Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mais um jornal sucumbe às mudanças do mercado

O Jornal do Brasil deixa de circular em papel. Os saudosistas lamentam o fato, mas na verdade o tradicional veículo já estava morto há vários anos. Só havia se esquecido de cair. Queiramos ou não, para os donos de jornais o jornalismo é apenas um negócio. E no mundo dos negócios é assim: produto que não vende sai de circulação. Empresário visa lucro e não pode se dar ao luxo de arcar com prejuízos.

O JB não será o único a deixar saudades. Outros veículos tradicionais estão na fila. Lembro, com pesar, o fim do Diário da Tarde. Era o segundo jornal dos Diários Associados em Minas Gerais. Circulou durante 70 anos, mas não dava lucro. De certa forma, concorria com o Estado de Minas, ‘o grande jornal dos mineiros’. O DT era campeão de venda nas bancas, enquanto o EM se salvava pelo número de assinantes.

O curioso é que fecharam o DT para criar um tabloide chamado Aqui. A estratégia era competir em termos de igualdade com a Sempre Editora, que havia lançado o Super Notícias. Primeiro desdenharam a ideia do concorrente. Diziam que o projeto inspirado no sucesso de veículos populares de outras praças não faria sucesso em BH, pois ‘o mineiro é diferente’.

Nem todos os jornais irão sucumbir

O Super Notícias acabou vingando, ao se tornar o jornal de maior vendagem diária no país. Aí, os Associados cresceram o olho naquela fatia de mercado. Resultado: enterraram o DT e aderiram à moda dos tabloides de R$ 0,25. O Aqui chegou a Brasília e a outras cidades mineiras. Seu preço de produção é bem menor que o do antigo DT. A não ser pelos quase 70 funcionários demitidos, pouca gente lamentou o fato. Talvez uma dúzia de leitores fiéis, que acabaram migrando para o Aqui ou seu concorrente.

Essa é a savana típica do mundo dos negócios em tempos de globalização. Nós, jornalistas, é que idealizamos o exercício profissional. Patrão, não importa o ramo de negócios, visa sempre ao lucro. Ninguém inaugura um hospital para salvar vidas, mas para ganhar dinheiro. O mote vale para igrejas, motéis ou… jornais. Curioso é que sempre falamos mal dos patrões, mas quando resolvem mudar de ramo, abrimos o bué. E haja lenço para enxugar tanta lágrima derramada em vão.

O fechamento de jornais como o JB, o DT ou mesmo a Gazeta Mercantil demonstra a mudança de paradigmas no mundo das comunicações. Nem todos os jornais de papel irão de fato sucumbir. Aqueles que se adaptarem à nova realidade mercadológica certamente sobreviverão às intempéries geradas principalmente pelas novas tecnologias da informação. Tais ferramentas devem ser vistas como aliadas, e não como adversárias do jornalismo.

Como iremos forrar gaiolas?

O problema é que o imediatismo patronal resulta numa visão arrogante, de curto prazo. Os empresários da comunicação parecem incapazes de fazer mea culpa. A indiferença com a realidade dos fatos, o péssimo nível de escolaridade da maioria dos brasileiros, bem como o crescente desinteresse pela leitura são os fatores que realmente impactam os veículos impressos. A grande maioria prefere a informação televisiva ou radiofônica, em vez do jornal ou revista de papel.

Outra parte dos leitores – aquela que tem pressa para ler notícias – migra cada vez mais para a internet. Afinal, para que ir à esquina comprar notícias de ontem se temos ao alcance dos olhos o noticiário de agora? E a leitura virtual tem a vantagem de não sujar as mãos com tinta à base de chumbo. E ainda economiza papel! Nesse sentido, os ecologistas agradecem aos inventores da internet.

Como já foi dito e redito, a saída para os impressos seria a análise dos fatos por especialistas e a prática do velho jornalismo investigativo. Mas as duas coisas custam caro, dão trabalho e dor de cabeça, podendo ser feitas também nos meios eletrônicos. Portanto, como já tive oportunidade de afirmar em outros artigos, só não sei como faremos para forrar gaiolas daqui a alguns anos.

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Escritor e jornalista, Belo Horizonte, MG