Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia apática, cobertura chuchu

Ao analisar a cobertura diária dos grandes jornais do país, sinto que estou vendo mais um jogo daquela insossa seleção brasileira que deu show de apatia na Copa do Mundo. Nossa mprensa parece estar mesclando o estilo da seleção com o do Geraldo Alckmin. A cobertura se transformou num grande picolé de chuchu. Sem gosto, sem graça, sem novidades, sem molho. Os veículos de comunicação se limitam a acompanhar a agenda dos candidatos e fazem as mesmas perguntas de sempre. Fazendo as mesmas perguntas escutam as mesmas repostas. E, convenhamos, isso já está enchendo o saco.

Ninguém procura uma abordagem diferente e não há um assunto polêmico no ar. Durante as entrevistas dos candidatos à presidência no Jornal Nacional, William Bonner e Fátima Bernardes até que tentaram encurralar os candidatos. Mas ficou uma coisa muito enjoada. As perguntas do Bonner eram gigantescas e ele acabava falando mais do que os entrevistados. No fim das contas, a sabatina do JN acabou não surtindo o efeito desejado. Agora, no Jornal da Globo, é a mesma coisa. O Alckmin professoral com seu ar de doutor e o Lula tentando gastar o tempo com suas enrolações.

Com essa cobertura que temos aí, é fácil fazer previsões. Difícil mesmo é fazer reflexões. Fica tudo muito escancarado. O quadro que a imprensa desenha para o (e)leitor é simples: Lula reeleito, Congresso Nacional com as mesmas figuras, algumas punições para sanguessugas do baixo clero e esquecimento das denúncias antigas de corrupção.

Fica bem nítido que a imprensa foi contaminada pelo sentimento de acomodação que tomou conta do país. Escândalos que antes deixavam queixos caídos hoje já não impressionam. A resignação é total. O sonho de um Brasil melhor e mais justo parece ter morrido com o Lula antigo. Aquele Lula deve ter sido o último suspiro dos brasileiros. O Brasil votou em Lula por acreditar que ele representava a diferença. Agora o Brasil vota e diz: ‘Corrupto por corrupto é melhor deixar o Lula’.

Mistura danada

Os únicos diferentes nessa campanha são Heloísa Helena, do Psol, e Cristovam Buarque, do PDT. Heloísa representa um sonho no qual os brasileiros cansaram de acreditar. Ela defende a bandeira da coragem. Mas a reformulação dos valores morais fez a coragem perder importância. Já Cristovam Buarque tem bonita obsessão pela educação. Ao repetir o tempo inteiro que a grande revolução é o investimento na educação, consegue fazer algumas pessoas refletirem sobre o assunto.

O problema é que são vozes solitárias. Os jornais não esquentam os debates, não abrem espaço a novas vozes. Nossa juventude está apática, nossos sindicatos estão cooptados, todo mundo aceitando de cócoras essa situação dramática do país. Carecemos de mais gente como o jornalista e escritor Fausto Wolf, que diz: ‘Eu sou comunista e se você é comunista, já está de um lado. O comunismo não é esse PPS aí, um partido Oscar Wilde, que não quer mostrar o nome. Sou comunista e creio que o homem deve ser feliz. Se na primeira vez não deu certo, na segunda vai dar’.

Atualmente não temos direita, não temos esquerda. Virou uma mistura danada. E a imprensa, que poderia ajudar a clarear as coisas, está cada vez mais fria. Não há polemistas de qualidade, não há novidades e continuam separando o joio do trigo… e o pior é que publicam o joio.

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Estudante de Direito, 24 anos, Campos dos Goytacazes, RJ