geralmente cantando na noite, mas só três se apresentam como profissionais. ‘Nosso critério de avaliação foi a qualidade e a personalidade artística dos 25 mil inscritos’, explica o diretor-geral, Carlos Magalhães, companheiro de Boninho desde o primeiro BBB. ‘E os jovens predominaram porque foram maioria entre os candidatos ao Fama.’

A seleção ficará a critério só do público, para empolgar mais . ‘Jurado escolhe pela técnica e o público, pela emoção’, teoriza Boninho. Mas haverá uma diferença fundamental. Se antes o repertório era imposto, agora os candidato escolherão o que cantar, assistidos por quatro produtores musicais da Rede Globo, sob o comando de Mariozinho Rocha, diretor musical da emissora. ‘Vimos com a experiência que é melhor deixar cada cantor escolher o repertório, rende mais assim’, explica.

O vencedor só fará disco se interessar a alguma gravadora, mas terá como prêmio a produção de um grande show e a poderosa mídia da Globo para divulgá-lo.

Vai adiantar? O novo cantor ou cantora será sucesso como as meninas do Rouge, reveladas num programa semelhante do SBT ou desaparecerão como Vanessa e Tiago, vencedores das primeiras edições do Fama? ‘Impossível prever, não há regra para o sucesso’, diz Mariozinho. ‘Aliás, se eu soubesse quem vai estourar, não o traria para o Fama, contratava de uma vez.’’



Cláudia Croitor

‘Globo tenta levantar carreira de ‘Fama’’, copyright Folha de S. Paulo, 30/05/04

‘Pense rápido em cinco nomes de ex-participantes do ‘Big Brother Brasil’ -não vale ser da última edição. Fácil? Agora tente se lembrar de cinco aspirantes a cantor que participaram do ‘Fama’. É tarefa bem mais difícil…

Com uma audiência que pode ser considerada satisfatória para o horário (médias de 15 pontos no Ibope, nas tardes de sábado), mas com uma repercussão que passou longe da desejada pela emissora em suas duas primeiras edições, o ‘reality show’ musical ‘Fama’ volta ao ar na Globo no próximo sábado, com reformulações. O objetivo é tentar aproximar mais do público o programa e seus participantes, que tentam a carreira de cantores profissionais.

Com exceção de Vanessa Jackson, vencedora do primeiro ‘Fama’ -que até hoje faz cerca de nove shows por mês- e do cantor Thiaguinho, do ‘Fama Bis’, hoje vocalista do Exaltasamba, praticamente todos os participantes das duas edições do programa voltaram para o anonimato.

‘Não fomos muito procurados pela imprensa, não gravamos disco e quase todo mundo voltou a fazer o que fazia antes do programa’, diz David Fantazzini, que retomou a carreira de cantor gospel -mas teve que esperar um ano para gravar seu CD evangélico, já que os participantes do programa tinham contrato de exclusividade com a gravadora BMG. ‘Isso me prejudicou, fiquei um ano preso e sem poder fechar com gravadoras que me procuraram.’

Fabio Nestares, colega de programa de Fantazzini, também só conseguiu gravar seu primeiro CD, pela Universal, quase um ano e meio depois do fim do programa. Nesse tempo, gravou apenas uma música para a trilha da novela ‘Chocolate com Pimenta’.

Pela BMG, os participantes de ‘Fama’ gravaram CDs com as músicas que cantavam nos programas -os oito discos lançados pela gravadora venderam juntos pouco mais de 350 mil cópias. A Folha apurou que cada participante do programa ganhou cerca de R$ 1.300 pelas vendas.

Isso vai deixar de existir nesta terceira edição. ‘Porque impossibilita o artista de fechar contratos com outras gravadoras que estejam interessadas’, afirma J.B. de Oliveira, o Boninho, responsável pela reformulação que ‘Fama’ sofrerá em sua terceira edição.

Diretor das quatro bem-sucedidas edições de ‘Big Brother’, ele levou toda a equipe do ‘reality show’ para ‘Fama’. Até a casa do ‘BBB’ vai se transformar na ‘academia’ onde os integrantes do programa passam a morar e ter aulas. ‘Não dá para comparar esta com as outras edições de ‘Fama’. Evoluiu, é outro conceito; um programa diferente’, diz.

A principal mudança vai ser um aumento significativo na participação do público: os telespectadores, e não mais um júri, vão dar notas e eliminar os participantes através de telefone e internet, tal qual acontece no ‘BBB’.

‘A opinião de jurados nem sempre combina com a do público, já que eles vêem aspectos mais técnicos, e os telespectadores votam baseados na emoção, na empatia com os concorrentes. Com o voto popular, o objetivo é criar uma identidade maior com o programa’, diz Boninho.

É o que acontece, por exemplo, com o americano ‘American Idol’, exibido no canal pago Sony. Apesar de recentemente ter tido seu sistema de votação questionado -milhões de votos estariam deixando de ser computados-, o programa criou uma verdadeira comoção nos EUA, e o canal já prepara sua quarta edição.

Cerca de 28 milhões de americanos paravam semanalmente para torcer pelos concorrentes a novo ‘ídolo americano’, colocando o programa na lista dos mais vistos do país. Entre os participantes, houve até um deles indicado ao Grammy deste ano. No Brasil, ‘American Idol’ é o programa mais assistido entre o público de 18 e 49 anos no seu horário.

O espanhol ‘Operación Triunfo’, criação da produtora holandesa Endemol que deu origem ao ‘Fama’, também foi bem-sucedido ao lançar seus participantes ao estrelato. O vencedor da primeira edição, David Bisbal, venceu o Grammy Latino em 2003 como artista revelação e seu CD teve 1 milhão de cópias vendidas.

A marca é semelhante à das vendas do primeiro CD do grupo Rouge, formado pelo ‘reality show’ ‘Popstar’, do SBT. Com índices de audiência não muito altos, o programa teve uma repercussão enorme e em sua segunda edição lançou a versão masculina, Br’Oz, que já ultrapassou os 320 mil discos vendidos -quase dez vezes o que vendeu o disco de Vanessa Jackson, do ‘Fama’.

‘É difícil dizer quem vai ou não prosperar na carreira’, diz Mariozinho Rocha, produtor musical da Globo. ‘Mas vamos apostar mais nas características individuais de cada participante.’’