‘Negócio de ouvinte, ouvinte não paga as minhas contas.’ (De uma diretora de rádio no Ceará)
Na frase acima temos uma idéia exata de como o ouvinte é tratado no estado do Ceará pelos que se dizem proprietários de rádio. A afirmação soa de forma extremamente dolorosa para aqueles que têm pelo rádio e pelas emissoras amor, boa-vontade e esperança de programação com temas edificantes e respeito aos seus usuários. Nos dias de hoje, a interatividade e a opinião dos usuários ou consumidores é uma característica do modelo empresarial moderno que, infelizmente, ainda não chegou ao rádio, pois parece-nos que o modelo de gestão deste meio de comunicação ainda beira o modelo de capitanias hereditárias ou de monarquia vitalícia.
As concessões de rádio em nosso estado, e talvez em todo Brasil, têm sido dadas simplesmente aos que têm dinheiro e prestígio político, o que faz com que este meio seja utilizado de forma a garantir e perpetuar os interesses políticos e econômicos dos que dominam o poder. No jogo do poder, vale tudo para permanecer no domínio e o rádio é um bom meio para isso. Os ouvintes não têm sido respeitados ou participado do processo de escolha dos programas ou de opinião acerca das emissões e sua mensagem, da qualidade de som ou de qualquer assunto referente ao rádio.
Justiça social e cidadania
O que vemos no rádio é a passividade e o conformismo da classe de radialistas, que não tem tido qualquer tipo de mobilização para evitar que seus companheiros saiam do rádio por não poderem pagar horário, pois a sensibilidade dos empresários é sempre pequena e faz com que muitos não empreguem verbas publicitária na mídia rádio, fazendo com que bons programas que muitos dizem não atingir o povão saiam do ar simplesmente pela falta de arrendamento.
Quando os ouvintes se organizaram, há cinco anos, e criaram uma associação para defender seus direitos, muitas foram as agressões a essa prática e muitas foram as críticas ao processo organizativo dos usuários do rádio. Para que uma organização de ouvintes? Isso é besteira! São estas as impressões dos que fazem o rádio sobre este grupo que quer apenas ter o direito de participar, de opinar e lutar por um rádio melhor, pela conquista de novos ouvintes, pela organização das programações, pela melhoria da qualidade de som e mensagens, pela democracia no rádio, pela valorização dos que fazem o rádio. No entanto, estes objetivos não estão inseridos na pauta dos proprietários de rádio (são proprietários mesmo) que preferem fazer do rádio uma máquina de render dinheiro não importa como e por que meios.
Os ouvintes continuam em luta, porém há muito o que fazer, pois a incompreensão, o desrespeito, a agressão, o desdém têm sido os mecanismos para destruir esta luta que passa também por outra luta maior, que é a conquista da justiça social e da cidadania. Que pecado cometeram os usuários de rádio ao se organizarem em prol de sua melhoria? Por que suas vozes não são ouvidas? Por que os outros segmentos ligados ao rádio não se agregam a esta luta e não promovem medidas cooperativas para o fortalecimento da luta?
Sem sal e sem finalidade
Muitas das perguntas anteriores ficarão sem respostas, pois os que estão no rádio vão preferir silenciar, ao invés de debater a verdadeira posição e o papel de cada um no fortalecimento de um meio de comunicação que tem história, merece respeito e precisa de uma ação firme de todos em prol de seu crescimento e fortalecimento. É sempre bom que haja respeito às formas de organização popular e a Associação de Ouvintes de Rádio é uma forma de crescimento do povo, pois quanto mais o rádio crescer, melhor será o desenvolvimento da sociedade e o fortalecimento dos ideais cidadãos. O crescimento do rádio e seu desenvolvimento vão contribuir, certamente, para um mundo melhor, eivado de democracia e práticas ativas de crescimento da solidariedade, do respeito mútuo e da construção de um mundo melhor para todos indistintamente.
Precisamos fortalecer o rádio não só pelos objetivos financeiros, mas, sobretudo, pelo seu papel, que teve e sempre terá no crescimento da sociedade e na melhoria da vida do povo. O rádio sem participação, sem respeito ao ouvinte, sem valorização dos seus profissionais e melhoria técnica, soa como um elemento amorfo, sem sal e sem finalidade. Esta luta é de todos e para fortalecê-la é importante colaborar para o crescimento da organização dos ouvintes em forma de associação e repetir esta idéia em todos locais e em todos os meios de comunicação.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará