‘Este ombudsman recebeu a seguinte mensagem do colunista de economia do iG, José Paulo Kupfer, a respeito de nota publicada aqui anteontem:
‘Acho que você tem razão, não em relação ao iG, mas à cobertura em geral. Aqui no iG, eu e o Nassif, que escrevemos sobre economia, temos nos esforçado para informar e analisar com cuidado e responsabilidade, sem cair nem no oba-oba nem na crítica ideológica ou preconceituosa.
Será que não mereceríamos uma ressalva do Ombudsman?
Parabéns pelo trabalho. Forte abraço.’
Agradeço a mensagem gentil de José Paulo Kupfer. De fato, ele tem razão: eu deveria ter ressalvado com mais clareza o trabalho de excelência de Kupfer e o de Luis Nassif. Posso estar errado também em relação ao trabalho de edição do iG. Vou aproveitar para tentar justificar opiniões mais gerais sobre a cobertura em geral.
O colunista, como demonstra seu texto mais recente, publicado há apenas vinte minutos, está atento, sim, à gravidade da crise ao constatar o ‘nocaute’ do Lehman Brothers:
Nos últimos dias, no entanto, acho que neste episódio da queda das bolsas, o olhar crítico e independente de José Paulo Kupfer não chegou a captar com antecipação a agudeza da crise.
Kupfer tem, por exemplo, escrito seguidamente em defesa de se dar o devido valor à economia real, como no trecho abaixo, publicado na quarta-feira:
Porém, em outro trecho, acaba caindo no otimismo:
Talvez esteja sendo injusto, talvez não fosse possível, pois afinal o jornalista não tem bola de cristal. Pergunto-me, porém, por que nós jornalistas quase sempre nos atrasamos na revelação desses diagnósticos para o público. Há quem diga que, em termos técnicos, o jornalismo mais rigoroso é o de economia, pois seus erros podem resultar em prejuízos para os leitores, mas será que isso é verdade neste e em outros casos?
Muitas vezes, os jornalistas de economia estão desinformados e recorrem a quem tem informação, especialmente para montar avaliações e cenários. A boa cobertura econômica é uma mistura de informação e análise independente, valorizada pela edição inteligente e aguda. Às vezes, obtendo informações sobre certas empresas e instituições, agimos com prudência, pois temos medo de precipitar corridas e afundar cotações, criando a tal profecia auto-realizável. Só que, enquanto isso, investidores trabalhando com cenários mais realistas e mobilizando capitais volumosos, estão se protegendo, quando não lucrando muito.
Já a massa dos desinformados, e por isso remediados, geralmente pequenos investidores, deixa-se iludir. Capturada, acaba despencando no abismo.
Esse mecanismo é alimentado pelos meios de comunicação. Ao menos algumas das fontes habituais dos jornalistas estão ganhando, por ideologia ou interesse, com a difusão e sustentação de certas expectativas. E isso à custa dos desinformados. Se há uma desigualdade na distribuição da informação verdadeira, isso tem a ver conosco. Essa discriminação não deveria ser alimentada pelo nosso trabalho, cujo objetivo é exatamente o oposto.
Kupfer e Nassif são exceções, não há dúvida, mas até os melhores se vêem envolvidos pela desinformação. Quem iria, por exemplo, duvidar das avaliações do ex-presidente do Banco Central americano Alan Greenspan, ao tempo em que ele, ex-catedra, dizia que o mercado dos títulos hipotecários americanos não apresentava qualquer risco? Nesse tempo, Greenspan estava no topo da pirâmide de formação da opinião econômica. Mesmo assim, nem todos o seguiram, como o sucesso do Goldman Sachs nesse episódio demonstra.
O fato de uma grave crise econômica está posto, o jogo não está nas mãos somente de grandes empresas. Ao mesmo tempo que se pede paciência ao investidor, é preciso situá-lo em prováveis cenários futuros. Isso é papel de analistas e repórteres de todo o jornalismo e econômico, inclusive o do iG.
Conclusão deste ombudsman: talvez eu esteja simplificando um processo bem mais complexo e sendo injusto. Na verdade, aproveitei o episódio para refletir sobre o uso a que o jornalismo econômico se presta por ter relação muito pouco crítica com as fontes de que depende. Em meio ao esforço para acertar nesse território traiçoeiro, Kupfer decidiu questionar e debater a cobertura econômica com este ombudsman, numa atitude coerente com a sinceridade que demonstra em seu trabalho.
A mídia inocente
No ano em que o Lehman Brothers procura (e não encontra) um comprador para sair da crise, reconhecidas publicações de economia deram ao banco de investimentos vários prêmios.
Como informa o site da Lehman Brothers, em março, a Busisness Week elegeu o banco uma das melhores 50 companhias em desempenho. Em maio, foi a vez do The Wall Street Journal premiar analistas do banco. E em julho, a Euromoney escolheu a instituição como a melhor em transações financeiras com a nova potência China.
Pouca moda em Nova York
A Semana de Moda de Nova York já está no último dia, mas foi pouco destacada pelos portais brasileiros. Mesmo o iG, com um material bem variado e abrangente, produzido por seus vários sites e parceiros, deixou o assunto com pouco destaque na capa.
O site Chic, de Glória Kalil, o RG Vogue, o SPFW e a colunista Erika Palomino têm publicado relatos, análise das tendências e bastidores do evento. As fotos são sempre muito atraentes e deveriam aparecer mais nas capas do iG e até do Último Segundo, pois trazem informação relevante, como não? Investimento editorial pesado no assunto ficou restrito à página de Moda e a um pequeno box – não-fixo – na home.
Grandes costureiros participam da semana, inclusive alguns brasileiros, mas o que interessa é informar as novidades da moda global que se mostra em Nova York.
Além das eleições
Caprichada a análise fashion de Michelle Obama e Cindy McCain feita pelo Chic. As esposas dos candidatos à presidência americana também participam da disputa para saber quem pode tornar-se referência da moda como a ex-primeira dama Jacqueline Kennedy. É um material divertido e atraente, com ‘gancho’ para a semana de moda de Nova York, bem destacado pelo site e com chamada na capa na manhã de ontem.
Velocidade no celular
Às 13h de hoje, o iG Celular ainda mostrava manchete para o debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo ocorrido na noite de ontem. A página de Notícias do serviço, no entanto, está atualizada, com novidades de hoje, como a pesquisa sobre popularidade recorde do presidente Lula.
A atualização é demorada e o tema é paulistano, num serviço que vai bem além de São Paulo.
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Bolívia abalada (11/9/08)
Já passou da hora de o iG ter algum jornalista enviado especial à Bolívia. A situação exige uma testemunha que descreva, com o olhar do iG, o ‘caos’ no país vizinho.
Além do interesse político, a conjuntura boliviana pode ter influência direta na rotina dos brasileiros. É preciso reagir com rapidez aos fatos que se impõem, dando conta das necessidades jornalísticas que vão surgindo fora do previsto.
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Narrar o Big Bang (10/9/08)
Vários pequenos investidores brasileiros, leitores dos meios de comunicação brasileiros perderam dinheiro nas últimas semanas vendo torrar as economias que tinham investido em ações. Será que esses investidores, muitos deles novatos nesse tipo de aplicação, teriam visto suas economias virar pó se tivessem sido mais bem informados?
Uma coisa é certa: foi-lhes fornecido noticiário predominantemente cor-de-rosa sobre a economia brasileira. Ainda vigoram análises de que o Brasil é uma espécie de ilha de tranquilidade num mar revolto. Os investidores não foram suficientemente preparados para essa crise, tanto que entraram em manada no início do ano. Deveriam ter sabido melhor, pois contam com a mídia para isso. Isso era possível? Claro, informar bem é a obrigação dos meios de comunicação.
Agora, a bolsa brasileira toma um tombo após o outro. A partir de agora, é preciso mostrar os efeitos sobre a vida dos investidores, principalmente esses que acreditaram na alta e agora estão perplexos. É preciso fazer reportagens, mostrar a cara das vítimas da crise, pois acima de tudo a crise não tem a ver com números, mas com dramas humanos. Aos repórteres, um desafio: quem serão os narradores da face humana do novo crack econômico mundial e, talvez, brasileiro?
Começam agora a surgir análises revelando a possibilidade de o próprio Tesouro americano entrar em crise grave, após gastar US$ 200 bilhões de dólares para resgatar e estatizar as duas agências imobiliárias Freddie Mac e Fannie Mae.
A injeção de recursos foi tão gigantesca que equivale a quase 5% de todo o PIB dos EUA. Analistas mencionam ‘pneumonia’, ‘default’ e catástrofe, faltam adjetivos.
O desabamento já atingiu o Lehman Brothers, e já anuncia devorar bancos como Wachovia e Citibank. O iG tem feito acompanhamento de rotina do tema, que está sempre municiando os editores com assunto para suas manchetes.
Mas já passou a hora de transformar essa cobertura em tema muito mais especial. É preciso tomar a frente dos fatos, colocar a crise no foco, concentrar as notícias que chegam, juntar recursos editorias e humanos num esforço único.
É hora de pautar repórteres, agências e colunistas, para reagir com rapidez e lançar luz sobre as possibilidades que estão à frente. A economia é terreno de especialistas que fazem fortunas dominando as interpretações com base em informações que só eles concentram num primeiro momento.
O desafio do jornalismo, e do iG, é oferecer essas informações ao público com rapidez. Mais do que isso, é preciso fazer jornalismo com independência, pensando nos interesses e nas falhas daqueles que economistas e instituições que formam a opinião da cobertura econômica, hoje demonstrada inútil ou prejudicial para quem nela acreditou no passado, sejam investidores em ações no Brasil ou compradores de residências nos Estados Unidos.
Ortografia não muda a língua
Este ombudsman recebeu a seguinte manifestação do internauta Ricardo Meirelles sobre o Acordo Ortográfico adotado pelo iG desde domingo:
‘Vi esta semana que o iG colocou no ar uma página sobre o acordo ortográfico, e li que o portal já está seguindo as novas regras de grafia em seus textos.
Não discuto se é ou não oportuno adotar já as novas regras. O que gostaria de comentar é o material da página especial. A idéia é muito boa, mas alguns erros pontuais e outros de conceito comprometem o conteúdo.
Não naveguei por todo o conteúdo, mas percebi que na animação ‘O que muda com o Acordo Ortográfico?’ há um probleminha na apresentação sobre o Brasil. Após alguns cliques em ‘Próximo’, as informações começam a se repetir. Além disso, faltam informações na parte sobre acentuação e sobre o hífen — há mudanças previstas no acordo que não estão explicitadas na apresentação sobre o Brasil.
O que considero mais grave, porém, é a confusão que o iG faz entre mudança na ortografia e mudança na língua. Há vários trechos como ‘confira as novas regras da Língua Portuguesa’, ‘como surgiu a ideia de mudar a Língua Portuguesa’ etc. Mas a língua não vai mudar!! O que mudará é a grafia de algumas palavras. Tomar ortografia como ‘a língua’ é um grave erro de conceito — que corrobora pergundas equivocadas do tipo ‘vamos ter de falar linguiça, e não lingüiça?’, como se a alteração da grafia implicasse alteração na pronúncia.
Desse erro de conceito surgem erros de informação como o do subtítulo de ‘A história do acordo’: ‘A partir de 2009 entram em vigor as novas regras que prometem aproximar o português falado em Portugal e em outros 8 países, incluindo o Brasil.’ Ora, o acordo, como diz o nome, é ortográfico. Não vai alterar em nada o ‘português falado’ em país nenhum. Esse texto sobre a história do acordo está repleto de erros desse tipo.
É pena que um conteúdo que aparece de modo tão destacado no portal (pelo que vi, há sempre um título na home sobre isso) traga problemas graves como esses.’’