A imprensa esportiva aprontou uma grande confusão às vésperas das finais do Campeonato Brasileiro de Futebol. Ao dar seqüência à notícia de que o juiz escalado para apitar o jogo decisivo entre o São Paulo Futebol Clube e o Goiás Esporte Clube, Wagner Tardelli, poderia ter sido involuntariamente envolvido numa tentativa de manipulação do resultado da partida, a imprensa prestou o serviço de tornar pública a fragilidade do sistema de arbitragem do esporte nacional. Mas ao publicar sem qualquer critério a fartura de declarações que se seguiu à substituição do árbitro, sem agregar ao noticiário informações originadas em investigação, a imprensa acaba por lançar ainda mais dúvidas sobre a lisura da competição.
A partida decisiva foi vencida pelo São Paulo com um gol irregular, cuja gravação foi inúmeras vezes repetida pelas emissoras de televisão. Alguns comentaristas lembraram que o juiz de linha, o chamado bandeirinha, fazia parte da equipe original colocada sob suspeição, e isso foi suficiente para manchar a conquista da equipe paulista. Os jogadores do Grêmio de Porto Alegre, que terminaram como vice-campeões, deram a volta olímpica após sua vitória contra o Clube Atlético Mineiro, declarando-se campeões morais.
As edições de praticamente todos os jornais de circulação nacional e a do gaúcho Zero Hora noticiavam na segunda-feira (8/9) o desfecho do campeonato e destacavam a polêmica iniciada com a suspeita de ‘arranjo’, agravada pela validação do gol irregular que deu a vitória e o título à equipe paulista. O Globo escreveu na primeira página: ‘Em meio a polêmica, São Paulo é tri com gol em impedimento’. Os programas esportivos da televisão, quase todos montados em torno de bate-bocas entre comentadores sem compromisso com as pertinências do jornalismo, elevaram a temperatura sem acrescentar informações que ajudassem o leitor a julgar por si mesmo os méritos do time campeão.
Opinião berrada
Com os sinais invertidos, repete-se o que se passou na final do campeonato de 1995, quando o Botafogo se sagrou campeão na partida contra o Santos, com um gol que, segundo a imprensa paulista, fora marcado em condição irregular. Os jornais e os programas de comentários na TV e no rádio lembram também o campeonato nacional de 2005, vencido pelo Corinthians depois que a justiça desportiva anulou onze partidas, determinando que fossem realizadas novamente, por causa de um esquema de manipulação de resultados. Naquela ocasião, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho foi preso, acusado de atuar em favor de uma ‘máfia do apito’, influenciando resultados de jogos para aumentar os lucros de empresários envolvidos com sites de apostas.
A imprensa nunca se ocupou de identificar os chefes da tal máfia e investigar seus relacionamentos nas entidades esportivas e entre dirigentes das equipes de futebol. Depois disso, com a criação da Timemania, uma nova loteria vinculada ao futebol, hipoteticamente também se produziram as condições para a ação dos manipuladores de resultados, mas nenhum jornal se interessou em retomar investigações sobre o assunto.
Em 2008, mais uma vez o esporte predileto dos brasileiros é manchado por suspeitas de irregularidade e a imprensa, em vez de contribuir para esclarecer, ajuda a manter a poeira da desconfiança. Os debates na TV e no rádio, verdadeiros mafuás, nada acrescentam além de opiniões berradas ao microfone. Os sites especializados ainda não deram uma contribuição mais efetiva do que lembrar os escândalos anteriores. O período de férias nos clubes, que começa nesta semana, talvez pudesse ser uma oportunidade para colocar os repórteres na rua.
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Jornalista