Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Mídia é surrada pela notícia

Esse jornalismo de hipóteses que caracteriza o neojornalismo tupininquim não tem receio da desmoralização, do fato de diariamente tentar passar a perna nos seus leitores – tendo como testemunhas toda a internet.


Tome-se um caso. A diplomacia norte-americana se enrolou com o caso. A Secretaria de Estado Hillary Clinton adotou uma posição legalista no caso Honduras. Otto Reich, especialista americano da era Bush – influente, com participação na tentativa midiático-empresarial de tentar depor Hugo Chávez – conseguiu convencer parte do parlamento sobre o risco Zelaya. Houve um descompasso que levou o embaixador norte-americano na OEA a criticar Zelaya.


O que era um problema da diplomacia norte-americana – o de não ter uniformizado o discurso sobre o tema – foi colocado como uma crítica ao Brasil. Nem se cuidou de informar que a posição da Secretária de Estado era outra.


Agora, dia após dia vão surgindo sinais de que a posição diplomática brasileira – de firme condenação do golpe de Estado – era correta. Que a convocação do plebiscito serviu de álibi para um golpe de Estado, em que se tirou o presidente eleito sem sequer permitir o direito de defesa.


Jornalismo de hipóteses


Desde o início o Itamarati alertava que Micheletti não era confiável, que não se podia fiar na sua palavra. Por efeito pavloviano, toda essa brilhante mídia preferia ficar com Micheletti a dar crédito ao Itamarati.


Agora, toda essa armação, toda esse inacreditável jornalismo de hipóteses – endossado por dez entre dez comentaristas da mídia, em uma homogeneidade admirável – vai ruindo.


Na Folha Online (clique aqui), a afirmação de Micheletti de que Zelaya foi deposto por suas novas inclinações esquerdistas.


Na Folha impressa, entrevista do Sérgio D´Avila com o Secretário-Geral da OEA, endossando plenamente a posição brasileira:




‘A OEA (Organização dos Estados Americanos) está disposta a aceitar uma nova proposta de conciliação vinda de Honduras, desde que ela use como base o Acordo de San José, elaborado pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que prevê a volta de Zelaya, a manutenção das eleições para eleger seu sucessor e o abandono pelo presidente deposto da tentativa de promover uma Assembleia Constituinte considerada ilegal por Congresso e Justiça hondurenhos. A revelação foi feita pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, em entrevista na manhã de ontem por telefone à Folha.’


Ou seja, um marciano que chegasse à terra e lesse esses dias todos de jornalismo de hipóteses, concluiria que o Itamarati levou dez gols, não marcou nenhum e terminou vitorioso.

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Jornalista