Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia impressa não mete a boca no trombone

A mídia impressa rejeitou formalmente na semana passada qualquer embargo à divulgação de documentos oficiais. Fez bem, porque assim atendia ao seu compromisso em defesa da liberdade de expressão.

Falta agora uma manifestação formal, firme e inequívoca contra outra ameaça de silêncio, desta vez imposta pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para encobrir licitações e custos das obras para a Copa e Olimpíadas.

A opção dos veículos impressos em favor da transparência seria indispensável para desfazer a impressão de que a mídia funciona como um lobby compacto em defesa dos seus próprios interesses e não dos interesses da sociedade.

Embargos e sigilos

Quanto mais diversificada apresentar-se a mídia, melhor será a sua imagem; quanto mais divergências forem registradas entre a mídia impressa e a mídia eletrônica – notadamente a televisão –, mais confiáveis parecerão os jornais e revistas.

As redes de TV dependem da FIFA e do COI para sobreviver. A mídia impressa não depende de governos, muito menos da generosidade dos caudilhos do esporte mundial. E depois que aprendeu a levar a pauta esportiva para a capa e as páginas de opinião ganhou mais visibilidade e mais respeito dos segmentos jovens.

Se a repulsa aos embargos e sigilos conseguir empolgar os torcedores, terminará a era das mordaças.

 

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A cobertura da corrupção no esporte – Lilia Diniz

 

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E qual é a surpresa?

Juca Kfouri # reproduzido da Folha de S.Paulo, 19/6/2011

 

É espantoso como há quem se espante com as notícias em torno dos preparativos para que o país receba a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Como se todos não soubessem o que já era público e notório desde que o Brasil se candidatou a sediar os dois maiores eventos do mundo.

Ao anunciar a pretensão e ao responder aos chamados cadernos de encargos, o país, qualquer país, dos Estados Unidos à China, passando pela África do Sul e chegando ao Patropi, aliena sua soberania para a Fifa e para o COI.

E não é de hoje que é assim, razão pela qual tais entidades exigem garantias não de seus filiados, embora sejam esses os comandantes do processo, mas dos governos.

Ou alguém acha que a orgulhosa Alemanha cervejeira tomou o líquido norte-americano durante a Copa de 2006 em seus estádios sem tapar o nariz? Ou alguém ainda se escandalizará por aqui quando se der conta de que durante a Copa do Mundo cairá a lei que impede que se beba nos estádios, porque a mesma Budweiser continua patrocinadora da Fifa?

Daí não haver razão para maiores perplexidades quando se vê a poderosa ONU do futebol exigindo isenções de impostos e as obtendo sem resistência, diferentemente do que a verdadeira ONU logra. Ou quando o governo decreta sigilo nos gastos. Sim, não há segredo nem neste escandaloso segredo. E nem muito menos há por que estranhar que a Fifa recomende (determine) seus parceiros, seja para os gramados, para os badulaques ou para os seguros. Faz parte.

Ora, não fosse assim, por que os donos daquelas cadeiras na Suíça não querem deixá-las por nada, mesmo com tantas denúncias e apesar do asco da opinião pública? Será porque, ao mesmo tempo, são bajulados por empresários e políticos?

Há hoteleiros no Rio de Janeiro indignados com o quanto receberão do COI pelas diárias de suas luxuosas hospedagens durante a Olimpíada, todas destinadas aos VIPs da entidade. É coisa de 1/5 das diárias cobradas normalmente, independentemente do quanto o COI, transformado em agente de turismo, venha a receber.

E por que não reagem, não se negam, perguntará, com razão, o irado leitor? Porque temem ficar antipatizados na Cidade Maravilhosa, acusados de sabotar o grande evento, ainda mais em um Estado governado por quem chama bombeiros de vândalos.

Já imaginou a ira contra os hoteleiros?

E você, por que não reage?