Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Menos confiança nos meios de comunicação

Os meios de comunicação foram a instituição brasileira que mais perdeu credibilidade entre 2009 e este ano eleitoral de 2010. Assim revela o Ibope, que, entre os meses de julho e novembro, ouviu 2.002 pessoas para compor o seu Índice de Confiança Social em 22 segmentos.

A queda foi de quatro pontos percentuais, de 71% para 67% dos entrevistados. Com esse deslize, a mídia caiu de quarto para sétimo lugar na avaliação geral e acabou ultrapassada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cresceu três pontos e alcançou 69% neste ano. O governo federal ainda não chegou a tanto, mas, em termos proporcionais, teve o segundo maior avanço, de seis pontos: agora, 59% julgam-no confiável. Perdeu apenas para o aumento na fé no sistema eleitoral, que saltou sete pontos, para 56%.

Com esses números, o Ibope – cujo presidente, Carlos Augusto Montenegro, afirmara em agosto de 2009 que Lula não faria de Dilma Rousseff (PT) sua sucessora – ratifica aquilo que se sente, inclusive, entre jornalistas: o quarto poder (?) está cavando sua cova.

Credibilidade na Argentina

Imprensa engajada, reportagens enviesadas, manchetes com evidentes exageros, notícias sem verificação consistente de dados, supervalorização de episódios esquisitos (como o célebre caso da bolinha de papel), inserção forçada de assuntos na agenda do país, com debates superficiais (o aborto, nem de longe, está entre as mais palpitantes questões nacionais; e, posto à mesa, teve como único tempero a polêmica quanto ao apoio e à rejeição da prática, não se deixando nem para a sobremesa a questão social e de saúde pública que representa).

Evidentemente, a gestão Lula não atingiu a perfeição, mas representou avanços inegáveis ao Brasil e reconhecidos, mesmo que de forma constrangida, até por adversários. Não pode ser diferente quando 87% de entrevistados aprovam o presidente e 80% avaliam a administração como ótima ou boa, como atestou o mesmo Ibope, em pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria e promovida entre os dias 4 e 7 de dezembro.

Entre nossos vizinhos argentinos, onde também se aferiu o Índice de Confiança Social, engordou ainda mais a credibilidade na presidência da República: de 29% para 52% num ano. Mas, apesar de terem perdido três pontos, os meios de comunicação ainda estão à frente, com 54%. A imprensa argentina e os Kirchner (desde o falecido ex-presidente Néstor e, hoje, com sua sucessora, a esposa Cristina) não têm uma convivência civilizada, por razões que valeriam outro artigo, de pessoas mais qualificadas, sobre o tema.

Família é instituição campeã

Por ora, a imprensa brasileira mantém a cantilena. Dilma Rousseff ainda não tomou posse e, nestes dias, houve quem definisse a equipe ministerial que escolheu como ‘medíocre, na pior das hipóteses’ (Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo, 22/12). Pode, até, não haver nomes tão conhecidos do grande público. Sim, parece desagradável que congressistas (re)eleitos sejam alçados à condição de ministros – o que não será tão ruim (para eles) em termos financeiros, pois o recente reajuste salarial aprovado por deputados federais e senadores equipara Legislativo e Executivo em enormidade de vencimentos básicos (visto que os legisladores dispõem de inúmeros sistemas de auxílio e reembolso de despesas que, indevidamente, complementam seus salários).

Isso, entretanto, não se dá somente em nível federal. Se os grandes jornais de São Paulo espiassem com o mesmo afinco as nomeações do governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB), também veriam deputados estaduais cogitados e confirmados para seu secretariado. E seriam críticos em seus editoriais, por exemplo, quanto à indicação, para a pasta de Transportes (muito lembrada por causa dos caros pedágios paulistas), de um neófito no assunto: o truculento Saulo de Castro Abreu Filho, antigo titular da Segurança Pública no primeiro governo do tucano, de 2001 a 2006.

Por essas e outras, talvez, a instituição campeã no Índice de Confiança Social é a família (91%). Mesmo alterada e por vezes sem união nem regras, ainda demonstra ser o local ideal para conversas e lavagem de roupa suja. Na mídia nacional, que se especializa em desqualificar o contraditório, as brigas costumam provocar cisões irreparáveis.

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Repórter, A Tribuna, Santos, SP