Em sua coluna de domingo [11/2/07], o ombudsman do New York Times, Byron Calame, trouxe ao debate as metodologias de pesquisa. O assunto surgiu por causa de um artigo publicado na capa do dia 16/1 sobre o fato de, provavelmente pela primeira vez na história dos EUA, haver no país mais mulheres vivendo sós (51%) do que com maridos. Tal afirmação só pôde ser feita porque o Times usou as informações do censo de 2005 que incluiu, no número de mulheres sem maridos, adolescentes de 15 a 17 anos – das quais cerca de 90% ainda vivem com os pais.
Grande parte da mídia americana deu destaque à considerável porcentagem de mulheres solteiras depois que o tema foi abordado por Sam Roberts, repórter veterano do Times que freqüentemente escreve sobre dados do censo. Poucos veículos questionaram a lógica de considerar para esta pesquisa mulheres adolescentes. Muitos leitores, inclusive aqueles que consideraram o artigo um ataque aos valores familiares, foram contra a inclusão de meninas de 15 anos. ‘Não é nem mesmo legal casar com 15 anos em alguns estados’, comentou um deles.
Vários problemas
A falha em explicar de maneira clara a metodologia da pesquisa foi apenas um dos lapsos jornalísticos que Calame encontrou na matéria. Segundo o ombudsman, o artigo só mencionou as faixas etárias pesquisadas no meio do texto. Os editores deveriam ter assegurado que a faixa etária pesquisada, levando em conta o destaque dado à notícia, fosse mais bem explicada na capa, antes da continuação do artigo no interior do jornal. No entanto, eles conseguiram piorar a questão – no rascunho escrito por Roberts, a primeira menção às idades estava no 10º parágrafo; após a revisão dos editores, ela só foi aparecer no 21º.
Além de ter aparecido tarde demais no texto, as informações sobre as idades eram ambíguas. De acordo com a matéria e com um gráfico que a acompanhava, as mulheres citadas tinham acima de 15 anos – ou seja, as de 15 estariam excluídas e somente as de 16 para cima seriam levadas em consideração. Depois da repercussão sobre o assunto, Roberts defendeu a inclusão das adolescentes de 15 anos, devido a comparações com pesquisas anteriores. O censo costuma incluir esta faixa etária há décadas, levando em conta que o casamento nesta idade já foi algo comum.
Uma maneira de evitar o problema seria subtrair a categoria de 15 a 17 anos e fornecer informações apenas de mulheres acima de 18 anos. Isto mostraria que 48% delas estavam vivendo sem maridos – perto dos 51% que incluiu as adolescentes. Se forem consideradas apenas as mulheres acima de 21 anos, este número cairia para 47%. Diante desta situação, o editor-executivo do Times, Bill Keller, decidiu se encontrar com uma equipe especializada em estatísticas para criar uma ‘rede a fim de ajudar a editar artigos que lidam com este tema’.