Seca e incêndios na Rússia, novas enchentes na China e no Paquistão, uma onda de frio varre o altiplano boliviano. São fatos isolados, coincidências ou aspectos diferenciados de um mesmo fenômeno?
Os cientistas ainda não se manifestaram, porém a imprensa poderia juntar numa página todas as calamidades naturais. O leitor agradeceria, o meio ambiente também.
A função da imprensa é contextualizar, juntar, analisar, explicar e advertir, qualquer que seja a plataforma utilizada, o papel ou o monitor. Para isso é indispensável um compromisso mínimo com a continuidade e a densidade da informação.
O jornalismo está se aproximando cada vez mais do espetáculo. Mas a própria condição de espetáculo requer cuidados especiais no tratamento da informação.
O noticiário fragmentado não produz interesse, não comove, não mobiliza nem produz reações. É inofensivo e descartável. E o jornalismo não foi inventado para ser descartável, ao contrário. É um serviço público garantido pela Constituição e que exige contrapartidas.
Agrado ao anunciante
Os eventos climáticos de grande intensidade que estamos testemunhando não podem ser tratados superficialmente nem casualmente, mesmo sem haver ligação aparente entre eles.
Os surpreendentes incêndios no interior da Rússia já criaram um perigoso encadeamento: o governo decidiu embargar a exportação de trigo e cereais, seus preços já subiram nos mercados internacionais, o espectro da fome volta a assustar o mundo.
Se a China atormentada por sucessivos dilúvios passa a priorizar a infraestrutura em detrimento da produção industrial, deixa de comprar commodities e isso prejudica os países produtores, entre eles o Brasil.
Se a mídia mantém a tática do avestruz para não inquietar suas audiências e agradar os anunciantes pagará por isso muito brevemente. O negócio do jornalismo não admite desatenção nem cegueira.