Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia beneficiária do `estado policialesco´

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi obrigada a fazer serão no último fim de semana. No sábado (6/7) desmentiu em nota oficial a matéria de capa de IstoÉ que apontava um ex-servidor do SNI como o araponga que teria grampeado os telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Francisco Ambrósio do Nascimento, ex-funcionário da Aeronáutica, está hoje aposentado e segundo a mesma nota não participou de qualquer atividade da Abin.


Tanto a matéria da IstoÉ como o desmentido são muito bem-vindos. Nos últimos anos, a imprensa brasileira acostumou-se a divulgar o teor dos grampos com a maior naturalidade, sem fazer qualquer esforço para identificar o araponga ou vazador – geralmente os mesmos. A imoral cumplicidade fazia-se sob o pretexto de servir ao interesse público.


O grampeador comete um ilícito e o vazador, outro e, juntos, mantêm a sociedade sob o manto da hipocrisia. O país converteu-se, assim, nesta gigantesca gramposfera simplesmente porque os responsáveis pela mídia partiam do princípio de que a importância da denúncia vazada justificava os meios escusos para obtê-la.


Cortina de silêncio


Grampos, dossiês e fitas eram publicados sem qualquer investigação ou qualquer esforço para identificar os responsáveis. E a mídia funcionava como um pool: nenhum veículo cobrava do outro. Ao contrário, todos se protegiam pensando na loteria que logo beneficiaria os demais com outros vazamentos.


A conversa irrelevante entre o ministro Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres acabou com a cínica justificativa e o grampo apareceu na sua verdadeira dimensão.


Durante muito tempo a IstoÉ foi o carro-chefe da ilicitude até que, há exatos dois anos, meteu-se na vergonhosa divulgação do falsificado Dossiê Vedoin. Agora tenta reabilitar-se. Sua matéria sobre as atividades do grampeador Francisco Ambrósio parece ter sido investigada. Se não é verdadeira, pelo menos inicia a quebra da cortina de silêncio que coloca a mídia como a maior beneficiária do chamado ‘estado policialesco’ em que se transformou o país.


 


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